Branca Andaluzia




Sevilha









Por Catarina Moura

Estive apenas uma noite e um dia em Sevilha mas sei que vou lá voltar. Foi uma escala casual, decidida umas horas antes, subitamente motivada pela placa da auto-estrada que prometia ‘Sevilha’ ali tão perto. Chegámos já de noite. Fomos avançando às cegas, seguindo todas as placas que anunciavam o centro. Quando as estradas largas e os prédios mais ou menos uniformizados deram lugar a ruas estreitas e empedradas, soubemos que estávamos no centro. O primeiro impacto foi definido pelo stress do estacionamento – um pesadelo! Vencido o temível obstáculo, dedicámo-nos a percorrer as ruas desconhecidas em busca de uma pensão onde passar a noite. O empregado de um movimentado café onde parámos para pedir orientação oferece-nos um mapa e indica-nos alguns hotéis, pousadas e pensões localizados na zona. A opção é de facto farta e diversificada, mas Agosto será sempre um mês problemático para conseguir alojamento, sobretudo num destino turístico por excelência como Sevilha. Quase hora e meia depois, encontrámos quarto num hotelzinho razoável. Deixámos as mochilas, descansámos um pouco e preparámo-nos para ir comer qualquer coisa, agradecendo aos céus os horários tardios a que, por norma, jantam os espanhóis. Revigorados pelo repasto, desfrutado ao ar livre numa ampla, iluminada e graciosa praça, resolvemos aventurar-nos pela Sevilha nocturna, já que não teríamos uma segunda noite para aproveitar. Passava da meia-noite mas as ruas estavas animadas e cheias de gente e de música. Relativamente orientados pelo mapa, conseguimos descobrir algum sentido no labiríntico centro histórico, delineando um pequeno itinerário que, no final, nos deixaria no hotel. Tudo corria bem, estávamos leves e divertidos, encontrámos um grupo português e foi a risota total. Mas eis que, subitamente, somos surpreendidos numa rua menos movimentada por dois tipos numa lambreta que se preparavam para arrastar a mala que estivesse mais “à mão”. Não tiveram sorte, demos por eles atempadamente, mas foi um susto que acabou com o ânimo e nos levou ao hotel mais rapidamente do que planeáramos.
No dia seguinte o incidente estava esquecido. Saímos cedo e fomos recebidos por uma cidade cheia de luz. A brancura da arquitectura andaluza, feita de ruelas estreitas e casas pequenas caiadas de branco e azul, seduz-nos de imediato. Percebemos o fascínio desta cidade e perdemo-nos por umas horas neste labirinto árabe. Almoçámos num restaurante que, como muitos que já havíamos visto, é um charmoso e frondoso pátio, recuperado dentro da sua traça original, decorado com xailes imensos e onde o flamenco dá sempre o tom. Em seguida dirigimo-nos à Plaza de España, um fabuloso e imponente monumento semi-lunar que, apesar de estar em obras, valeu totalmente a visita.
Restavam-nos poucas horas. Descemos até às margens do Guadalquivir, em busca de alguma frescura que temperasse a escaldante tarde de verão e das ruínas da Expo 92. Ao contrário do que foi feito em Lisboa, Sevilha abandonou por completo o espaço um dia ocupado pelo evento, hoje em dia um cemitério de edifícios vazios, arruinados e decadentes, cheio de silêncio e ervas daninhas. Deprime-nos esta última visão de Sevilha, mas não podemos voltar ao centro. Era hora de partir.