"O comércio
está na Covilhã, como em muitos outros sítios
do País, a ser objecto de uma grande recessão
em termos económicos". Foi desta forma que Miguel
Bernardo, vice-presidente da Associação Comercial
e Industrial da Covilhã, começou por explicar
o porquê do comércio na cidade não estar
no seu auge.
"Podemos ter grandes estabelecimentos, mas se tivermos
ruas pouco povoadas e habitadas, mais dificuldade o comércio
tem para se afirmar enquanto realidade económica",
assegura, ao mesmo tempo que aponta a primeira debilidade
"à cidade, que tem uma crise de relacionamento
com o centro". Miguel Bernardo salienta que "a
Covilhã, curiosamente, não foi construída
em torno de uma perspectiva de comércio, como é
normal em termos de estruturas urbanas". E acrescenta
que "a Covilhã é claramente uma cidade
industrial, que foi construída nessa perspectiva
de aproveitamento dos recursos naturais", em que "o
comércio não foi o que resultou em termos
da construção da cidade". No entanto,
considera o comércio como uma parte determinante,
mas que "tem grandes lacunas em termos de organização",
revela.
Segundo Miguel Bernardo, o momento que se vive é
decisivo para tomar opções e para ter relações
com a cidade. Um exemplo que dá é o facto
do comércio "não ter disponibilidade
para pensar em novos horários, que é uma das
coisas fundamentais a ser equacionada a curto prazo".
Outra, é o "não estar sensível
à questão do mix comercial e da sua própria
oferta relativamente àquilo que são os novos
desafios e as novas procuras do consumidor", continua.
"O comércio não quer entender que estamos
a mudar enquanto consumidores e que, em conjunto, devemos
saber e procurar acompanhar essas mudanças",
comenta. E a melhor forma de o fazer é "com
uma revolução das mentalidades de todo o centro",
garante.
Do ponto de vista da organização, o responsável
diz que "é preciso saber contar com uma opção
estratégica e clara de quais são os desígnios
e os públicos". Uma possível solução
que Bernardo dá a conhecer é saber viver a
cidade. "Se não se viver a cidade, se não
tivermos entrosados com a cidade e tivermos o vício
de usar a cidade e o centro, o comércio pode fazer
tudo". Já pelo contrário, "se o
comércio não souber dar passo no sentido de
integração, a cidade pode fazer tudo porque
o comércio não vai ter resultado algum disto",
enfatiza. "A crise não justifica
tudo"
A crise económica que o País atravessa não
é, de facto, a única causa do comércio
não andar sobre rodas. Tal como Miguel Bernardo
indica, "o comércio é mais do que a
economia e a crise não está só situada
no âmbito das dificuldades económicas, porque
estas não podem, nem devem ser uma espécie
de paragem no tempo". Deste modo, é necessário
ter "uma visão mais alongada em relação
à contextualização da crise e dos
problemas do comércio", salienta.
Apesar de Bernardo admitir que a crise é um dado
evidente, "não se pode mascará-la,
nem tê-la como referência". Antes pelo
contrário, pois "atitudes têm que ser
posicionadas para dar a volta àquilo que é
o momento pós-crise", argumenta. E evidencia:
"Se quisermos ter uma atitude de mudança perante
as hipóteses de crise, temos que ter tambérm
uma solução". E a solução
para o vice-presidente da Associação passa
por "conhecer as debilidades e perceber que esta
interacção e relação comércio
/ cidade, é que determina o sucesso do comércio,
da Covilhã", sublinha.
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