|
Estimular o empreendedorismo
Há já algum tempo que vimos defendendo a
introdução de disciplinas ligadas à
criação de empresas e ao empreendedorismo
nas várias licenciaturas ministradas na nossa Universidade.
Estimular ou despertar nos alunos, futuros licenciados,
o desejo de criar uma empresa, trabalhar para si próprio
e ser empresário, é ser inovador no Universo
das Universidades Portuguesas e, simultaneamente, prestar
um importante contributo para o desenvolvimento económico
do País.
A política económica do País, desde
a entrada na União Europeia, privilegiou a resolução
do problema do desemprego, através da aposta em
soluções conjunturais de curto prazo. O
apoio à instalação de empresas multinacionais
em sectores de mão-de-obra intensiva, que assim
beneficiaram de fundos comunitários, resultou no
curto prazo na resolução de problemas de
desemprego em muitas zonas do país. Mas agora,
com a iminente entrada de novos países na União
Europeia, verifica-se uma fuga galopante dessas empresas,
que procuram nestes novos países a mão-de-obra
barata e os fundos do novo Quadro Comunitário.
Em Portugal não houve a visão estratégica
de estimular a criação de empresas de base
nacional, sustentadas em novas tecnologias e na investigação
desenvolvida nas Universidades. Aliás, a criação
de uma nova empresa por um recém-licenciado ou
um investigador, exigia tal burocracia documental e requisitos
a nível de garantias bancárias, que castrava
a maioria das novas iniciativas empresariais de base tecnológica.
Assim, não é de estranhar que se tenha chegado
à actual situação do país.
(numa recente edição do jornal Expresso,
Portugal aparecia no fim da lista dos países da
União Europeia, actuais e futuros, relativamente
à detenção das vantagens competitivas
sectoriais).
Por outro lado, os instrumentos financeiros de apoio ao
lançamento de novas empresas (start-ups), como
o capital de risco, que foi utilizado na generalidade
dos países desenvolvidos como uma ferramenta para
estimular o sector empresarial pela entrada de novas empresas
na economia, teve em Portugal um tratamento “sui
generis”. Foi utilizado como um instrumento para
oferecer balões de oxigénio às chamadas
empresas em risco de falência, a maioria das quais
acabou mesmo por fechar. O único resultado visível
foi a criação de alguns “jobs”
para os gestores destes capitais de risco.
Uma vez que o modelo falhou, haverá que procurar
arrepiar caminho e dar o incentivo ao empreendedorismo
que lhe é devido, sob pena de continuarmos na cauda
da Europa, em termos de desenvolvimento económico,
pois os novos países aderentes já mostraram
ser excelentes alunos neste domínio.
Desde a década de 80 que se constatou nos países
mais desenvolvidos da Europa, nos EUA e no Japão,
que o desenvolvimento económico sustentado não
é possível sem o importante papel desempenhado
pelo empreendedorismo. O empreendedor é hoje considerado
o combustível que alimenta e dirige a economia
dos países. Quanto mais empreendedora for a população
de um país, mais desenvolvimento económico
ocorre.
Altos níveis de empreendedorismo no país
estão associadas a grande crescimento a nível
do Produto Interno Bruto, da riqueza do país e
da qualidade de vida dos cidadãos. Parece tão
simples, mas acaba por ser tão complexo.
Quando se começa a pensar em estimular o desenvolvimento
do sector das novas empresas e das micro-empresas, existe
a necessidade de transcender a simples noção
de encorajar o nascimento de novas empresas para o de
salvaguardar o futuro dessas novas empresas.
De facto, conseguir simplesmente a sobrevivência
de um grande número de empresas, não assegura
o futuro desenvolvimento de um país. O empreendedorismo
resultará num desenvolvimento económico
sustentável, quando o foco da atenção
se concentrar no desenvolvimento de novas empresas inovadoras
e orientadas para novas tecnologias ou assentes em vantagens
competitivas sustentáveis.
Assim, uma política de criação de
emprego deverá assentar no apoio à criação
e à sobrevivência de novas empresas e, paralelamente,
encorajar empresários com visão que estejam
disponíveis para assumir riscos substantivos, procurando
continuamente novas oportunidades de crescimento sustentado
e assumindo perspectivas inovadoras em todos os aspectos
da função empresarial.
Como académicos e investigadores, cientes do importante
papel do empreendedorismo a nível do desenvolvimento
económico, cabe-nos a responsabilidade de estimular
nos alunos da nossa universidade, o desejo de ser empresário
e de criar a sua empresa. A Universidade da Beira Interior
tem cumprido o seu papel, pelas iniciativas que vem assumindo
ao longo dos últimos anos e que importa relembrar:
- Envolvimento numa rede europeia de Universidades que
suporta um Programa de Doutoramento em “Entrepreneurship
and Small-Business Management”.
- Envolvimento activo na criação de um Business
Innovation Center – CIEBI-BIC
- Intervenção directa e parceria na criação
de um Parque de Ciência e Tecnologia – PARKURBIS.
- Grande ênfase na investigação sobre
empreendedorismo com a elaboração, apresentação
e defesa de inúmeras dissertações
de Mestrado e teses de Doutoramento relacionadas com o
tema.
- Realização de várias conferências
com ênfase nos temas ligados ao empreededorismo.
- Introdução de disciplinas de Criação
de Empresas em várias licenciaturas.
Pelo que foi exposto, parece-nos
importante que neste Jornal da Universidade, se passe
a dar importância ao tema do empreendedorismo, pelo
que em próximas edições URBI, apresentaremos
o testemunho de antigos alunos da UBI que se tenham lançado
na arriscada tarefa de criar a sua empresa, deixando assim
para os futuros licenciados uma panorâmica das dificuldades
e das recompensas do que é ser empreendedor.
*Docente do DGE
|