Mário Raposo*

Estimular o empreendedorismo


Há já algum tempo que vimos defendendo a introdução de disciplinas ligadas à criação de empresas e ao empreendedorismo nas várias licenciaturas ministradas na nossa Universidade. Estimular ou despertar nos alunos, futuros licenciados, o desejo de criar uma empresa, trabalhar para si próprio e ser empresário, é ser inovador no Universo das Universidades Portuguesas e, simultaneamente, prestar um importante contributo para o desenvolvimento económico do País.
A política económica do País, desde a entrada na União Europeia, privilegiou a resolução do problema do desemprego, através da aposta em soluções conjunturais de curto prazo. O apoio à instalação de empresas multinacionais em sectores de mão-de-obra intensiva, que assim beneficiaram de fundos comunitários, resultou no curto prazo na resolução de problemas de desemprego em muitas zonas do país. Mas agora, com a iminente entrada de novos países na União Europeia, verifica-se uma fuga galopante dessas empresas, que procuram nestes novos países a mão-de-obra barata e os fundos do novo Quadro Comunitário.
Em Portugal não houve a visão estratégica de estimular a criação de empresas de base nacional, sustentadas em novas tecnologias e na investigação desenvolvida nas Universidades. Aliás, a criação de uma nova empresa por um recém-licenciado ou um investigador, exigia tal burocracia documental e requisitos a nível de garantias bancárias, que castrava a maioria das novas iniciativas empresariais de base tecnológica. Assim, não é de estranhar que se tenha chegado à actual situação do país. (numa recente edição do jornal Expresso, Portugal aparecia no fim da lista dos países da União Europeia, actuais e futuros, relativamente à detenção das vantagens competitivas sectoriais).
Por outro lado, os instrumentos financeiros de apoio ao lançamento de novas empresas (start-ups), como o capital de risco, que foi utilizado na generalidade dos países desenvolvidos como uma ferramenta para estimular o sector empresarial pela entrada de novas empresas na economia, teve em Portugal um tratamento “sui generis”. Foi utilizado como um instrumento para oferecer balões de oxigénio às chamadas empresas em risco de falência, a maioria das quais acabou mesmo por fechar. O único resultado visível foi a criação de alguns “jobs” para os gestores destes capitais de risco.
Uma vez que o modelo falhou, haverá que procurar arrepiar caminho e dar o incentivo ao empreendedorismo que lhe é devido, sob pena de continuarmos na cauda da Europa, em termos de desenvolvimento económico, pois os novos países aderentes já mostraram ser excelentes alunos neste domínio.
Desde a década de 80 que se constatou nos países mais desenvolvidos da Europa, nos EUA e no Japão, que o desenvolvimento económico sustentado não é possível sem o importante papel desempenhado pelo empreendedorismo. O empreendedor é hoje considerado o combustível que alimenta e dirige a economia dos países. Quanto mais empreendedora for a população de um país, mais desenvolvimento económico ocorre.
Altos níveis de empreendedorismo no país estão associadas a grande crescimento a nível do Produto Interno Bruto, da riqueza do país e da qualidade de vida dos cidadãos. Parece tão simples, mas acaba por ser tão complexo.
Quando se começa a pensar em estimular o desenvolvimento do sector das novas empresas e das micro-empresas, existe a necessidade de transcender a simples noção de encorajar o nascimento de novas empresas para o de salvaguardar o futuro dessas novas empresas.
De facto, conseguir simplesmente a sobrevivência de um grande número de empresas, não assegura o futuro desenvolvimento de um país. O empreendedorismo resultará num desenvolvimento económico sustentável, quando o foco da atenção se concentrar no desenvolvimento de novas empresas inovadoras e orientadas para novas tecnologias ou assentes em vantagens competitivas sustentáveis.
Assim, uma política de criação de emprego deverá assentar no apoio à criação e à sobrevivência de novas empresas e, paralelamente, encorajar empresários com visão que estejam disponíveis para assumir riscos substantivos, procurando continuamente novas oportunidades de crescimento sustentado e assumindo perspectivas inovadoras em todos os aspectos da função empresarial.
Como académicos e investigadores, cientes do importante papel do empreendedorismo a nível do desenvolvimento económico, cabe-nos a responsabilidade de estimular nos alunos da nossa universidade, o desejo de ser empresário e de criar a sua empresa. A Universidade da Beira Interior tem cumprido o seu papel, pelas iniciativas que vem assumindo ao longo dos últimos anos e que importa relembrar:

- Envolvimento numa rede europeia de Universidades que suporta um Programa de Doutoramento em “Entrepreneurship and Small-Business Management”.

- Envolvimento activo na criação de um Business Innovation Center – CIEBI-BIC

- Intervenção directa e parceria na criação de um Parque de Ciência e Tecnologia – PARKURBIS.

- Grande ênfase na investigação sobre empreendedorismo com a elaboração, apresentação e defesa de inúmeras dissertações de Mestrado e teses de Doutoramento relacionadas com o tema.

- Realização de várias conferências com ênfase nos temas ligados ao empreededorismo.

- Introdução de disciplinas de Criação de Empresas em várias licenciaturas.

Pelo que foi exposto, parece-nos importante que neste Jornal da Universidade, se passe a dar importância ao tema do empreendedorismo, pelo que em próximas edições URBI, apresentaremos o testemunho de antigos alunos da UBI que se tenham lançado na arriscada tarefa de criar a sua empresa, deixando assim para os futuros licenciados uma panorâmica das dificuldades e das recompensas do que é ser empreendedor.


*Docente do DGE