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E AGORA UBI?
No momento em que este artigo
esteja disponível já temos um novo reitor
eleito. O primeiro e único que até agora
foi eleito na nossa Academia. Em si mesmo tal facto não
é bom nem mau, era esperado e inevitável,
pois não havia alternativas.
Não haver alternativas é que pode ser mau
e problemático. Não na UBI e na nossa Academia,
mas na sociedade portuguesa e mundial, em geral.
Vivemos um momento de unanimidade total e, isso sim, é
problemático para a definição de
democracia que vem nos compêndios. Porquê?
Porque se advoga o princípio da liberdade e de
funcionamento livre do mercado, onde a possibilidade de
fazer escolhas é essencial. A crítica crucial
aos regimes totalitários de outrora era exactamente
a de não permitir escolhas. A diferença,
neste caso, é que houve liberdade de escolhas para
que as candidaturas aparecessem (quem podia e não
se candidatou foi porque não quis), mas não
existiu uma oportunidade de escolha para os eleitores
não elegíveis. E isso devia preocupar todos.
Mesmo o eleito, cujo sabor da vitória teria sido
outro se houvesse mais candidatos.
Atente-se no que se passa um pouco em todo o lado:
Nas nossas escolas em geral, os directores executivos
são empurrados sistematicamente e desapareceu o
debate de ideias e projectos onde se ganhavam eleições
por um e dois votos (anos 80 ainda).
Nos clubes recreativos e associações de
pais, culturais e outras, os eleitos são os que
aparecem na reunião ou assembleia.
Mesmo nos grandes clubes de futebol, que movimentam largos
milhares de euros, os candidatos ou são únicos
ou ganham com 98% dos votos.
Nas autarquias, começa a privilegiar-se a experiência
e conhecimento dos dossiês e há câmaras
ganhas com largas maiorias absolutas, sem alternativas
ou com falta de candidatos qualificados.
No Governo, a unanimidade com a oposição
é quase total, não fossem umas cabalas e
escândalos e umas tiradas jornalísticas.
E, finalmente, a imprensa que, cada vez mais, alinha os
editoriais com entretenimento e guerrilhas secundárias
para fazer esquecer os verdadeiros e reais problemas de
uma região ou nação. Repito, é
preocupante.
E é preocupante pois indicia que ninguém
tem mais a coragem de se comprometer com ideais, convicções
e projectos, parecendo que não se sabe o que o
futuro lhe reserva ou que não vale mais a pena
defende-los pois os incentivos não se apresentam
compensadores.
Tiago Sequeira, no seu artigo de opinião do último
número do Urbi, fala de incentivos que a Universidade
deveria introduzir para se afirmar no panorama nacional
e internacional da competitividade, centrando-se na produção
científica como o principal critério. E
posso concordar parcialmente com esta ideia, mas discordo
em absoluto que, não estando reunidas outras condições
possamos fazer mais do que se tem feito (e muito fez,
como é possível observar pelo número
crescente de doutorados nos últimos anos na UBI
e revelados na candidatura de Santos Silva).
Que outras condições?
Serviços administrativos mais eficientes que libertem
os professores de inúmeras rotinas para as quais
não se estiveram a especializar; centros de investigação
dotados de pessoal qualificado e de meios para gerir sistemas
de informação modernos e capazes; cargas
horárias médias calculadas por outros critérios
que não os restritivos ETIs calculados numa base
matricial desajustada; intercâmbio científico
intenso que premeie aqueles que se esforçam e estabelecem
redes de pesquisa nacional e internacional; flexibilidade
na distribuição de serviço que possibilite
estágios e bolsas de curta/média duração
no exterior; convite a especialistas externos; para virem
treinar os nossos quadros, etc.
Mas mais ainda, falta a promoção de uma
prática de reuniões eficientes, onde os
temas sejam previamente estudados, discutidos e os argumentos
esgrimidos de forma a que as decisões sejam aceites
como grandes orientações para todos e permita
afectar o conjunto da Academia.
Será este o grau de maturidade académica
que se exige para futuro, mais do que incentivos monetários,
que permitirá chegarmos a um patamar de excelência
na formação e investigação.
Será ainda o estímulo à participação
de todos os doutorados, sem exclusão, atribuindo-lhes
responsabilidades concretas nos campos e áreas
administrativas para as quais sejam mais dotados, que
tornarão a academia mais rica, participada e eficiente.
Estou certo que será este o grande desafio do nosso
novo reitor, o de conseguir finalmente que todos se sintam
nesta casa bem de forma a poderem participar com aquilo
que têm. E faço votos para que o consiga.
Se for essa a orientação, pode contar comigo
naquilo que me diga respeito.
*Docente do DGE
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