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A construção
da agenda e o URBI
A agenda do jornalista não se resume ao
que acontece, no quotidiano. Não são só
os faxes a alertarem para determinado acontecimento que
nos fazem andar. É preciso que cada um crie a sua
própria agenda.
Que bela marca para o jornal
da minha (e nossa) universidade, onde também eu
tirei a minha licenciatura, mas na qual, na altura, não
havia jornais on-line, nem televisão ou rádio
interna e onde aceder ao CREA era bastante difícil.
Hoje tudo mudou, e ainda bem. E cá temos o URBI
a festejar quatro anos, e até com a novidade das
suas notícias passarem a ser divulgadas em papel,
num suplemento que é inserido, mensalmente, na
edição do NC.
Ao longo dos anos que tenho estado na Covilhã,
e no semanário em que trabalho, tenho conhecido
vários estagiários da UBI, que chegam aqui
para dar os primeiros “toques” na profissão.
E se nos primeiros anos, o nível qualitativo da
maioria era elevada, nestes últimos tempos, tenho
que constatar, e com pena, que há quem chegue cá
mal preparado, não obstante dispor de meios que
nós, outrora, não tínhamos. Curioso.
Pelo que tenho visto do jornal da Universidade, existe
a preocupação de fazer com que os alunos
possam praticar, redigir notícias, acompanhar alguns
acontecimentos, ou seja, cresçam em termos jornalísticos.
Mas será isso suficiente? Chegará dizer
a cada aluno que tem que escrever quatro ou cinco (ou
sejam lá as que forem) peças para o URBI,
ao longo do ano? Penso que não. E o porquê
desta minha pergunta?
É que, há bem pouco tempo atrás,
fui surpreendido pelo director do NC, a avisar-me, a mim
e aos companheiros de redacção, que haveria
de telefonar uma aluna de Ciências da Comunicação,
na UBI, a perguntar pela agenda para poder escrever alguns
artigos “obrigatórios” para o URBI.
Do aviso, passou-se à prática e a rapariga
lá telefonava a uma colega minha a perguntar “o
que é que se passa”. É que, dizia,
estava à rasca pois precisava de escrever umas
quantas notícias e “não havia nada”.
Fiquei estupefacto.
Primeiro ponto: será que a leitura de órgãos
de comunicação regionais não será,
só por si, uma fonte, que nos indique o que acontece
no local onde vivemos? É, claramente. A verdade
é que, conhecendo alguns dos estagiários
que por aqui passaram, facilmente se via que nada sabiam
sobre a cidade em que vivem há quatro anos, só
pelo facto de não terem enraizados hábitos
de leitura de semanários regionais ou até
diários, que hoje já têm suplementos
sobre a zona Centro. Não sabiam que concelhos pertenciam
ao distrito, os bairros da cidade ou os nomes de alguns
autarcas, personalidades ou instituições
cá do burgo. Criar esse hábito, desculpem
lá, tem que passar pela formação
académica. Segundo ponto: será que só
posso escrever notícias sobre “o que se passa”?
Claro que não. A agenda do jornalista não
se resume ao que acontece, no quotidiano. Não são
só os faxes a alertarem para determinado acontecimento
que nos fazem andar. É preciso que cada um crie
a sua própria agenda, a construa permanentemente
e tenha a clarividência para escolher um tema e
investigar. Por isso a minha surpresa quando a rapariga
nos pedia para a informarmos do que se passava. Penso
que seria tarefa do URBI dizer-lhe o que fazer, ou o que
tentar fazer, ou o que poderia pensar fazer. Qualquer
pessoa, mais nova ou velha, rica ou pobre, mulher ou homem,
tem histórias para contar que podem interessar
a todos. Há, todos os dias, instituições
que trabalham em prol dos outros, que enfrentam dificuldades
ou alcançam êxitos. É só ir
à procura.
Por isso, neste quarto aniversário, em que desejo
as maiores felicidades ao URBI, lanço o repto:
caros alunos, aproveitem o que têm à disposição
para serem melhores. E caros professores, aproveitem os
meios que têm para fazer dos “urbijornalistas”
pessoas melhores preparadas para enfrentar o mercado de
trabalho. E continuem a crescer, como o têm feito
nos últimos tempos. Para bem da UBI, Covilhã,
região e País.
*Jornalista e coordenador do Notícias da Covilhã
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