Por supuesto
Madrid
Por Catarina Moura
Quando visitei Madrid pela primeira vez soube que ia querer
viver aqui e de facto assim foi, escassos meses depois
instalava-me na Calle Nárvaez, 72, num prédio
saído dos filmes de Almodóvar, que mais
parecia um pueblo vertical. Creio que o que mais me atraiu
foi o modo como esta grande, esmagadora cidade, portentosa,
imponente, sabe também ser acolhedora, oferecendo
a cada novo espaço descoberto aquela deliciosa
sensação de aconchego à partida exclusiva
das cidades pequenas. Madrid é imensa e íntima.
Cosmopolita e tradicional. Imperial e labiríntica.
A melhor maneira de descobrir esta cidade é perder-se
nela. O metro é eficaz e organizado e tem a vantagem
de nos deixar rapidamente no ponto que escolhamos para
iniciar a nossa exploração. A norte, as
torres Kio (que muitos conhecem como “Porta da Europa”)
são um bom ponto de partida, abrindo caminho à
imensa Castellana, amplo corredor imperial de imponentes
e trabalhados edifícios que desemboca, mais ao
centro, na belíssima praça Cibelles. Daí
seguimos para a Gran Vía, a Times Square ibérica,
cosmopolita, agitada, epicentro de cinemas e históricos
musicais, edifícios luminosos e ebulição
urbana. O braço direito deste tronco madrileno
leva-nos à labiríntica Chueca, zona jovem,
colorida, muito característica, imperdível
para os amantes da moda alternativa, da diversidade e
da “movida”, com os seus muitos e variados
restaurantes, cafés, bares e clubes.
O braço esquerdo conduz-nos à Plaza del
Sol, à Plaza Mayor, à Opera, ao palácio
real, belíssima zona histórica de pequenas
ruas e grandes descobertas, uma das quais o “Rastro”,
mercado de mil achados que anima as manhãs de domingo.
E ali mesmo ao lado Atocha, outra das grandes artérias
da grande “movida” madrilena, aqui mais tradicional,
feita das típicas tabernas que desenham o famoso
roteiro de “Cañas y Tapas” da capital
espanhola. Atravessando Atocha encontramos o Paseo del
Prado, onde os aficcionados das belas artes passadas e
contemporâneas encontram os imperdíveis museus
Prado e Reina Sofia. E eis que, quase sem nos apercebermos,
estamos no Retiro, um interminável pulmão
que nos enche da frescura verde dos seus bosques e múltiplos
recantos. O Retiro, onde os madrileños vão
passear, correr, ler, estar, “retirar-se”
da agitação urbana, recuperar a qualidade
que as grandes cidades, apesar do tanto que têm
para oferecer, ou talvez também por todo o excesso
que as caracteriza, parecem teimar em roubar às
nossas vidas.
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