Urbi et Orbi -
Quais são as decisões que tem de tomar enquanto
administrador dos Serviços de Acção
Social (SASUBI)?
Silva Raposo- Esta é uma das funções
mais ingratas da universidade. É o primeiro choque
que os alunos têm com os serviços prestados.
Costumo dizer que são duas as pessoas mais criticadas
nesta universidade: o administrador dos serviços
sociais, e o director dos serviços académicos.
São os dois sítios onde o serviço prestado
é muito controlado e julgado pelo aluno. Depois é
o conceito de que a acção social tem de ser
gratuita. Este serviço implica gerir 300 mil refeições
por ano, 470 camas, que com as da nova residência
passarão para 800, gerir as bolsas de estudo...
O orçamento do Estado dá para bolsas de estudo
e para pagar ao pessoal, não dá para mais
nada.
Depois há as receitas próprias, que cobramos
na refeição nas cantinas, cujo preço
é definido pelo Estado, nós adoptamos o preço
mínimo. Depois nas outras unidades alimentares há
outros pratos. Estipulam-se preços também
abaixo do preço de custo e assim tenta-mos facilitar
a vida ao aluno.
Relativamente às bolsas, a nível das universidades
públicas, somos, a seguir à Madeira, os serviços
de acção social com maior percentagem de bolseiros.
Este ano devemos rondar os 1700 bolseiros, cerca de 36 por
cento. Isto significa que mais de um aluno em cada três
é bolseiro.
A função de administrador é bonita,
porque presta apoio aos estudantes e, ao mesmo tempo, ingrata.
U@O- O que mais lhe agrada e desagrada nesta
função?
S.R.- Isto é a frustração
de um economista. A minha função é
reduzir custos. E tentar gerir interesses, porque quando
se sobe o preço de uma coisa tem de se baixar o
de outra e vice-versa.
As decisões têm de ser tomadas, mas muitas
vezes o estudante, ou o utente da cantina ou do bar acha
que está tudo caro. Só que desconhece que
o dinheiro que vem do Estado e o que ele manda subsidiar,
são bolsas de estudo a fundo perdido. Põe
um preço fixo para os bolseiros nas residências
e depois estipula um preço mínimo para as
refeições nas cantinas. A partir daí
liberta-se, e nós temos de gerir o que nos resta.
U@O- Os bares e as cantinas podem realmente ser
considerados sociais ou esse conceito não é
bem compreendido pelos estudantes?
S.R.- A refeição de cantina é
subsidiada, essa é que é verdadeiramente
social. Depois, se uma refeição nas cantinas
e nos snacks, fica ao final do ano em cerca de 3 euros,
tendo em conta custos de funcionamento, e se um utente
paga uma refeição abaixo dos 3 euros, está
a pagar um preço social.
Quando o aluno diz que o café ou que a sandes são
caros, não entende que não é o custo
do pó do café que está em causa,
mas todos os custos com o funcionamento.
Se o orçamento que vem do Estado dá para
pagar ao pessoal, o funcionamento das residências,
das cantinas, toda a comida e toda a bebida, tem de ser
centrado nas receitas que se geram.
U@O- Com os cortes efectuados este ano e o aumento
das propinas, as bolsas serão suficientes, principalmente
no que diz respeito aos alunos mais carenciados?
S.R.- A bolsa média irá situar-se
entre os 125 e os 135 euros, é pequena. A bolsa
não substitui o apoio dos pais ou familiares. Nós
temos uma das maiores percentagens de bolseiros, mas a
bolsa é uma ajuda, um apoio e, segundo o programa
e as decisões que o Governo está agora a
adoptar, a bolsa de estudo é uma ajuda que o aluno,
mais ou menos carenciado recebe, conforme o rendimento
per capita definido a nível nacional. O estado
resolveu que o bolseiro irá receber dos Serviços
de Acção Social todos os meses um duodécimo
da propina mínima que irá pagar. O diferencial
do que os SASUBI dão ao bolseiro, será depois
entregue directamente à instituição
pelo Ministério.
Mas penso que as bolsas são pequenas. Talvez fosse
preferível haver menos, mas melhores bolsas. Naturalmente,
a bolsa mínima dá para pagar a propina,
a bolsa máxima pode ir até aos cerca de
350 euros.
U@O-Relativamente à concessão da
Cantina da Boavista, que balanço faz passado mais
de um ano?
S.R.- Posso-lhe dizer que depois da concessão,
a Cantina da Boavista é capaz de produzir refeições
mais baratas que nós. O pessoal no regime privado
trabalha oito horas. Na função pública
trabalham sete.
Em segundo lugar, a concessão obri-gounos a um
patamar de controlo de qualidade que não tínhamos
até aqui. Neste momento temos inspecções
regulares da direcção geral da qualidade
alimentar, e obrigaram-nos a obras de reformulação.
Agora, os circuitos de quem fornece refeições
públicas são mais rigorosos do que na nossa
casa, ou do que num café ou snack da cidade.
Claro que alguns estudantes continuam a criticar e recebo
sugestões e críticas todas as semanas.
Mas hoje, o aluno da UBI tem várias opções.
Se quer comer uma refeição social numa cantina,
tem essa possibilidade. Pode ir a um snack, onde tem diversos
patamares de qualidade. Tem serviço de buffet na
Ernesto Cruz, e ao fim de semana, se quiser, vai comer
ao restaurante com a senha da cantina. Tem quatro à
escolha na cidade.
Nós estamos a tentar fornecer uma refeição
minimamente de qualidade, e não uma refeição
topo de gama, é uma refeição normal,
o mais higiénica possível. A nível
do controlo higiénico-sanitário não
tenho dúvidas. As cantinas dos serviços
sociais, devido às obras que tivemos de fazer e
à implantação do sistema de controle
de qualidade, são dos sítios onde os controlos
estão a ser feitos com mais rigor.
