Pedro Dorado (à esquerda) e Adrián Llerena (à direita) estão envolvidos num projecto de investigação genética
Pesquisa genética aplicada à farmacologia
Investigadores da UBI publicam em revista médica norte-americana

Adrián Llerena é o responsável na Universidade da Beira Interior por um projecto de investigação farmacológica que descobriu um gene responsável por uma maior susceptibilidade de depressão clínica. A descoberta é apresentada num artigo científico incluído na edição deste mês da conceituada revista Pharmacogenomics Journal.


Por Daniel Sousa e Silva


“Uma causa genética como factor de risco para as depressões clínicas”, foi esta a descoberta realizada por um grupo de investigadores da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS) da Universidade da Beira Interior (UBI).
”Descobrimos que as pessoas possuidoras de um gene específico, denominado 2c9, têm maior propensão para ter depressões clínicas”, explica Adrián Llerena, responsável na UBI pela investigação e coordenador, a nível europeu, do projecto em que o estudo está incluído. Adrián Llerena elucida que se tratam de “depressões mais graves, como aquelas em que surge o risco de suicídio, e não de simples mudanças de humor”.
Um artigo sobre a novidade científica foi publicado na edição de Dezembro do Pharmacogenomics Journal, uma revista norte-americana de fármaco-genética. O docente classifica as conclusões do artigo como “inovadoras a nível mundial”.
A tese foi desenvolvida com o apoio do Hospital Psiquiátrico de Havana (Cuba), uma das entidades que trabalha em coordenação com a equipa de investigação da UBI. O Hospital Psiquiátrico de Havana forneceu informações sobre os seus pacientes depressivos, o que serviu de base para os estudos que pesquisavam um padrão genético.
A criação de estudos, com cariz preventivo, para se poderem determinar grupos ou pessoas em risco de contraírem mais frequentemente a doença é uma das principais metas dos investigadores sediados na Covilhã.
Este projecto vai concorrer, em Janeiro, a fundos europeus para a criação de um laboratório, inserido no Centro de Investigação em Ciências da Saúde, onde se possam fazer análises de ADN.

Investigação organizada

Este grupo de investigação surgiu em 2001, quando a FCS coloca um anúncio na The Lancet, uma revista médica, à procura de uma pessoa que ficasse responsável pela farmacogenética e farmacologia na UBI. Foi nessa altura em que Adrián Llerena se associou à UBI como professor catedrático, para começar a docência e investigação na FCS. “Durante estes dois anos foram publicados nove artigos internacionais, um capítulo de livro e nove comunicações em congressos”, congratula-se.
De momento, estão três pessoas no projecto, mas os responsáveis esperam incluir num futuro próximo alunos de doutoramento e também pesquisas de trabalhos de final de licenciatura.
O grupo está coordenado com outras unidades a nível europeu, como o Instituto Karolinska de Estocolmo, vencedor do Prémio Nobel de Medicina em 2000, a Universidade de Uppsala, na Suécia, e a Universidade de Extremadura, em Espanha. A nível mundial, existe a colaboração com um hospital no Kentucky (Estados Unidos da América) e com o Hospital Psiquiátrico de Havana. “Todas estas universidades colaboram num projecto internacional de grande importância”, acentua Adrián Llerena .
“A FCS está a fazer uma investigação para os doentes, não só na Beira Interior, mas também em outras zonas do planeta”, defende Llerena. O investigador acredita ser “fundamental que a FCS faça parte de um grupo de investigação que procura solucionar problemas importantes para todos, sempre com fundos públicos e sem qualquer relação a entidades farmacêuticas privadas”. O lema de Adrián Llerena é “Estudar problemas de saúde pública em universidades públicas”.