O espectáculo das crianças ficou marcada pela presença de agentes da PSP
Inauguração conturbada de novas instalações da ACBI
Presença da polícia desvia atenções do espectáculo das crianças

A Câmara da Covilhã não considera a nova sede da Associação Cultural da Beira Interior “segura e devidamente licenciada”. Luís Cipriano riposta com “duplicidade de critérios” da autarquia.


Por Daniel Sousa e Silva


As novas instalações da Associação Cultural da Beira Interior (ACBI), a funcionarem desde Janeiro e inauguradas aos sócios no domingo, estão encerradas desde ontem. As antigas instalações da fábrica de águas “Sete Fontes” devem reabrir amanhã, quarta-feira, depois dos advogados da ACBI entregarem, no Tribunal Administrativo de Castelo Branco (TACB), um pedido de anulação do despacho emitido na sexta feira passada pela Câmara da Covilhã que pretende impedir a inauguração das instalações.
Três agentes da PSP, à civil, entraram nas instalações pouco antes das cinco da tarde para identificar o presidente da ACBI e esperaram, à porta, pelo fim da cerimónia, que decorreu sem incidentes na presença de quase duas centenas de pessoas.
Para a inauguração estavam convidados vários presidentes de câmara da região, nomeadamente de Sabugal, Fundão, Idanha-a-Nova e Vila Velha de Ródão e a Governadora Civil, mas acabaram por não comparecer. “Eu informei-os do que poderia acontecer”, contou Luís Cipriano aos jornalistas numa alusão ao despacho que pretendia impedir a inauguração das instalações. “Foi apenas por precaução”, acrescentou o presidente da ACBI inconformado com o despacho assinado pelo vereador João Esgalhado.
O pedido de alteração do uso das instalações e o projecto de obras entrou na autarquia no dia 19 de Março, “mas pelos vistos para o presidente não é suficiente” afirmou Cipriano recordando que a autarquia estabeleceu o dia 21 de Abril como prazo limite para as necessárias correcções. “Sabemos de casos de associações que fizeram obras e lhes foi dado um prazo para cumprirem a lei, deixando-as continuar em funcionamento. Nós somos os únicos que não fomos autorizados a continuar a funcionar”, acusou o presidente da ACBI avisando que “na Covilhã nada será como dantes”.
As obras de adaptação do edifício permitiram criar um auditório com capacidade para 200 pessoas, espaços para exposições, dez salas de aula e polivalentes, sala de informática, biblioteca, loja de partituras e cds e um bar.
As exigências de rampas para deficientes, detectores de incêndios ou portas contra-fogos “vão ter de ser iguais para todas as associações”, adiantou Luís Cipriano, citando os casos da Escola Profissional de Artes da Beira Interior (EPABI), as escolas do 1º ciclo da Covilhã e o Conservatório Regional de Música da Covilhã (CRMC) como “exemplos de insegurança”. No caso da EPABI, “a Câmara mantém a escola aberta além da subsidiar e há dois anos que não tem licenciamento por parte dos bombeiros”, disse Cipriano que promete denunciar o caso à Comunidade Europeia. “A maior parte das escolas do 1º ciclo não dispõem de plano de evacuação e emergência e isso é da responsabilidade da Câmara” e no CRMC “não há saídas de emergência, mas é apoiada pela Câmara e aí não há fiscais”, precisou Luís Cipriano.

Regras de segurança por cumprir

O incumprimento das normas de prevenção de incêndios e a ausência de licenciamento para um novo uso do edifício foram os argumentos invocados pela autarquia covilhanense para tentar impedir a inauguração das novas instalações da ACBI.
A decisão considerada “urgente” para garantir a segurança das pessoas solicitava a intervenção da PSP da Covilhã para impedir a inauguração, “sob pena da prática de um crime de desobediência” por parte da proprietária do edifício, Maria Carolina Alçada, e da direcção da ACBI. O despacho considera que, no edifício da antiga fábrica de águas “Sete Fontes”, foram realizadas obras que transformam “radicalmente” o uso do edifício, licenciado para a indústria. As obras “não foram objecto de qualquer licenciamento ou autorização”, lê-se no despacho válido para o dia da inauguração e para os dias posteriores, por poder colocar em causa a segurança das pessoas que o utilizam e frequentam. Apesar do despacho dizer que até à ultima sexta-feira o licenciamento de alteração do uso do edifício “nem sequer tinha sido pedido”, o presidente da direcção da ACBI garante que “deu entrada precisamente nesse dia”, 19 de Março, ou seja, um mês e dois dias antes do fim prazo estipulado pelo município para legalização (21 de Abril). “O que tentaram fazer foi uma perseguição”, acrescentou Luís Cipriano frisando que as alterações foram interiores, com estruturas amovíveis, e estão autorizadas desde 20 de Novembro do ano passado.