Helena Ferreira, Luísa
Pereira e Ana Paula Martins constitui o grupo de investigação
em Estatística de Extremos, integrado no Centro de
Matemática da Universidade da Beira Interior (CMUBI),
uma unidade de Investigação e Desenvolvimento
(I&D).
“Dados com assimetria e muitos valores extremos (muito
elevados ou muito pequenos) não são bem modelados
pela famosa distribuição Normal ou de Gauss”,
explica Helena Ferreira. Tais dados não provêm
de médias, mas sim de máximos ou mínimos.
Tempos de vida de um equipamento com vários componentes,
concentração máxima de uma substância
num fluido, máximo dos níveis de expressão
de um gene, resistência de uma composição
de vários materiais, são alguns exemplos em
que se pode estudar os fenómenos. São por
natureza, e “felizmente para a maior parte dos contextos”,
mais raramente observados.
A docente salienta “ser de todo o interesse (sobrevivência
e economia) estabelecer para estes dados alguma regularidade
estatística”, para que se possa estimar tempos
de retorno a períodos críticos e a duração
desses períodos. Esse é o objectivo geral
da Estatística de Extremos.
O trabalho passado do grupo de investigação
“teve como objectivo descrever as propriedades de
processos que têm tendência para apresentar
agrupamentos de valores elevados”. Procuram processos
onde acontecimentos raros ocorrem em grupos. Os resultados
provados e aplicados a processos auto-regressivos das três
investigadoras têm sido publicados em revistas internacionais
da especialidade e apresentados em congressos europeus de
Estatística e do Instituto Internacional de Estatística.
Uma outra preocupação do grupo de Helena Ferreira
prende-se com o efeito da sub-amostragem na ocorrência
dos acontecimentos raros. A docente dá o exemplo
dos mercados financeiros. “Alguns padrões de
extremos ocorrem em determinadas horas. As observações
correspondentes a esses períodos correspondem a sub-amostras
que conduzem naturalmente a resultados diferentes dos obtidos
com todas as observações horárias”,
clarifica.
“Trabalho de gabinete”
O trabalho de investigação de Helena Ferreira
e suas colegas na descoberta de modelizações
com boas propriedades “pressupõe trabalho
de gabinete árduo e moroso”. “As boas
ideias surgem depois de muito estudo e a intuição
não é mais do que um elevado grau de familiaridade
com as ferramentas” , destaca.
As aplicações de resultados e uso de software
sobre dados reais são “mais compensadoras
em tempo e em projecção mediática”.
Mas o maior desafio de investigação está,
na opinião da docente, na primeira fase, “aquela
em que se apanha menos sol, se come fora de horas e até
se sonha com soluções para o problema”.
O futuro do grupo de investigação de Estatística
de Extremos “passa pela construção
de coeficientes para medir o grau de dependência
entre as margens das distribuições multivariadas
de extremos”.
Um outro campo em que as investigadoras pretendem avançar
é o estudo de extremos em campos aleatórios,
“os quais têm a vantagem de possibilitar a
modelização de processos que variam em simultâneo
com tempo e espaço”.
Numa perspectiva mais prática, o grupo de investigação
gostaria de “conseguir a integração
numa equipa interdisciplinar com estatísticos,
informáticos, médicos e bioquímicos”,
com o objectivo de desenvolver ferramentas de optimização
de informação biológica. A ideia
é criar “um laboratório de BioInformática
com muitos olhos diferentes sobre enormes bancos de dados”,
concebe. Para Helena Ferreira, “a Estatística
e a Inteligência Artificial são excelentes
parceiros para as ciências da vida”.
O Centro de Matemática da UBI está actualmente
organizado em projectos de investigação
das áreas de Análise, Álgebra, Probabilidades
e Estatística e Computação. Por nomeação
directa do anterior director, Vadim Yourinski encontra-se
actualmente a supervisionar esta unidade de I&D.
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