Inverno potencialmente perigoso
Dar mais segurança à Serra da Estrela

O Grupo de Montanha da GNR, única equipa profissional a trabalhar em operações de resgate nestes cenários, aposta na prevenção, mas procura estar sempre em condições de intervir em situações mais complexas. Ao fim-de-semana, há reforço de pessoal, pois o trânsito intensifica-se na Estrela.

Ana Ribeiro Rodrigues
NC / Urbi et Orbi


“Não está ninguém dentro do carro. Quando voltarmos a passar cá, se não virmos ninguém, temos de ir ver o que se passa”, diz um elemento do Grupo de Montanha da GNR enquanto patrulha a Serra da Estrela, coberta de neve, com nevoeiro denso e onde se faz sentir um vento muito forte. Nestas circunstâncias já tiveram que procurar algumas pessoas que se perderam no nevoeiro, e é esse o receio. Uma vez que as condições climatéricas são adversas é importante prestar particular atenção à prevenção e alertar os condutores que circulam na Serra para os eventuais perigos que correm. Essa é, de resto, uma das funções da única equipa a operar de forma profissional em resgates e apoio na montanha, em permanência na Serra da Estrela desde Maio último.
O grupo, de 12 pessoas, tem como função específica o resgate em áreas de montanha e a sua área de intervenção estende-se a todo o território nacional, sempre que necessário, embora tenha a Serra da Estrela como ponto fulcral, por ser onde mais se justifica a sua intervenção. Mas o seu trabalho contempla também a sensibilização das pessoas que visitam a Estrela.
São três as equipas que fazem parte do Grupo de Montanha. Enquanto uma está de folga andam duas no terreno, a de instrução diária e a de patrulhamento, que reflectem as duas vertentes do trabalho realizado no dia a dia. O grupo que diariamente se encontra em instrução dá também apoio, mas a sua ocupação é aperfeiçoar as técnicas e conhecimentos que lhes permitiu integrar este conjunto de profissionais.
Um curso intensivo de primeiros socorros, um de todo-o-terreno e outro tirado no Instituto Nacional de Meteorologia, para conseguirem fazer diversas previsões que acabam por lhes ser bastante úteis na prática, fizeram parte da formação específica que tiveram para poder operar nas condições em que o fazem. Para além disso os guardas deste destacamento sabem também saltar de páraquedas, andar de esqui, “e dominam tudo o que são desportos de montanha”, como escalada, slide ou rapel. Mas, segundo o sargento Carlos Fernandes, responsável pela coordenação, “uma equipa destas é como uma equipa de futebol. É necessário se exercitar permanentemente, porque se os outros conseguem fazer muito bem nós temos que fazer melhor”. Por isso, nos dias de semana, vão simulando operações de socorro e salvamento. E já por diversas vezes, e em seis vezes em situações mais complexas, puseram em prática em cenários bem reais esses exercícios.

As ratoeiras da Serra

“O nosso material é do mais sofisticado que existe”, sublinha Carlos Fernandes, tanto o equipamento das viaturas como o restante. “Devido às características e à capacidade que o material lhe confere, com geradores, guinchos, tripé e mini posto de socorro, a viatura da equipa de prevenção permite dar resposta às diversas situações”, acrescenta. E quando cada elemento sai do posto transporta sempre consigo uma mochila de 65 litros com o equipamento individual para qualquer ocorrência, apesar de trabalharem sempre em equipa.
Para dar ideia das precauções que é necessário ter na Estrela, dão o exemplo de um resgate nocturno que fizeram para procurar duas pessoas que até eram bem experientes nestas andanças e que até já tinham participado em expedições com o alpinista João Garcia. Para estes elementos da GNR, que têm palmilhado a Serra nos últimos meses, ela tem ratoeiras, como a vegetação junto às linhas de água, que podem ser um obstáculo, ou o nevoeiro denso que por vezes se forma de repente. A equipa tem também planeadas formas de actuação em caso de acidente nos locais que consideram ser pontos negros.
Na opinião de Carlos Fernandes “um grupo destes tem de ter características muito próprias”. No caso, estes 12 elementos vêm do batalhão operacional da GNR, o que, segundo o sargento, por virem de unidades especiais, os faz ter uma capacidade física extra. Por outro lado têm uma formação militar “que permite ter disciplina, que é necessário e bom”. Mas para Carlos Fernandes os aspectos psicológicos são igualmente importantes. A média de idades deste grupo, que se veste de forma diferente, com polares por dentro dos casacos e anda de gorro na cabeça com as letras GNR estampadas a fluorescente, ronda os 26 anos.
Alguns dos membros da equipa são da região. Quanto a Carlos Fernandes, é de Viseu, e explica por que está aqui: “Sempre gostei de desafios à capacidade humana”. “Viemos para aqui por gosto e com o objectivo de ajudar a expandir o nome da Serra, que tem potencial”, frisa. O coordenador sublinha ainda que a equipa está bastante motivada e que se criou uma maior segurança na Serra. Para este responsável a criação do Grupo de Montanha é o reflexo “da necessidade que a GNR tem de se preparar cada vez melhor face à realidade actual”. “Vem dar resposta a uma lacuna que existia e só peca por ser tardia”, salienta.