Cosmopolitan



Amesterdão














Por Catarina Moura

Creio que não voltei a sentir tanto frio como nesse início de Dezembro passado em Amesterdão. Como não podia deixar de ser, tínhamos alugado bicicletas para conhecer a cidade – impossível recorrer a outro meio de transporte! – e lembro-me de me apear constantemente só para esfregar as mãos e voltar a senti-las. Os graus negativos e a neve caída nos últimos dias não facilitavam mas nada nos roubaria o prazer de nos aventurarmos pela cidade de bicicleta, contornando os transeuntes, assustando os pombos das amplas praças, galgando pontes, novamente crianças, totalmente imbuídos do perpétuo movimento do lugar.
É fácil empatizar com esta cidade cuja original e bonita arquitectura se harmoniza na perfeição com os inúmeros canais que a ramificam. Estavam gelados, em Dezembro, prendendo nas suas margens os barcos que muitos foram transformando em originais habitações. Nada mais trendy que viver literalmente num dos canais de Amesterdão. Na verdade, nada mais trendy que viver em Amesterdão! O ambiente liberal é, em si mesmo, uma atracção turística da cidade que, para muitos, vive do rótulo de Meca do sexo e das drogas leves. Mas liberalização não é sinónimo de libertinagem e saber fazer esta distinção é provavelmente o que mais distingue a cultura holandesa. É verdade que há muito pouco que não se consiga obter em Amesterdão. Entre as prostitutas multi-raciais que nos acenam nas montras das “lojas” do Red Light District e os inúmeros coffeeshops que, entre as praças Leidseplein e Rembrandtsplein, encontramos quase porta sim – porta sim, há tabus suficientes a ser quebrados para quem ali vai com esse fim. Mas a vantagem de Amesterdão é que é cosmopolita o suficiente para ter com que entreter quem ali se dirija seja com que fim for. Os museus (imperdíveis: o Van Gogh e o imponente Rijksmuseum para os amantes de Vermeer e Rembrandt), as lojas, os jardins (quem gosta tem de reservar umas horas para se perder no Vondelpark, uma imensa mancha verde tecida de plantas e lagos que em tempo foi residência de hippies), os diversificados restaurantes, as praças, as bicicletas e os seus monumentais parques de estacionamento, os teatros, as salas de concerto, … é de facto tanta a oferta que Amesterdão pode, sem complexos, resistir a rótulos e continuar a ser uma cidade onde todos vamos querer sempre regressar. É isso que a cristaliza na nossa memória, essa áurea de liberdade e tolerância que faz dela um espaço onde todos nos sentimos bem-vindos, independentemente da nossa cor, das nossas opções, dos nossos vícios, do que mostremos e do que escondamos.