A Universidade da Beira
Interior (UBI) recebeu nos passados sexta-feira e sábado,
28 e 29, as Jornadas “Guerra, Filosofia, Política”,
numa iniciativa levada a cabo pelo Instituto de Filosofia
Prática em parceria com o Departamento de Comunicação
e Artes da UBI. Nos dois dias a Sala dos Conselhos recebeu
13 investigadores, repartidos por cinco sessões que
pretenderam dar voz ao que de mais importante há
para se dizer sobre as questões da guerra e da política.
Sexta-feira de manhã, o presidente da Faculdade de
Artes e Letras, António Fidalgo, e um dos organizadores,
Rui Bertrand, dão as boas-vindas aos investigadores
e assistência. Segue-se a mesa moderada por António
Marques, catedrático na Universidade Nova de Lisboa,
onde intervêm Jean-Marc Chadelat, da Universidade
de Paris II, Luís Garcia Soto, da Universidade de
Santiago de Compostela e António Bento, da UBI.
Jean-Marc Chadelat centra-se n’O Príncipe de
Maquiavel para deslidar como no livro a guerra surge como
a melhor forma para assegurar o poder. Para além
da relação entre política e militar,
a subordinação da guerra à justiça
contextualizadas na evolução da sociedade
medieval italianas são abordadas na sua comunicação
“Le lion et le renard:l’imbrication du politique
et du militaire dans l’oeuvre de Maquiavel”.
Garcia Soto foca-se nas guerras justas e injustas, aborda
ainda a vontade de sobrevivência e os combates revolucionários.
Segundo o investigador, é inadequado falar-se de
“guerra justa”. “Aquilo que se acaba por
fazer é avaliar uma guerra como justa ou injusta
ao encontro da necessidade de paz”, esclarece.
António Bento trata a questão da sobrevivência
e direito natural. Parte da história de Flávio
Josefo, historiador do século I d. C. para ilustrar
a pulsão e a “ paixão da sobrevivência”.
Através da história deste judeu que se finge
cidadão romano, o docente da UBI mostra como o homem
faz tudo para escapar à morte. A partir deste relato,
Bento introduz uma leitura da morte sob o ponto de vista
de Thomas Hobbes e Espinosa.
Alexandre de Sá, da Universidade de Coimbra, modera
a mesa em que participam António Marques, Rui Bertrand
Romão e André Barata, também da UBI.
Marques fala da “legitimidade da guerra e os direitos
subjectivos”, Bertrand Romão alia “cepticismo,
paixões e guerra” e Barata parte de Rousseau
para falar de “O conflito entre vontade geral e vontade
de todos-ou o risco de guerra civil.”
Às 17h30 Mendo Castro-Henriques, da Universidade
Católica Portuguesa, aborda a questão dos
conflitos armados contemporâneos. Alexandre Sá
fala sobre a intensificação da guerra e João
Carlos Correia aborda a Guerra na obra de Schultz.
Segundo dia
Sábado de manhã, Mikel Iriondo Araguren,
da Universidade do País Vasco, é anfitrião
na mesa em que figura Diogo Pires Aurélio, da Universidade
Nova de Lisboa, e Viriato Soromenho Marques da Universidade
de Lisboa. Pires Aurélio apresenta a guerra a pertinência
lógica desta nos textos de Hobbes. Soromenho Marques
parte do discurso de George Bush a seguir aos ataques
de 11 de Setembro para ver como há uma inadequação
de conceitos. Analisa ainda a evolução política
desde Maquiavel até à actualidade para propor
uma divisão em quatro períodos distintos.
Parte depois para uma análise da guerra segundo
Clausewitz e refere ainda a necessidade da filosofia política
se “reconciliar com a realidade”.
Na segunda sessão do segundo dia, Mikel Iriondo
falou na situação do “Terrorismo político
en el País Vasco y figura de las victimas”
Mostra como o terrorismo nos países democráticos
passou a ser visto de forma diferente após os ataques
aos Estados Unidos da América e relata como é
a vida num local onde impera a necessidade de segurança.
António Delgado, com formação no
domínio das artes, mostra uma outra forma de ver
a guerra, através da escultura. Referindo-se à
presença de termos bélicos, militares ou
alusões a heróis na toponímia lisboeta,
o docente da UBI aborda ainda a imagem da guerra em termos
jornalísticos para terminar com a apresentação
de algumas imagens fortes.
As sessões foram seguidas de debate, à semelhança
do que é usual. “Pensar e repensar a guerra”
foi o que se pretendeu nestas jornadas que, nas palavras
de Rui Bertrand, uniram “pensadores de alta carreira,
nacionais e internacionais”.
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