Por Daniel Sousa e Silva


Rogério Mendes é representante da Adega no mercado americano

O primeiro vinho “kosher” produzido em Portugal em 500 anos chama-se “Terras de Belmonte” e é feito na Adega Cooperativa da Covilhã
Rogério Mendes, consultor e agente da Adega para o mercado de todo o continente americano, liderou o projecto de uma comunidade judaica portuguesa nos Estados Unidos da América (EUA) e acompanhou de perto o processo de preparação do “Terras de Belmonte”, o novo vinho da Adega Cooperativa da Covilhã, apresentado no passado domingo, 22.
“Por ser português e judeu é com muito orgulho que tenho a possibilidade de levar um pouco da comunidade judaica portuguesa ao Mundo”, explica Rogério Mendes.
O grosso da produção destina-se a exportação. Cerca de 12 mil garrafas do vinho “Terras de Belmonte” já foram vendidas para os EUA, segundo fontes da Adega.
O vinho “kosher”, na sua essência é um vinho semelhante a todos os outros, mas tem uma particularidade que o distingue. Todo o processo de fabricação apenas pode envolver indivíduos judeus e requer uma maior higienização, só podendo ser, desta forma, cerificado. A entidade que certifica que o “Terras de Belmonte” é produzido com as normas judaicas é a União Ortodoxa, o principal organismo de certificação “kosher” a nível mundial.
O rabino de Belmonte, Elisha Salas, recorda que a preparação do vinho “kosher” nacional “foi um processo muito difícil”, porque a Adega da Covilhã “não tinha conhecimento de todos os trâmites da fabricação do vinho”.
Já Amândio Melo, presidente da Câmara de Belmonte, fica feliz em ajudar a criar “um vinho que não tem rival na Península Ibérica”, lembrando que é “um projecto de interesse cultural e turístico que pode ter um enorme impacto económico” na região.
O autarca aproveitou para anunciar a preparação em curso de um museu do judaísmo em Belmonte “para se poder mostrar de forma organizada a tradição judaica no País”.
Uma instituição envolvida neste processo é a Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE). Jorge Patrão, presidente da RTSE, chegou a deslocar-se aos EUA para preparar a exportação. “Quando cheguei à RTSE há 5 anos, sabia que a identidade própria é uma forma de se reforçar o turismo e sendo o judaísmo uma fonte da identidade da Beira Interior é natural que a RTSE se tenha unido a esta iniciativa”, refere.
Uma garrafa de “Terras de Belmonte” vai custar 8 euros e meio. A sua venda será acessível a todos, mas só será comercializado na loja da adega covilhanense ou em locais seleccionados, como o “El Corte Ingles”, que possui uma secção de produtos “kosher”. “Este não vai ser um produto massificado”, esclarece Rui Moreira, presidente da Adega.
Um facto curioso contado durante a cerimónia foi a de que a primeira congregação de judeus a chegar aos EUA, em 1654, era de origem portuguesa, que se fixaram na actual região de Nova Iorque.