”Hoje vive-se
um paradigma filosófico diferente do vivido até
há pouco tempo atrás. A realidade é
mais complexa e sistémica.” É com
estas frases do filósofo Thomas Kuhn, que Jacinto
Rodrigues, docente da Faculdade de Arquitectura da Universidade
do Porto, inicia a sua conferência, proferida no
dia 17, quarta feira, intitulada “Repensar o Território
– da modernidade ao paradigma ecológico”.
Os três pilares da sociedade são, na opinião
de Jacinto Rodrigues, a contaminação, o
esgotamento e a exclusão social.
“Os eco-sistemas são violentados pelo alargamento
duma tecnologia produtora de esgotamento energético
e matérias-primas, ao mesmo tempo que gera lixos
tóxicos”, argumenta.
Rodrigues pretende promover “o eco-desenvolvimento
como alternativa para qualquer das sociedades”.
“Qualquer que seja a etapa de crescimento, terá
que ter uma opção tecnológica e territorial
ecologicamente sustentável que possa auferir experiência
prática, teórica e científica da
humanidade”, lembra..
Os urbanistas comportaram-se até hoje como “dóceis
serviçais do poder político e económico
dominante e dos interesses especulativos e mercantis,
da sociedade capitalista”, garante Jacinto Rodrigues.
O docente da Faculdade de Arquitectura da Universidade
do porto mostrou aos alunos da licenciatura em Arquitectura
da UBI alguns exemplos de uma “eco-construção”.
As ruínas dum enorme edifício de metalurgia
da empresa Thyssen, conservaram-se no local, artisticamente
embelezado, “de modo a que toda a monstruosa maquinaria,
se torne numa espécie de templo, em memória
duma paleo-técnica que se extinguiu”, conta.
Os jovens praticam agora jogos de escalada e as crianças
procuram esconderijos bizarros, que pairam no bosque biodiversificado
que cresce por entre os destroços do cemitério
industrial.
A Exposição Internacional de Hannover é
outro exemplo apresentado por Jacinto Rodrigues. “É
uma importante amostra de propostas ecológicas”,
refere. . Um projecto, promovido pela Demetter-Haus, (empresa
de produtos biológicos), que consiste no estabelecimento
de um grande mercado de produtos biológicos dentro
duma enorme cobertura envidraçada, cobrindo jardins
suspensos sobre uma enorme cisterna que retém todas
as águas da chuva que caírem no recinto
da feira.
Essa água, uma vez retida e purificada nos "
filtros biológicos" - os próprios jardins
- volta a ser reutilizada nos gastos da própria
feira, nomeadamente rega e serviços sanitários.
Jacinto Rodrigues é defensor que Portugal deveria
enveredar por um caminho de “ecologização”,
para compensar “o atraso da conciência ecológica
nacional”.
“Estas experiências ecológicas, que
são inovações de vanguarda científica,
deveriam ser realizadas em Portugal para que, com essa
eco-técnica, se aproveitasse o fraco desenvolvimento
industrial em que ainda nos encontramos, antecipando-nos
assim aos malefícios duma super-industrialização
poluitiva que ainda não nos tocou a um nível
tão profundo”, remata.
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