Foi em Mitologias que
o grupo de jovens actores do Porto se inspirou. Respondem
pelo nome de Sotão (Sociedade Onírica de
Teatro Amador Orgânico), mas não foi no fundo
do baú que descobriram "As Canções
de Bilitis". Uma obra do françês Pierre
Louijs, escrita em 1894 e que tem na sua génese
toda a cultura helénica.
Este grupo de teatro do Instituto de Ciências Biomédicas
de Abel Salazar, da Universidade do Porto, trouxe até
à Covilhã a encenação de uma
obra teatral onde a homossexualidade, o culto religioso
e a sociedade mundana se apresentam como pilares. Tudo
roda em torno de Bilitis, poetisa grega contemporânea
de Safo, e das suas paixões por Mnasidika. Num
cenário onde reina a limpidez própria de
um qualquer Olimpo dos deuses, sete actores dão
corpo a uma peça dedicada aos prazeres carnais
e adorações divinas.
A peça é pautada pela delicadeza, e o grupo
do Porto soube trazer à Covilhã uma temática
actual, disfarçada em vivências antigas.
É nas mulheres e na sexualidade destas que recaem
todas as atenções, daí que após
um primeiro acto, breve, a cena seja arrebatada na totalidade
por seres do sexo feminino. Corporizar esta obra é
tarefa de Ana Teixeira, Mariana Peres, Marisa Vieira,
Miriam Castro e Rita Coutinho. Vestidas de seda azul e
rosa, sobre uma clara, descrevem em forma metafórica
o amor entre si, entre as mulheres. Um amor limpo da rudeza
e força masculina, e afastado também de
todos os olhares.
A história em que se baseiam "As Canções
de Bilitis", foi supostamente encontrada em Port-Said
pelo autor, Pierre Louijs. Nas paredes do túmulo
de Bilitis, estavam gravados alguns versos, canções
e histórias do que tinha sido a vida daquela ninfa.
Este lugar, que vencera as agruras do tempo por mais de
25 séculos, era posto a descoberto pelo conhecedor
dos costumes e da cultura dos gregos. Um ano antes do
seu desaparecimento e depois de historiadores de todos
os quadrantes terem reconhecido como verdadeiros os personagens,
Louijs abre o jogo e afirma que esta obra foi inventada
por si. Aquela que foi uma das maiores farsas histórico-literárias
foi minimizada. Do mesmo autor, e também aplicada
ao teatro, existe ainda, Aphrodite, igualmente uma obra
de amor e erotismo.
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