José Geraldes

Falta de médicos


E com as reformas de muitos médicos nos próximos anos, Portugal corre o risco de não ter os clínicos gerais que precisa.

A Ordem dos Médicos reagiu com reservas ao anúncio do aumento de 30 por cento das vagas nos cursos de medicina. E, embora suavizando, mais tarde, a sua posição, no essencial a opinião era a mesma. É curioso que alunos interrogados sobre o assunto alinharam pelo igual diapasão.
Outro argumento invocado diz que, actualmente, Portugal tem o mesmo número de médicos em relação à população em proporção idêntica à Dinamarca, por exemplo.
O cidadão comum estranha a atitude. E não a entende. Até porque sente na pele a falta de médicos no seu dia-a-dia. Aliás, numa sondagem da RTP/PÚBLICO, três em quatro portugueses afirmam que há falta de médicos. E uma larga maioria deseja o aumento de vagas.
Os argumentos da Ordem dos Médicos baseiam-se na questão da qualidade e na falta adequada de instalações. É curioso que iguais argumentos se utlizaram quando o Governo socialista criou as novas Faculdades de Medicina da Universidade do Minho e da Beira Interior.
Houve quem escrevesse, em comentário a esta reacção, que se tratava de uma refinada atitude de corporativismo que se não compagina com o nosso tempo.
Ninguém tem dúvidas, hoje, de que a manutenção do número “clausus” de entrada com notas acima de 18 valores em medicina está na origem da situação actual de falta de médicos no País. Situação que foi mantida por uma série de governos, de forma inexplicável.
Assim, chegamos a um estado em que os hospitais portugueses são obrigados a recrutar médicos estrangeiros na ordem dos milhares. E com as reformas de muitos médicos nos próximos anos, Portugal corre o risco de não ter os clínicos gerais de que precisa.
Com uma população cada vez mais envelhecida a exigir cuidados primários, a situação pode tornar-se dramática. A Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral veio a público denunciar que são necessários à volta de 150 licenciados que escolham esta especialidade para a resolução do problema.
A abertura de novas vagas só peca,pois, por tardia. Mas, como reza o ditado, “vale mais tarde do que nunca”.
O argumento da proporção dos médicos em relação à população afigura-se falacioso. O problema está na deficiente distribuição geográfica. Toda a gente sabe que os médicos se concentram no Litoral em prejuízo do Interior. E as grandes cidades são beneficiadas em relação aos pequenos centros urbanos.
Os últimos governos têm procurado criar incentivos para atrair os médicos para zonas do Interior. Mas, pelos dados disponíveis, as medidas parecem não ter dado os frutos desejados.
Certamente, quando se formarem os licenciados das novas Faculdades, haverá médicos que ficarão na região onde tiraram o seu curso.
Essa é a esperança que, por agora, nos anima com o aumento da vagas. A situação actual é incomportável.
Em Portugal, falta de médicos. Em Espanha e Itália, médicos no desemprego.
Esperemos que a decisão, agora, tomada resolva quanto antes a falta de médicos no País.