Explorando as terras altas
Edimburgo > Inverness > Glasgow
Por Catarina Moura
O
dia mal despontara ainda quando chegámos a Edimburgo.
Levávamos já alguns dias em viagem, explorando
o Reino Unido, mas a Escócia prometia ser o ponto
alto do nosso Inter-Rail. Com os cenários do “Trainspotting”
a fervilhar-nos na memória, deixámos as
mochilas na estação
e fomos aproveitar as horas que tínhamos disponíveis
para nos perdermos pela cidade. Não há melhor
maneira de conhecer um lugar que perder-se nas suas ruas,
caminhar ao acaso, desfrutando com cada descoberta. Apesar
de estarmos em pleno Agosto, Edimburgo recebeu-nos com
uma chuva miudinha que se manteve durante toda a nossa
estadia em solo escocês. O céu cinzento,
a chuva, a suave bruma nevoenta que a tudo envolvia, davam
o tom a imponentes edifícios, palácios e
palacetes, transformando a cidade numa ilustração
a três dimensões de um conto mágico
e fantasmagórico.
As paisagens de Edimburgo - os jardins e as montanhas
que recortavam o horizonte, faziam já adivinhar
a verde Escócia das nossas expectativas. As horas
passadas no comboio que nos levou a Inverness não
só as confirmaram como superaram. Atravessamos
a Escócia em apenas algumas horas, através
de uma paisagem constante, marcada pela verde ondulação
das montanhas, ondulação que a proximidade
das terras altas foi redesenhando com traços mais
abruptos e impressionantes. Aquela era a Escócia
das nossas fantasias.
Omnipresente, a chuva também marcou a nossa chegada
à nortenha Inverness que, no entanto, em comparação
com Edimburgo, nos pareceu mais luminosa e acolhedora.
Desenhada nas margens do rio Ness, são várias
as boas descobertas que nos oferecem as ruas desta cidade
das Highlands. A imponência da Catedral, do Castelo,
das pontes suspensas, da estação, não
tira beleza às estreitas ruas e à típica
arquitectura dos edifícios que as ladeiam, convidando
a prolongar o passeio.
No momento em que resolvemos procurar alojamento, deparámo-nos
com a desagradável surpresa de uma cidade lotada,
forçando-nos a dirigir as nossas esperanças
às aldeias e vilas mais próximas. Como sempre,
é dos imprevistos que surgem as melhores surpresas,
e este caso não foi excepção, pois
este imprevisto foi responsável pelo ponto alto
de toda a viagem: a descoberta de Strathpeffer. Apesar
de considerada por muitos como a menos escocesa das cidades
escocesas, para nós a pequena e acolhedora Strathpeffer
ilustrava exactamente a Escócia que esperávamos
encontrar, com os seus bosques verdes e frondosos, escondendo
marcas de civilizações perdidas. Um momento
essencial para recuperar energias e ânimo para seguir
viagem.
Não podíamos abandonar Inverness sem visitar
o monstro das redondezas, aquele que habita o famoso Loch
Ness. Descobrimos que, afinal, o único monstro
que habita as plácidas águas é o
da exploração turística, à
qual também beneficia a espectacular e sempre verde
paisagem, povoada de castelos e de todo o misticismo das
terras altas que, com saudosismo precoce, fomos abandonando
em direcção a Glasgow.
Pela primeira vez desde que chegáramos à
Escócia, não chove. Glasgow recebe-nos cheia
de sol e rapidamente nos apercebemos da enorme vitalidade
que faz desta cidade uma das mais cosmopolitas de toda
a Europa. A espantosa arquitectura vitoriana compõe
o cenário desta cidade onde, por toda a parte,
se respira arte, cultura e uma estranha aliança
entre sofisticação e um certo ar típico
que contribuem definitivamente para o “trendy”
do lugar. O toque final é dado pelo culto dos cafés,
que povoam a cidade de animadas e coloridas esplanadas,
onde, antes de mergulhar no rebuliço citadino e
explorar as suas mil ofertas, apetece sentar e usufruir
plenamente do prazer inesperado que foi aquele dia de
sol.
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