José Geraldes
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As
minas da ira
A paralisação
temporária ou o encerramento definitivo das Minas
tem de evitar-se custe o que custar.
A Cova da Beira passa por uma nova crise. Depois do encerramento
da ERES, de uma
série de pequenas fábricas de confecções
e do terramoto da Nova Penteação que começa
a refazer-se, são, agora, as Minas da Panasqueira
a enfrentar sérias dificuldades. Dificuldades que
os próprios gestores da empresa afirmam ser o caminho
que leva ao seu encerramento.
Se bem que uma meia centena dos 220 mineiros estejam já
na idade da reforma, há um número considerável,
a rondar os 150 que vão para o desemprego. Ou seja
é mais um conjunto de famílias que são
atingidas no seu quotidiano e forma de viver. E sonhos
acalentados de futuros mais risonhos que acabam por ir
por água abaixo.
As Minas da Panasqueira sempre passaram por situações
cíclicas com problemas. A pincipal causa reside
nos preços do produto extraído- o wolfrâmio-
que varia em função dos mercados e, sobretudo,
pela concorrência da China.
Se o preço do wolfâmio desce, os problemas
surgem imediatamente. Os sucessivos proprietários
das Minas da Panasqueira não conseguiram encontrar
até agora uma fórmula de garantia da contínua
extracção do minério de forma a evitar
a paralisação temporária ou o seu
fecho. E do escoamento seguro do produto.
Segundo estudos fiáveis, a extracção
do volfrâmio pode continuar por muitos mais anos.
Trata-se de um dado importante para que se não
entre numa espiral de ira e desespero que começa
já a atingir naturalmente os trabalhadores.
Se há possibilidade de laboração,
todos os esforços e sugestões são
bem-vindos para ajudar a resolver o problema. Não
na estrutura da subsídio- dependência que
acaba, apenas, por ser um comprimido que alivia momentaneamente
a dor mas não cura a doença.
Aqui, para além dos esforços já empreendidos
pelas entidades competentes, não seria de recorrer
à Agência Portuguesa de Investimento, no
sentido de se encontrar um investidor estrangeiro com
garantias seguras ? Tal diligência não está
fora das atribuições deste organismo que
já atraiu para Portugal milhões e milhões
de euros de investimento internacional.
A paralisação temporária ou o encerramento
definitivo das Minas tem de evitar-se custe o que custar.
Claro que a laboração da mina pode ser compatível
com a valorização turística do Couto
Mineiro. E os projectos, neste capítulo, entram
nos domínios da exigência para que no sul
do concelho da Covilhã não fique marginalizado
nas rotas a figurar nos mapas da Região. É
um novo dado a acrescentar ao património mineiro.
Mesmo na questão fiscal, o encerramento das Minas,
para além dos postos de trabalho, faz perder ao
erário público uma quantia considerável
de impostos.
Mas o mais importante é emprego. Porque está
em causa a vida com dignidade. E a dignidade da pessoa
humana.
Cardjin o disse um dia : “Um trabalhador vale todo
o oiro do mundo”. Salvem-se as Minas para que, dando
o pão aos mineiros, não se transformem nas
“minas da ira” parafraseando o célebre
romance de J.Steinbek. E , como diz um mineiro, “a
esperança é a última a morrer”.
Oxalá o seja, de facto, na Minas.
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