Quis o destino que o homem
tivesse nome de nação. António de Apelido
Portugal é o personagem que conduz o leitor durante
58 episódios por uma novela do fantástico.
Os contos que têm em comum a participação
de António Portugal, começam no regicídio
e terminam na adesão da pátria lusitana à
comunidade europeia.
Este António que é simultaneamente Portugal,
vive para "boicotar tudo quanto é acto do Estado
Novo", explica o autor do livro. Artur Portela diz
ainda que escreveu as 258 páginas desta obra "como
uma banda desenhada". A sua forma literária,
a recorrer múltiplas vezes ao conto, dá a
capacidade de cada leitor interpretar este livro "da
forma que julgar melhor", adianta o jornalista e membro
da Alta Autoridade para a Comunicação Social
(AACS).
Antonieta Garcia, docente no Departamento de Comunicação
e Artes e convidada para introduzir o livro, lembra o valor
desta compilação de textos. Para a docente
"anda por estas páginas muito da memória
de Portugal, daí o valor incalculável desta
obra". O autor, que confessa não ter recorrido
a planificações ou grandes trabalhos de investigação,
assimila o destino de um povo a um indivíduo múltiplo.
António Portugal é o retrato fiel "de
um tempo que eu vivi" e "que se espelha com muitos
outro antónios verdadeiros", sublinha Portela.
Por outro lado, este irrequieto personagem, vive episódios
humorísticos onde "a sátira às
instituições e muito mais é óbvia",
diz Antonieta Gracia, mas tais considerações
são sempre feitas "com um humor único".
Jornalista literário
O humor de Artur Portela "faz desenterrar os fantasmas
de um passado que nem sempre gostamos de reviver".
As palavras são de Fernando Paulouro, director
do Jornal do Fundão, que fez também uma
análise do novo livro. A "História
Fantástica de António Portugal", é
classificada por Paulouro como "um notável
retrato da parte portuguesa que gosta mais de fugir do
que encarar os fantasmas do passado". Para este jornalista,
o trabalho de Portela destaca-se pela capacidade de imaginação,
forma literária utilizada e também, "pela
riqueza histórica" presente nas páginas
do livro.
Estes contos de um país fantástico, lembram
que "nós estamos num país onde a amnésia
é propagada lentamente", sublinha o jornalista.
Durante a descrição que fez do mais recente
trabalho de Portela, Fernando Paulouro atesta que "esta
é uma obra excelente para nos pôr a pensar
nas coisas". Isto porque "vai contra uma cultura
de hipermercado".
A história fantástica é a prova de
que "se há alguém que em Portugal conseguiu
mostrar que o jornalismo pode ser uma importante disciplina
de literatura, Artur Portela é esse alguém",
adianta Paulouro. Esta distinção é
baseada "na habilidade ficcional presente nestes
textos", refere o mesmo. Na perspectiva do director
do Jornal do Fundão, este livro de Artur Portela
é também um compêndio de reportagens,
visto "todos os contos terem um título, uma
introdução ou lead e o posterior desenvolvimento".
Artur Portela editou o seu primeiro livro, a Feira das
Vaidades, em 1959. Ainda durante o regime do estado Novo
publica A gravata berrante, Avenida de Roma e Thelonious
Monk. De sua autoria asão também títulos
como O Novo Conde de Abranhos, Marçalazar, Três
Lágrimas Paralelas, A Ração do Céu
e A Manobra de Valsalva. História fantástica
de António Portugal é o seu mais recente
trabalho e está à venda através da
editora Dom Quixote.
|