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"Ter
de"
A obrigatoriedade, o “ter de”, é um
grande balde de água fria. Basta recordar as leituras
obrigatórias do Secundário – que enfadonhos,
intragáveis até, eram todos aqueles livros
só porque “tínhamos de” os ler.
E quantas vezes não viríamos a desfrutar
da sua leitura ao pegar-lhes meses, anos mais tarde, quando
lê-los era já um acto de vontade e não
de submissão?! O que não escolhemos fazer,
o que nos é imposto, provoca-nos, por norma, nem
que seja numa primeira reacção, uma negação
quase física, visceral. É sempre um ataque
- à nossa liberdade, àquilo que somos.
Daí que não me surpreenda o já muito
comentado e criticado “desinteresse” dos alunos
de Ciências de Comunicação pelo Urbi.
Lembramos os tempos em que não havia Urbi (na verdade
não tão recuados), os tempos em que adoraríamos
ter um espaço para escrever e aprender –
fazendo - o que é realmente isso de ser jornalista.
(Oooh, como éramos diferentes! Ooooh, o que não
teríamos nós feito se tivéssemos
tido acesso aos mesmos meios…) Mas teria mesmo sido
assim tão diferente? Se “tivéssemos
de” escrever todas as semanas, fosse para avaliação,
fosse porque nos diziam que “tínhamos de”,
tê-lo-íamos feito com genuíno entusiasmo?
Estarão os alunos de hoje particularmente desinteressados
e desmotivados ou estaremos nós apenas mais velhos
e, consequentemente, mais “sérios”?
Não acredito que a pouca apetência destes
alunos pela participação no Urbi se venha
a traduzir numa fornada de maus profissionais do jornalismo.
Muitos de nós são exemplo de que a motivação,
a seriedade, o interesse, o entusiasmo, não são
algo que tenhamos sentido enquanto estudantes, pelo menos
não da mesma maneira, mas sim características
e sentimentos que surgiram depois, quando começámos
a trabalhar, quando nos começámos a comprometer
e a responsabilizar. O que, a meu ver, não é
negativo nem significa que, enquanto estudantes, sejamos
um bando de vegetais inúteis e despreocupados.
Nada disso. É um tempo reservado a outras vivências,
a outras aprendizagens, também importantes. Além
disso, a recusa instintiva do que é obrigatório,
do que “temos de” fazer, não é
exclusiva dos estudantes, é algo que nos afecta
a todos, provavelmente a uns mais que a outros, mas que
todos sentimos uma ou outra vez. O caso do Urbi choca-nos
mais pela ligação que temos com ele, porque
há um projecto que nos diz muito a ser afectado
por essa falta de compromisso dos alunos. Mas, analisada
a situação fria e imparcialmente, talvez
nem fosse impossível revermo-nos nessa atitude.
O Urbi passou um semestre complicado, mas não foi
o único nem vai ser o último. Há
sempre alunos mais interessados e alunos menos interessados,
tal como em geral há pessoas mais interessadas
e pessoas menos interessadas, e ainda pessoas que escrevem
melhor e pessoas que escrevem pior, e pessoas com mais
ideias e outras com menos ideias. Talvez este ano haja
mais pessoas menos interessadas e a escrever pior e com
menos ideias a “ter de” escrever para o Urbi.
Mas, independentemente da dosagem de interesse, qualidade
e ideias, esta é apenas mais uma das dificuldades
que um jornal com as características do Urbi vai
ter sempre de enfrentar e contornar. Mas isso não
desmerece nem os alunos nem o jornal.
Uma possível solução passaria, a
meu ver, pela promoção do projecto, por
saber “vender” o Urbi aos alunos, não
só finalistas mas de todos os anos da licenciatura.
As vantagens em participar neste jornal são muitas,
só falta saber contagiá-los com a paixão
que compartimos por ele. Será assim tão
difícil transformar a obrigatoriedade de escrever
para o Urbi numa escolha? Talvez, mas vale a pena tentar.
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