António Fidalgo
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A Comunidade
Urbana da Beira Interior
Na agenda política, mesmo que não suficientemente
na agenda da imprensa regional, está a constituição
da Comunidade Urbana da Beira Interior (CUBI). O PS tinha-se
proposto avançar com a Beira Interior no seu projecto
de regionalização do país, mas que
foi chumbado em referendo. Rejeitada a regionalização
teria de vir a descentralização e é
disso que agora se trata. Como a fazer? Os autarcas dos
distritos da Guarda e Castelo Branco ainda não
chegaram a acordo, mas felizmente os quatro municípios
da Cova da Beira, Belmonte, Covilhã, Fundão
e Penamacor, entenderam-se e tomaram a iniciativa: propor
a todos os outros concelhos dos dois distritos formar
a CUBI. Merecem os autarcas da Cova da Beira forte elogio
pela iniciativa e, sobretudo, pela visão de que
tem de haver uma unidade da região, do Tejo ao
Douro, do Pinhal à fronteira, para dar coesão
e força política a uma região que
a não tem, justamente dada a desagregação
política reinante.
Todos têm a lucrar com a criação da
nova entidade político-administrativa. Não
o entender é miopia política grave. Se não
ganharmos uma dimensão crítica demográfica
e territorial nunca ganharemos dimensão política,
industrial, comercial, cultural, académica, para
concorrermos com as regiões vizinhas que têm
mais gente. Será que a Guarda quer ser um apêndice
de Viseu? Com a Covilhã e Castelo Branco jogará
de igual para igual, até porque tem a vantagem
de ser um cruzamento único entre a A23 e o IP5,
a ser a porta de entrada e saída internacional
da CUBI. Castelo Branco não pode subsistir só,
mas antes tem de jogar num “hinterland” forte
quando voltada para Lisboa. Ninguém poderá
retirar alguma vez a Castelo Branco, se esta Comunidade
se tornar realidade, a vantagem de ser a cidade mais perto
de Lisboa, com todos os benefícios que daí
decorrem. Mais do que olhar o que os outros municípios
vão ganhar com a CUBI, importa salientar o que
cada município certamente perderá se não
for criada. A definição de estupidez é
prejudicar os outros sem obter nada em troca. Ora é
isso que parece acontecer nos entraves que alguns municípios
colocam à criação da CUBI. Prejudicam-se
a si próprios, esfregando a barriga de contentamento
por os outros municípios não poderem beneficiar
de uma Beira Interior unida.
Resta sempre a consolação, neste caso triste,
de que se o entendimento dos autarcas falhar, as realidades
entretanto criadas como a A23, a Faculdade de Ciências
da Saúde que se estende já aos três
hospitais da região, Guarda, Cova da Beira e Castelo
Branco, acabarão por criar, justamente pela economia
e pela sociedade civil, aquilo que agora não se
cria politicamente: a Beira Interior.
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