“Uma causa genética
como factor de risco para as depressões clínicas”,
foi esta a descoberta realizada por um grupo de investigadores
da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS) da
Universidade da Beira Interior (UBI).
”Descobrimos que as pessoas possuidoras de um gene
específico, denominado 2c9, têm maior propensão
para ter depressões clínicas”, explica
Adrián Llerena, responsável na UBI pela investigação
e coordenador, a nível europeu, do projecto em que
o estudo está incluído. Adrián Llerena
elucida que se tratam de “depressões mais graves,
como aquelas em que surge o risco de suicídio, e
não de simples mudanças de humor”.
Um artigo sobre a novidade científica foi publicado
na edição de Dezembro do Pharmacogenomics
Journal, uma revista norte-americana de fármaco-genética.
O docente classifica as conclusões do artigo como
“inovadoras a nível mundial”.
A tese foi desenvolvida com o apoio do Hospital Psiquiátrico
de Havana (Cuba), uma das entidades que trabalha em coordenação
com a equipa de investigação da UBI. O Hospital
Psiquiátrico de Havana forneceu informações
sobre os seus pacientes depressivos, o que serviu de base
para os estudos que pesquisavam um padrão genético.
A criação de estudos, com cariz preventivo,
para se poderem determinar grupos ou pessoas em risco de
contraírem mais frequentemente a doença é
uma das principais metas dos investigadores sediados na
Covilhã.
Este projecto vai concorrer, em Janeiro, a fundos europeus
para a criação de um laboratório, inserido
no Centro de Investigação em Ciências
da Saúde, onde se possam fazer análises de
ADN.
Investigação organizada
Este grupo de investigação surgiu em 2001,
quando a FCS coloca um anúncio na The Lancet, uma
revista médica, à procura de uma pessoa
que ficasse responsável pela farmacogenética
e farmacologia na UBI. Foi nessa altura em que Adrián
Llerena se associou à UBI como professor catedrático,
para começar a docência e investigação
na FCS. “Durante estes dois anos foram publicados
nove artigos internacionais, um capítulo de livro
e nove comunicações em congressos”,
congratula-se.
De momento, estão três pessoas no projecto,
mas os responsáveis esperam incluir num futuro
próximo alunos de doutoramento e também
pesquisas de trabalhos de final de licenciatura.
O grupo está coordenado com outras unidades a nível
europeu, como o Instituto Karolinska de Estocolmo, vencedor
do Prémio Nobel de Medicina em 2000, a Universidade
de Uppsala, na Suécia, e a Universidade de Extremadura,
em Espanha. A nível mundial, existe a colaboração
com um hospital no Kentucky (Estados Unidos da América)
e com o Hospital Psiquiátrico de Havana. “Todas
estas universidades colaboram num projecto internacional
de grande importância”, acentua Adrián
Llerena .
“A FCS está a fazer uma investigação
para os doentes, não só na Beira Interior,
mas também em outras zonas do planeta”, defende
Llerena. O investigador acredita ser “fundamental
que a FCS faça parte de um grupo de investigação
que procura solucionar problemas importantes para todos,
sempre com fundos públicos e sem qualquer relação
a entidades farmacêuticas privadas”. O lema
de Adrián Llerena é “Estudar problemas
de saúde pública em universidades públicas”.
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