Recordando o tom sépia




Bath












Por Catarina Moura

Estávamos alojados em Bristol, que teimosamente decidimos conhecer porque, fascinados que estávamos na altura com a música dos Portishead, achávamos que a cidade que os viu nascer como banda certamente teria algum do encanto que a voz de Beth Gibbons deixa passar.
Talvez a chuva que nos recebeu quando chegámos à cidade não tenha contribuído para o desejo de a explorar. Rapidamente estamos agarrados ao mapa, tentando descobrir nas redondezas algum ponto de interesse que fizesse a viagem valer a pena. E que descoberta. A uns escassos 21 quilómetros encontrámos Bath, uma cidade magistral na sua fabulosa arquitectura, suavizada aqui e ali por jardins cujo verde profundo contrasta perfeitamente com o tom sépia com que a vejo vestida na minha memória.
Mil vezes cenário dos romances ingleses dos séculos XVIII e XIX, Bath é um exemplar perfeito da arquitectura romana que o tempo se esqueceu de corromper. Sendo a única cidade inglesa a possuir águas termais, os romanos rapidamente fizeram uso deste recurso natural, construindo aí os seus Banhos, ainda hoje uma das maiores atracções do local. O esplendor romano, abafado durante a Idade Média, é recuperado em 1700, quando a corte transforma Bath num luxuoso ponto de encontro da nobreza inglesa, centro de todo o “chique” da época, algo que também se vai reflectir arquitectonicamente.
Toda a cidade emana imponência, mas é talvez ao chegar ao Royal Crescent que mais facilmente nos sentimos transportados para um qualquer romance de Jane Austen. A Catedral e o Museu do Postal são, juntamente com os Banhos Romanos e o Royal Crescent, os pontos imperdíveis desta visita, mas sinceramente o que mais prazer nos deu foi passear pela cidade, pelos seus jardins, e sentir a sua história a cada passo e em cada recanto. Quando no final do dia regressámos a Bristol, sabíamos que a viagem já tinha valido a pena e, sobretudo, confirmávamos uma vez mais que o melhor de viajar são estes momentos que saltam fora das margens do que temos planeado e por isso mesmo com mais força se cristalizam no arquivo das nossas recordações.