Por Daniel Sousa e Silva


Jancinto Rodrigues apresentou um exemplo de urbanização feito numa provínvia alemã

”Hoje vive-se um paradigma filosófico diferente do vivido até há pouco tempo atrás. A realidade é mais complexa e sistémica.” É com estas frases do filósofo Thomas Kuhn, que Jacinto Rodrigues, docente da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, inicia a sua conferência, proferida no dia 17, quarta feira, intitulada “Repensar o Território – da modernidade ao paradigma ecológico”.
Os três pilares da sociedade são, na opinião de Jacinto Rodrigues, a contaminação, o esgotamento e a exclusão social.
“Os eco-sistemas são violentados pelo alargamento duma tecnologia produtora de esgotamento energético e matérias-primas, ao mesmo tempo que gera lixos tóxicos”, argumenta.
Rodrigues pretende promover “o eco-desenvolvimento como alternativa para qualquer das sociedades”. “Qualquer que seja a etapa de crescimento, terá que ter uma opção tecnológica e territorial ecologicamente sustentável que possa auferir experiência prática, teórica e científica da humanidade”, lembra..
Os urbanistas comportaram-se até hoje como “dóceis serviçais do poder político e económico dominante e dos interesses especulativos e mercantis, da sociedade capitalista”, garante Jacinto Rodrigues.
O docente da Faculdade de Arquitectura da Universidade do porto mostrou aos alunos da licenciatura em Arquitectura da UBI alguns exemplos de uma “eco-construção”.
As ruínas dum enorme edifício de metalurgia da empresa Thyssen, conservaram-se no local, artisticamente embelezado, “de modo a que toda a monstruosa maquinaria, se torne numa espécie de templo, em memória duma paleo-técnica que se extinguiu”, conta. Os jovens praticam agora jogos de escalada e as crianças procuram esconderijos bizarros, que pairam no bosque biodiversificado que cresce por entre os destroços do cemitério industrial.
A Exposição Internacional de Hannover é outro exemplo apresentado por Jacinto Rodrigues. “É uma importante amostra de propostas ecológicas”, refere. . Um projecto, promovido pela Demetter-Haus, (empresa de produtos biológicos), que consiste no estabelecimento de um grande mercado de produtos biológicos dentro duma enorme cobertura envidraçada, cobrindo jardins suspensos sobre uma enorme cisterna que retém todas as águas da chuva que caírem no recinto da feira.
Essa água, uma vez retida e purificada nos " filtros biológicos" - os próprios jardins - volta a ser reutilizada nos gastos da própria feira, nomeadamente rega e serviços sanitários.
Jacinto Rodrigues é defensor que Portugal deveria enveredar por um caminho de “ecologização”, para compensar “o atraso da conciência ecológica nacional”.
“Estas experiências ecológicas, que são inovações de vanguarda científica, deveriam ser realizadas em Portugal para que, com essa eco-técnica, se aproveitasse o fraco desenvolvimento industrial em que ainda nos encontramos, antecipando-nos assim aos malefícios duma super-industrialização poluitiva que ainda não nos tocou a um nível tão profundo”, remata.