A falta de prevenção, principalmente entre heterossexuais, continua a ser a principal causa de contracção do vírus
Saúde
SIDA aumenta no País mas estaciona no distrito

O Dia Mundial de Luta Contra a SIDA celebrou-se há quatro dias atrás e o NC tentou saber o número de infectados que existem no distrito. Embora esta doença fatal seja já preocupante no País, a verdade é que, na região, os dados apontam para uma subida irrisória. Os heterossexuais e toxicodependentes são o grupo mais afectado pela epidemia que mata cada vez mais pessoas.


Andreia Reis
NC / Urbi et Orbi


"Apesar da SIDA ser uma doença de alto risco, à qual toda a gente está sujeita, a situação, no distrito, tem-se mantido estacionária e controlada. No entanto, estamos sempre atentos ao que possa acontecer até porque, em Portugal, o problema já é preocupante". As palavras são ditas por Francisco Sousa Baptista, presidente da Comissão Distrital de Luta Contra a SIDA (C.D.L.C.S.) de Castelo Branco e da Sub-Região de Saúde, no âmbito do Dia Internacional de Luta Contra a SIDA, que se celebrou no passado dia 1.
O distrito de Castelo Branco não foge à regra no que toca a pessoas infectadas com o vírus da SIDA. Desde 1981, ano em que se fala numa falha no sistema imunitário, a doença tem-se propagado cada vez mais, aumentando o número de casos.
Na região, e no total, são 106 os indivíduos infectados, 58 dos quais já contraíram a doença, 30 são portadores assintomáticos (PA) - pessoas que que têm o vírus no sangue, mas que ainda não têm sintomas expressos - e 18 são indivíduos com complexos relacionados com SIDA (CRS).
Números já preocupantes, mas que, relativamente ao ano passado, aumentou, em média, cerca de uma pessoa em alguns casos. Desta forma, o total de infectados no distrito em 2002, eram 105 pessoas, em que 56 tinham SIDA, 31 eram PA e 18 tinham CRS. Uma diferença que, tal como o presidente anuncia, "não é substancial em relação às estatísticas dos anos anteriores". Estes são dados oficiais que foram avançados ao NC pela Comissão Distrital de Luta Contra a SIDA e pela Sub-Região de Saúde de Castelo Branco com fonte no Centro de Vigilância Epidemológica de Doenças Transmissíveis (CVEDT).
Nesta linha de dados, a fonte que mostra que, nos casos com residência no distrito, segundo o grupo etário e o tipo de notificação, o mais alarmante encontra-se na faixa etária dos 25 aos 29 anos. Num total de 27 pessoas, quatro têm CRS, oito são PA e 15 têm contraída a doença. Já segundo o grupo de risco, a maior preocupação recai para os toxicodependentes, em que, num total de 51 casos registados, nove têm CRS, 20 são PA e 22 têm SIDA. Mas o grupo a que pertencem os hetererossexuais também é de ter em conta. É que das 43 pessoas infectadas, sete têm CRS, nove são PA e 27 têm já contraída a doença.
Segundo o sexo e o estado vital, no distrito, num total de 106 pessoas, morreram já oito mulheres e 36 homens. Nos casos de SIDA segundo o grupo etário e o sexo, o mais forte situa-se nas faixa dos 25 aos 29 anos, em que, num total de 15, quatro mulheres e 11 homens têm a doença. Sendo que, residem no distrito quatro mulheres e 16 homens com sida, num universo de 58. Os restantes já faleceram.

Heterossexuais: o grupo mais atingido

Francisco Baptista revela que, no âmbito global, o grupo mais afectado, no distrito situa-se "entre os 25 e os 34 anos" e que, ao contrário do que muito boa gente pensa, "são os heterossexuais os mais atingidos". Facto que tem a sua razão de ser. Na realidade, os indívíduos que gostam do sexo oposto ainda permanecem naquela ideia de que "a SIDA só acontece aos outros e aos homosexuais ou toxicodependentes". Infelizmente, não é o caso e a prova disso está à vista, tal como dá a conhecer o representante da Comissão. "Actualmente, tanto os homo e bissexuais, como os toxicodependentes, estão mais prevenidos, bem como mais informados, precisamente por terem consciência de que são um alvo forte e susceptível à doença". O que implica, de muitas formas, "mais cuidado e atenção por parte deste grupo de pessoas".
No entender do responsável, uma das vias de acesso para sensibilizar a população para este flagelo, é haver "uma sensibilização quer, ao nível da saúde com médicos e enfermeiros, mas também ao nível da formação da própria comunidade". Para além das escolas que "são o local privilegiado para abordar esta questão de uma forma pedagógica, para que em idades ainda precoces, se possa prevenir condutas incorrectas", admite.
Para efectivar, então, estes conselhos, a C.D.L.C.S dá o exemplo no que toca ao trabalho no campo da promoção e da prevenção. Campos estes que, para o responsável, devem necessariamente passar pelas "áreas educativas, nas quais temas ligados à sexualidade, devem ser tratados dentro dos currículos".

Conselhos e atendimentos a toxicodependentes

A Comissão trabalha ainda no terreno com duas estruturas que respondem ao aconselhamento e atendimento. Trata-se do Centro de Atendimento e Diagnóstico (CAD), onde, como confirma Sousa Baptista, "qualquer pessoa pode fazer um teste de forma confidencial e gratuita, no qual não se utiliza nomes, mas códigos de barras" e do Centro de Atendimento a Toxicodependentes (CAT), que serve também para "controlo da seropositividade e respectivos tratamentos, também de forma gratuita", declara. E continua: "Estes são dois espaços onde os toxicodependentes podem ter apoio, acompanhamento e tratamento".
No que toca a preconceitos, na opinião do presidente, não existem. "O problema reside no facto das pessoas não terem consciência que a SIDA é uma doença perigosa e que se alastra a qualquer um de nós", relembra. Até porque, tal como o representante evidencia, "as pessoas têm comportamentos de risco, em que a prevenção não é levada em conta" E informa que "é necessário sempre o uso do preservativo para evitar não só a SIDA como outras doenças".