José Geraldes

A burla das listas telefónicas


São conhecidos casos de burlas de supostas listas telefónicas em várias zonas de Portugal. E coma montagem de um esquema bem montado.

Quarta-Feira, dia 19 de Novembro. O dia nasce com um sorriso do sol de São Martinho. São 9h e 30 minutos. O telefone toca.
Que será, logo, pela manhã ?
Do outro lado da linha, uma voz feminina fala como se fôssemos conhecidos de há muito. Diz com ar de feitiço que é da parte de um Gabinete de Advogados de Vila Nova de Famalicão. Mas não o identifica.
Assunto ? Envio para o Tribunal de uma conta da assinatura da lista telefónica de regiões, neste caso da Guarda. A resposta veemente e, a partir de certa altura com irritação, é de que tal lista não é conhecida e de que não foi assinada qualquer factura. A conversa azeda-se. A menina, calma e imperturbável continua, no seu tom melífluo e, ao mesmo tempo, de despachada, a insistir no pagamento.
Já quase sem paciência e, tendo ouvido a sua “ladainha” por boa educação, o interlocutor não evita exaltar-se e desmascara a burla que lhe está a ser tramada. A menina, como sereia, invoca a colaboração com a DECO, organismo de consumidores e –imagine-se – a própria Constituição Portuguesa, julgando conseguir assim os seus intentos. Insiste, de novo, mantendo sempre um tom familiar, para que possa explicar as ditas “listas telefónicas”.
É-lhe respondido que a “paciência de santo” se esgotara e que a burla ia ser denunciada na Comunicação Social.
Facto inventado ? Não. O caso passou-se tal qual se narra com quem assina este editorial. Alás, tal tipo de burlas prolifera pelo País como cogumelos.
São conhecidos casos de burlas de supostas listas telefónicas em várias zonas de Portugal. E com a montagem de um esquema bem estudado.
Primeiro, aparece uma menina de voz agradável a marcar encontro pelo telefone. Depois, uns senhores bem vestidos, com ar de executivos, apresentam-se com um livro de facturas, tapando com uma das mãos, o nome das ditas listas telefónicas. Listas que são um embuste que servem, apenas, de estratagema para enganar os incautos. Claro, há sempre alguém – e estes senhores sabem-no bem – que acaba por cair no “conto do vigário”.
Temos conhecimento pessoal de várias pessoas bem situadas na sociedade que foram enganadas. E até de sacerdotes, um dos quais, de avançada idade, na nossa região lesado em milhares de euros.
O Bispado da Guarda publicou inclusivamente um aviso por diversas vezes no Notícias da Covilhã, nos nossos colegas “A Guarda” e “Amigo da Verdade” a chamar a atenção para o facto e a prevenir a burla.
Pelos vistos, os “vigaristas” continuam à solta ganhando rios de dinheiro com este tipo de corrupção. Sem impostos.
O mais grave ainda é o facto de a DECO não poder fazer nada, segundo nos foi informado, apesar das queixas que tem recebido. A DECO sabe que o seu nome consta das referências dos vigaristas.
Mas como é possível haver alçapões na lei portuguesa para este tipo de crimes ? Que nem a DECO consegue controlar ?
Em que País estamos ?