António Fidalgo

Quatro doutoramentos


Há duas semanas o Urbi et Orbi deu conta de quatro doutoramentos feitos em Dezembro na UBI: um doutoramento em Engenharia Civil, um em Engenharia Informática e dois em Ciências da Comunicação. Sendo o doutoramento o marco crucial de uma carreira científica, devendo uma tese doutoral revelar não só capacidade científica do doutorando, mas também representar um contributo inovador na área científica em causa, há que reconhecer que a UBI teve um mês brilhante graças aos quatro novos doutores.
Embora redunde no mesmo dizer que houve uma qualificação do pessoal docente da UBI, que o número de doutorados do corpo docente da UBI tem tido um acréscimo significativo nos últimos anos, que a instituição colhe os frutos de um custoso investimento na formação avançada nos recursos humanos, será melhor dizer que na UBI se faz ciência e que essa feitura é visível nos doutoramentos, em provas públicas, abertas a todas e quaisquer pessoas interessadas, de dentro e de fora da universidade. Os novos doutores estão certamente de parabéns, e com certeza o doutoramento foi a prenda mais saborosa que, com o seu esforço ao longo de anos, trouxeram este ano até à árvore de Natal, mas a universidade está também de parabéns porque é tanto mais universidade quanto mais e melhores doutores fizer.
Aqui chegamos a um ponto complicado, problemático e até preocupante. Até agora os doutorandos da UBI, na sua maioria, são docentes da casa que, por lei, pelo Estatuto da Carreira Docente Universitária, são obrigados a fazer o doutoramento. Mas quando os docentes da UBI gradualmente forem quase todos doutorados, quem vão ser os novos doutorandos? Seria uma ironia terrível que até agora poucos doutores fizessem muitos doutores e daqui em diante muitos doutores fizessem poucos doutores, apenas porque o número de docentes não doutorados será proporcionalmente menor. Não é de mais dizê-lo e repeti-lo: uma universidade é tanto mais universidade quanto mais doutoramentos tiver. Os doutorandos são uma parte essencial da vida científica de uma universidade e não os ter seria cortar a seiva de que se alimenta o saber que as universidades têm de produzir e de transmitir.
A tradição portuguesa é a de encarar o doutoramento como uma prova específica da carreira universitária e isso, diga-se, é uma péssima tradição. Compreende-se dado que durante séculos houve apenas uma universidade e que Portugal não foi, não tem sido, um país que dedicasse à ciência um papel fundamental no seu desenvolvimento e a visse como um desígnio nacional. Mas agora há que perceber os doutoramentos de outra maneira e mudar de rumo. Um doutoramento não é o acesso a borla e capelo, a um pseudo-olimpo de professores doutores, mas é um acto contínuo de trabalho científico aturado ao longo de vários anos. Ora é para este trabalho, duro, calado, solitário, por vezes exasperante, que é preciso olhar, e mais do que olhar, promover.
A UBI tem como tarefa prioritária imediata promover os doutoramentos. Como os assistentes próprios vão sendo em número menor, tem de haver necessariamente captação de doutorandos sem vínculo lectivo à instituição. É um desafio enorme, mas é um desafio crucial e patente aos olhos da comunidade científica nacional, em particular aos avaliadores da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
O destino da UBI jogou-se nos últimos anos na suficiente captação de alunos de graduação, ou seja, de licenciatura. Daqui em diante o futuro da UBI como universidade de qualidade joga-se na captação de alunos de pós-graduação, de mestrado e de doutoramento. Pode ser um objectivo difícil, mas tem a vantagem de ser muito quantificável, de ser concreto, e de exigir medidas concretas para ser atingido.