António Fidalgo

Ambição e clima


Eleito pacificamente o reitor Santos Silva para um terceiro mandato, a UBI enfrenta o desafio da qualidade. Até agora era uma jovem universidade, situada no interior do país, fazendo das tripas coração para se afirmar no meio das outras universidades portuguesas. Conseguiu-o e, por isso, está de parabéns. Mas agora o desafio aumenta. Se o problema da captação de alunos foi resolvido, agora há que pegar pela frente o problema da qualidade.
E aqui é que surgem alguns equívocos. Quando se fala de qualidade na universidade, isso não se reduz de algum modo ao sucesso escolar. É evidente que se existe insucesso escolar é porque existem deficiências, seja do lado dos alunos, seja dos professores. Em princípio, numa boa universidade não existe insucesso escolar. Mas se uma boa universidade implica a não existência de chumbos, o contrário não é verdadeiro. Algum insucesso até pode traduzir a exigência do ensino e da avaliação.
Uma universidade é os seus doutores, alunos e funcionários e uma boa universidade é bons professores, bons alunos e bons funcionários. Não há qualidade da instituição sem qualidade dos membros que a compõem. É trivial, mas tem de ser repetido, pois que frequentemente se ouvem afirmações sobre sucesso escolar e sobre excelência a custo zero. Não há qualidade sem esforço, e muito menos na universidade.
A ambição da UBI deve ser a qualidade pura e simples do ensino e da investigação, com a consciência muito clara de que na universidade a qualidade de ensino pressupõe a investigação científica dos seus docentes. Ou seja, a qualidade é fruto de muito trabalho. Portanto, a conclusão a tirar é fácil. A UBI tem de distinguir-se no panorama universitário português por ser uma universidade de estudo sério e a sério, de trabalho duro. É simples, muito simples, e não há volta a dar-lhe. Falar de qualidade e de excelência, como se isso apenas dependesse de mais dinheiro, melhores instalações, melhores condições sociais, melhor organização, é um engano, um sofisma, até um embuste. O fundamental, o fundamental mesmo, é o trabalho, o muito trabalho, o que quer dizer: estudo, muito estudo, de dia, de noite, durante a semana e ao fim de semana. Para professores e alunos. A realidade, a dura, mas verdadeira, é esta.
E aqui entra o clima. Num mau clima os bons estragam-se e num bom clima até os maus melhoram e, por vezes, até se tornam bons. É preciso que o clima de tranquilidade que efectivamente existe na UBI, e que é um bem, se transforme num clima de exigência. Podemos imaginar a UBI como uma universidade de trabalho e estudo, de exigência, procurada por professores e alunos que procuram o saber e não as facilidades, a farra. Podemos imaginá-la como uma universidade com fama de dura, mas boa. Podemos imaginá-la, então deveremos cumpri-la nessa ambição. Um bom reitor ajuda, mas o essencial está no trabalho de cada um.