À Escala Humana
Belfast
Por Catarina Moura
‘Hey lads, that’s not
the way out!’ - Estamos na estação,
acabados de chegar e, enquanto procuramos a saída,
somos surpreendidos por uma mulher sorridente que corre
atrás de nós e nos diz que estamos a ir
na direcção errada. Acompanha-nos à
porta e despede-se cordialmente, desejando-nos uma boa
estadia em Belfast. A acolhedora recepção
definiu de imediato o nosso primeiro olhar sobre a cidade
- pareceu-nos luminosa (ainda é assim que a recordo)...
O que é estranho! - estávamos em 98, a recém
conseguida autonomia governativa da Irlanda do Norte parecia
anunciar tempos de uma já merecida paz, mas ainda
assim íamos preparados para nos depararmos com
uma cidade escura e feia. Sabíamo-la nascida da
indústria do século XIX e imaginávamo-la
profundamente cicatrizada pelo conflito político
e religioso que, durante décadas, definiu a instabilidade
do Ulster. O que encontrámos não tinha nada
de escuro ou feio. O centro de Belfast surgiu-nos amplo,
bonito e organizado, muito “à escala humana”,
com os seus edifícios baixos, ruas pedonais e as
solarengas esplanadas da Donegall Square, que nos presenteia
com um belíssimo e relativamente bem preservado
legado arquitectónico marcadamente vitoriano.
Foi quando nos aventurámos pelos bairros periféricos
que descobrimos as cicatrizes, expostas nas tantas frases
nacionalistas pintadas como gritos de raiva e esgares
de ódio em paredes e murais que, por fim, revelam
Belfast como esse espaço de crise que trazíamos
nas nossas fantasias menos bonitas. O lado ocidental da
cidade é pobre e degradado. Para lá do centro,
a paisagem é fortemente dominada pelo rio Lagan
e pelo seu legado de gruas e estaleiros. Mas mesmo aí
a única fealdade e escuridão que vislumbramos
é a das almas capazes de atormentar tantas vidas
durante tanto tempo.
A encantadora Queen’s Bridge suaviza-nos o horizonte
e as ideias, incentivando-nos a prosseguir com a nossa
exploração periférica, que termina
quando encontramos o Castelo de Belfast, antiga sede parlamentar
da Irlanda do Norte.
Seduzidos pela cidade, buscamos no Ulster Museum um entendimento
mais claro da sua história e cultura. E eis que
a sede de saber acaba dando lugar a outras sedes, que
nos levam a eleger um dos muitos pubs de Belfast para
gozar um fim de tarde tipicamente irlandês, entre
música, animação e muita, muita Guiness...
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