U@O- Existe a possibilidade, apontada pelo Reitor,
de construir uma residência (junto à futura
Faculdade de Ciências da Saúde) em parceria
com privados. O que pensa dessa hipótese?
S.R.- Estou totalmente de acordo com tudo o que
seja construir estruturas para apoiar a universidade.
Neste momento temos uma residência em fase de conclusão,
a Pedro Álvares Cabral. Passamos a ter uma melhor
oferta para os alunos deslocados, com cerca de 800 camas.
É quase duplicar a capacidade que temos hoje em
dia.
O ideal seria construir mais residências, mas dada
a crise que atravessamos, não vejo a curto prazo
o Estado a apoiar mais residências. Tenho todo o
interesse em criar mais residências, seja em parceria
com privados ou não, mas também poderá
ser construída noutro local da cidade.
De qualquer forma, e dada a contenção que
existe, há prioridades, como o desporto e a saúde,
por exemplo.
U@O- Quando estará concluída a
residência Pedro Álvares Cabral e como está
estruturada?
S.R.- Penso que em Janeiro deverá estar
concluída. Quando puder abrir, abrirá, mesmo
sabendo que a meio do ano os alunos já têm
quartos.
Na residência nova, os quartos têm uma estrutura
tipo duplex, camas em cima e secretárias em baixo.
Cada conjunto de dois quartos, tem um hall com casa de
banho comum. No corredor abre-se uma porta para esse hall
e daí para os quartos, ou seja, cada conjunto de
quatro utentes terá uma certa privacidade.
Penso que este é um sistema muito agradável,
e que a residência é muito bonita. Ao fim
de cada piso há uma cozinha e uma sala de estudo.
Hoje em dia confunde-se muito a residência com um
apartamento, mas não se pode, em nenhuma residência
cozinhar nos quartos, excepto nos apartamentos que têm
cozinha própria. Esta residência vai ter
apoio de cozinha ao final do piso, onde o aluno poderá
perfeitamente aquecer leite, fazer uma sandes, etc..
Penso que o sistema é agradável e vai funcionar
muito bem.
U@O- Como gostaria de ver os Serviços
de Acção Social daqui a alguns anos?
S.R.- Gostaria, a nível pessoal, que os
SASUBI, fossem os melhores do País, a nível
de serviços e qualidade. Gostaria de ir à
procura do que os utentes precisam. Penso que a Acção
Social está a modificar-se e que deveria diversificar-se
por três grandes áreas: saúde, desporto
e cultura. Vamos tentar duplicar o apoio a nível
de planeamento familiar, onde há listas de espera.
Também tentaremos fazer acordos para apoio psicológico.
Depois, na área desportiva, queremos implementar
uma variedade de oferta. Se tivéssemos verbas,
apostaríamos na cultura. Sou a favor da promoção
de trocas culturais entre universidades portuguesas e
estrangeiras.
Também gostaria que houvesse uma espécie
de provedor, uma pessoa que conseguisse detectar as necessidades
dos utentes. Poderia ser mesmo um aluno.
É preciso saber qual é o principal problema
do aluno e tentar resolvê-lo.
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Nasceu e cresceu no Ferro. Só saiu
desta aldeia próxima da Covilhã
para estudar no liceu de Castelo Branco,
seguindo depois para o Instituto Superior
de Ciências Económicas e Financeiras,
em Lisboa, onde se licenciou em Finanças.
“Foi este o meu percurso estudantil,
com a tropa pelo meio. Fiquei no Ultramar
durante quatro anos”, lembra.
Depois da licenciatura, em 1973, teve de
optar entre ficar em Lisboa numa empresa
multinacional, ou aceitar o convite do fundador
do Instituto Politécnico da Covilhã,
Duarte Simões para o Grupo de Trabalho
e Planeamento da Cova da Beira. “Era
um grupo que fazia estudos e planeava o
desenvolvimento da Cova da Beira e, na altura,
vim fazer estudos na área das empresas
do sector têxtil”, recorda.
No ano seguinte, 1974, ingressou no então
Instituto dos Têxteis que tinha um
gabinete de estudos e licenciava o comércio
a nível de importações
e exportações têxteis.
“Estava ao mesmo tempo na área
do licenciamento e no Gabinete de Estudos”,
refere. Nesse intervalo, foi docente durante
um semestre no então Instituto Politécnico
da Covilhã. “O Dr. Duarte Simões
praticamente obrigou-me”. Leccionou
a disciplina de Planeamento Regional e Corporativismo.
“Na altura era chefe de divisão
do Gabinete do Instituto de Estudos e Licenciamento
do Comércio, da delegação
do Instituto dos Têxteis da Covilhã”.
Aí permaneceu até 1985, altura
em que foi convidado para dirigir os Serviços
de Acção Social. “Já
lá vão quase 19 anos”.
Desde aí, Silva Raposo tem exercido
a sua função como administrador
“acompanhando a evolução
dos serviços. De 85 para cá,
cresceu e mudou muito, a nível de
alunos, de funções, e de serviços
prestados”, sublinha.
Nos tempos livres, o administrador foge
para o campo, ao encontro das suas árvores
de fruto. “Tenho umas cerejeiras e
umas oliveiras e assim me entretenho”.
Silva Raposo afirma-se “regionalista
a 100 por cento. Penso que a Beira Interior
é hoje um dos sítios onde
pode haver uma qualidade de vida superior
até à dos grandes centros,
e sou defensor de toda a descentralização
possível para que a nossa região
não seja sempre aquela região
pobre e esquecida dos poderes políticos”,
defende.
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