“Krapp” é
o nome que a companhia de teatro profissional proveniente
das Caldas da Rainha, deu à peça “A
última bobina”, escrita em 1956 por Samuel
Beckett. O texto conta uma vertente autobiográfica
dos presentes. A representação da Companhia
de Teatro da Rainha não defraudou as expectativas
dos presentes.
A encenação esteve a cargo de Fernando Mora
Ramos, enquanto que a interpretação contou
com a participação de Victor Santos.
A adesão do público foi quase nula, facto
que desiludiu bastante o actor Victor Santos, que refere
que o público “faz sempre falta, é necessário
ter um enquadramento, e não tendo público
é como ter bobo sem corte”. Apesar de tal facto,
“o espectáculo correu razoavelmente bem “,
conclui o actor.
A peça fala de um homem completamente solitário
de nome Krapp, que se encontra no clímax da sua vida,
mais concretamente na casa dos 60 anos, e tem como hábito
todos os aniversários gravar uma bobina com o balanço
de cada ano. No entanto, todas as bobinas são idênticas,
menos a “bobina 5 da caixa 3”, como é
referido na peça, que descreve a paixão da
sua vida, Bianca, a mulher de “olhos grandiosos”
e “como fendas”. “Krapp”, a
personagem da peça de Beckett, “separa o trigo
do joio”, ouvindo apenas a bobina referente à
sua grande paixão, de forma incansável, procurando
a felicidade. Prefere estar na escuridão porque,
desta forma, encontra-se acompanhado pelos fantasmas.
Escolha de nome propositada
O nome “Krapp”, para a personagem, é
carregado de simbolismo, como o actor Victor Santos explica:
“é um crápula que vive num buraco.
Krapp soa tal como a palavra Inglesa Crap, que significa
“sujidade”, “porcaria”, “inútil”,
exactamente como a personagem é apresentada: O
homem detrito, pois encontra-se no limite do ser.
Este facto revela uma característica comum das
peças da autoria de Bekcett, que é a revelação
da condição humana no sentido do absurdo,
transmitida nos seus valores, nas suas crenças
sem esperança, que qualquer coisa de bom aconteça.
O cenário e a iluminação baseiam-se
na simplicidade: Uma sala com um candeeiro central que
apenas ilumina Krapp, mergulhado na escuridão.
Da parte da assistência a satisfação
foi positiva. Marta Correia comenta: “A peça
é completamente diferente, pois revela muita intensidade
na personagem”. A sua irmã, Catarina Correia
acrescenta que “o espectáculo se baseia na
insatisfação das passagens da vida, a tristeza
e a melancolia”.
Questionando um espectador, Nuno Leão, sobre a
mensagem da peça, este retira que “a peça
retrata a vida, a fugacidade dos instantes da vida, que
pretendem ser eternos, e por isso, temos que aproveitar
cada momento efémero que a vida nos presenteia.
“Krapp” é uma impossibilidade do amor,
do adeus ao amor, em que está em questão
“a eleição de um instante entre os
biliões de instantes que compõem a existência”,
como refere a Companhia de Teatro da Rainha.
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