António Fidalgo

Reaver as orais


Estamos em final de semestre, tempo de frequências e de exames, uma altura propícia para referir e lamentar que as avaliações sejam na grande, grande maioria apenas avaliações escritas. Com efeito, no ensino, do básico ao superior, as avaliações são feitas com base numa prestação escrita, sejam trabalhos escritos de grupo ou frequências individuais, tendo sido banidas quase por completo as provas orais. Apenas as apresentações de trabalhos, no âmbito das avaliações contínuas, lembram que o aluno também pode ser avaliado por uma prestação oral. Contudo, mesmo nestas apresentações orais, o recurso a retroprojectores e a data-shows tem vindo a aumentar, desobrigando assim os alunos da capacidade de apresentarem de viva voz uma matéria científica e de o fazerem com princípio, meio e fim.
Antigamente era tradição que apenas os alunos com uma nota francamente positiva na escrita ficassem dispensados da oral, normalmente o doze numa escala de 0 a 20. Mas também era tradição, pelo menos em algumas áreas científicas, que as melhores notas das avaliações escritas fossem aferidas por provas orais. Quem quisesse ter classificação de Muito Bom, acima do 16, teria de mostrar também oralmente que estava à altura dessa alta classificação.
Várias razões levaram a que as provas orais fossem banidas. Primeiro, considerou-se que não se deveria obrigar os alunos a duplicar situações difíceis, de aperto ou de stresse, optando-se então por limitar as avaliações apenas à componente escrita. Por outro lado, a massificação do ensino veio tornar cada vez mais difícil que se procedesse a uma avaliação individual, extremamente dispendiosa em termos de tempo para docentes e também muito cansativa. Fazer orais a turmas de 150 alunos, de dez a 15 minutos por cada aluno, é tarefa de largos dias.
No entanto, as provas orais são uma mais valia na avaliação e na formação dos alunos que de modo algum convém perder. Um aluno deve saber expor a matéria tanto sob a forma escrita como sob a forma oral. Por outro lado, a prova oral permite uma interactividade única entre professor e aluno, podendo um e outro reagir no momento ao outro. Pode-se esmiuçar um assunto, chamar a atenção para um pormenor.
A situação de um aluno se encontrar face a face perante um avaliador não é fácil. Há quem considere isso traumatizante. Mas mais traumatizante será a falha de exercício e de hábito de um aluno aprender a confrontar, cara a cara, com um avaliador. É que a na vida profissional muitas vezes há a necessidade de oralmente mostrar o que se vale. E as provas orais são uma excelente aprendizagem para essa necessidade. Ou seja, as orais valem simultaneamente como forma de avaliação e como forma de formação ou aprendizagem.