Descobrindo a cidade de Gaudí
Barcelona
Por Catarina Moura
Depois de tantas horas de viagem, chegar a Barcelona foi
um bálsamo para os sentidos. Fomos um pouco à
aventura, sem termos sequer reservado hotel, o que em
finais de Julho pode ser uma verdadeira loucura, mas não
tardámos em conseguir alojamento numa duvidosa
pousada cuja grande vantagem era estar em plenas Ramblas,
uma das avenidas mais centrais da cidade, transbordantes
de cor, vitalidade e movimento. Tínhamos uma semana
para conhecer Barcelona – viríamos a descobrir
que tardaria uma vida para o conseguir.
Acordámos cedo e aproveitámos para explorar
um pouco as Ramblas, em busca de um café onde tomar
o nosso primeiro desayuno. Apesar de ainda ser cedo, as
ruas estavam já cheias de uma multidão de
nacionalidades que, como nós, procurava aproveitar
o máximo desta cidade. Percorrendo o corredor de
intermináveis descobertas que é esta avenida,
cujo espaço é partilhado por artistas, vendedores
de flores, originalíssimas estátuas humanas
e esplanadas imensas, encontrámos o mercado mais
bonito do mundo: La Boquería, cujas convidativas
cores e aromas são potenciadas pela harmonia e
organização com que estão expostos
todos os produtos.
Como sempre, decidimos aventurar-nos pela cidade, sem
planos definidos. Optando ao acaso por uma transversal
das Ramblas, mergulhámos no labiríntico
Barrio Gótico, cujas ruas estreitas estão
ladeadas de impressionantes construções
góticas, tanto civis como religiosas. É
fabulosa a maneira como esta cidade integra tão
harmoniosamente no seu traçado os vestígios
da passagem dos mais diversos povos e períodos
históricos. As marcas romanas e os bairros medievais
convivem lado a lado com os mais belos exemplos de arquitectura
modernista e das vanguardas do século XIX, nomeadamente
as obras dos arquitectos catalães Antoni Gaudí
e Lluís Doménech i Montaner, que podemos
encontrar, por exemplo, no Passeig de Gràcia (coração
do Eixample, outra das zonas de Barcelona), também
conhecido como ‘Manzana de la Discordia’,
invocando as mais distintas interpretações
de que tem sido alvo o modernismo catalão. As singulares
chaminés da Casa Milà (La Pedrera) são
o primeiro contacto visual que temos com as linhas curvas
e esvoaçantes da obra de Gaudí, que prossegue,
ali perto, quando avistamos as excêntricas varandas
da Casa Batlló. São várias as marcas
que este arquitecto e urbanista deixou pela cidade. A
imponência e misticismo do Templo da Sagrada Família,
que não chegou a terminar, concentram a atenção
de todos os que visitam Barcelona, mas foram as linhas
flutuantes do Park Güell que mais me convenceram
da genialidade de Gaudí.
O grande pulmão desta urbe chama-se Montjuïc
(onde encontrámos, entre outras pérolas,
a imperdível Fundación Miró), situa-se
a 213 metros de altitude e oferece uma daquelas vistas
de cortar a respiração, sensação
intensificada à medida que descemos pelo teleférico,
que nos leva ao mar.
O Passeig Marítim e a Barceloneta (a mesma dos
filmes de Almodôvar) apresentam-nos outra Barcelona,
menos citadina, mais mediterrânea, sempre cosmopolita.
Passeamos ao longo da costa, voltando a aproximar-nos
do centro. A Rambla del Mar, uma passagem pedonal sobre
a água, leva-nos ao Maremàgnum, um centro
comercial de alguma originalidade. A variedade de restaurantes
não nos seduz, preferimos terminar o dia jantando
nalgum espaço mais acolhedor, quem sabe ali perto,
na marina, quem sabe mais “para dentro”. As
Ramblas estão perto. Passada a Praça de
Colón, espaço de homenagem a Cristóvão
Colombo, entramos novamente nessa artéria que pode
ser ponto de partida para tantos e tão diversos
itinerários. Deixamo-nos levar à Praça
Catalunha, situada na outra extremidade das Ramblas, cheia
de jovens, música e luzes, tão ou mais viva
que em pleno dia. Olhamos a Fuente de Canaletes. Diz a
tradição que quem beber desta água
voltará sempre a Barcelona. Seria falta de cortesia
resistir ao convite…
Não há muitos sítios com os quais
tenha sentido uma empatia tão imediata e completa,
onde me tenha imaginado a viver, a simplesmente estar.
Barcelona foi sem dúvida um deles.
população flutuante que frequenta os estabelecimentos
de ensino secundário e pela que presta
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