Seja em que altura do
ano for, com ou sem neve, a Serra da Estrela é pródiga
em imagens de rara beleza. No dia 22, depois das chuvas
da manhã, o nevoeiro apoderou-se dos cumes dos Cântaros
e das encostas do Vale Glaciar, conferindo à paisagem
um aspecto quase místico. Mas quem, nessa tarde se
decidiu por um passeio pela estrada que liga Manteigas à
Torre teve oportunidade, ainda que por acaso, de assistir
a um outro espectáculo, para além daquele
proporcionado pela natureza. Em cima de uma “prancha”
com uma “roda de bicicleta” em cada extremidade
19 atletas desciam a encosta da Serra desde os Piornos até
às Caldas de Manteigas em alta velocidade. Tratava-se
de uma prova de “Dirtsurf”. A primeira de sempre
realizada em Portugal. Mas a pouca divulgação
do evento acabou por apanhar quase todos de surpresa.
A prova, organizada pelo “Terra Eventos”, uma
secção do Aero Clube de Almeida, e apoiada
pela Câmara de Manteigas, contou com a participação
de 19 atletas, maioritariamente espanhóis. No nosso
País, ressalva Ricardo Encarnação,
responsável do Terra Aventura, “este desporto
ainda está pouco divulgado, pelo que ainda há
poucos atletas, e nem todos estão dispostos a entrar
numa competição”.
Trata-se de uma modalidade que surge como alternativa a
uma série de desportos radicais como o Skate, o Surf
ou o Snowboard, em que o tipo de equilíbrio é
semelhante. Pode disputar-se em quase todos os tipos de
piso, desde o asfalto à terra, desde que o percurso
seja inclinado. E embora à primeira vista, principalmente
quando se olha para o veículo, pareça um desporto
perigoso, os praticantes garantem que é “tão
ou mais seguro que o surf ou o snowboard e menos perigoso
que o skate, porque o dirtsurf tem travões apesar
de não ter um selim ou um guiador como as bicicletas”.
Para além disso, garante, Ricardo Encarnação,
“é mais fácil de aprender do que outra
modalidade radical qualquer. Basta meia-hora”.
“Inventado” na Austrália há cerca
de cinco anos, o “Dirtsurf” tem vindo a ganhar
adeptos um pouco por todo o mundo. “Nuestros hermanos”
foram dos primeiros a aderir à nova modalidade, que
já praticam há três anos em competições
regulares. Em Portugal, ainda se encontra em fase embrionária
mas a ideia dos responsáveis do “Terra Eventos”
é organizar um Campeonato Nacional já em 2004.
Um evento que contará com, pelo menos, uma etapa
na Serra da Estrela porque, justifica Encarnação,
“é a maior serra que temos no País e
dispõe de condições excelentes –
leia-se: grandes distâncias em declive acentuado,
com curvas e contra-curvas de cortar a respiração
- para esta actividade”.
“A Serra não pode ser apenas neve
e esqui”
Junto à meta, situada poucos metros acima das Caldas
de Manteigas, José Manuel Biscaia, presidente da
Câmara, assiste à chegada dos atletas nas
duas descidas efectuadas durante a tarde com a mesma curiosidade
do restante público. “Parece um desporto
agradável e mais seguro do que o primeiro olhar
leva a crer”. Satisfeito por Manteigas ficar associada
ao lançamento da modalidade no País, o edil
lamenta apenas a pouca afluência de público
e de comunicação social.
Ainda assim, o autarca não desanima e mostra-se
disponível para apoiar futuras realizações.
Em princípio, a modalidade regressa ao concelho
por alturas do Carnaval, época em que Manteigas
é “invadida” por turistas, e Biscaia
espera que haja mais público. Depois, é
esperar que o Dirtsurf se implante na vila. A Serra, defende,
“não pode ser apenas neve e esqui”.
O presidente da Câmara reconhece que os desportos
de inverno são a imagem de marca da região,
mas defende a contínua aposta em outras modalidades
para diversificar a oferta aos residentes e turistas.
O Dirtsurf é uma delas, tal como a Rampa da Serra
em automobilismo, ou o Skiparque, que permite esquiar
durante todo o ano. Mas Biscaia quer ir ainda mais longe
e construir piscinas de água quente e um ringue
de gelo nas termas, bem como um campo de golfe em Vale
da Amoreira, que complemente o já existente em
Belmonte. A Serra da Estrela, conclui, “é
uma montra. Por isso temos que deitar mão a tudo
o que pudermos e enchê-la com mais produtos apetecíveis
a potenciais consumidores”.
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