Pedro G. Carvalho*

E AGORA UBI?

No momento em que este artigo esteja disponível já temos um novo reitor eleito. O primeiro e único que até agora foi eleito na nossa Academia. Em si mesmo tal facto não é bom nem mau, era esperado e inevitável, pois não havia alternativas.
Não haver alternativas é que pode ser mau e problemático. Não na UBI e na nossa Academia, mas na sociedade portuguesa e mundial, em geral.
Vivemos um momento de unanimidade total e, isso sim, é problemático para a definição de democracia que vem nos compêndios. Porquê? Porque se advoga o princípio da liberdade e de funcionamento livre do mercado, onde a possibilidade de fazer escolhas é essencial. A crítica crucial aos regimes totalitários de outrora era exactamente a de não permitir escolhas. A diferença, neste caso, é que houve liberdade de escolhas para que as candidaturas aparecessem (quem podia e não se candidatou foi porque não quis), mas não existiu uma oportunidade de escolha para os eleitores não elegíveis. E isso devia preocupar todos. Mesmo o eleito, cujo sabor da vitória teria sido outro se houvesse mais candidatos.
Atente-se no que se passa um pouco em todo o lado:
Nas nossas escolas em geral, os directores executivos são empurrados sistematicamente e desapareceu o debate de ideias e projectos onde se ganhavam eleições por um e dois votos (anos 80 ainda).
Nos clubes recreativos e associações de pais, culturais e outras, os eleitos são os que aparecem na reunião ou assembleia.
Mesmo nos grandes clubes de futebol, que movimentam largos milhares de euros, os candidatos ou são únicos ou ganham com 98% dos votos.
Nas autarquias, começa a privilegiar-se a experiência e conhecimento dos dossiês e há câmaras ganhas com largas maiorias absolutas, sem alternativas ou com falta de candidatos qualificados.
No Governo, a unanimidade com a oposição é quase total, não fossem umas cabalas e escândalos e umas tiradas jornalísticas.
E, finalmente, a imprensa que, cada vez mais, alinha os editoriais com entretenimento e guerrilhas secundárias para fazer esquecer os verdadeiros e reais problemas de uma região ou nação. Repito, é preocupante.
E é preocupante pois indicia que ninguém tem mais a coragem de se comprometer com ideais, convicções e projectos, parecendo que não se sabe o que o futuro lhe reserva ou que não vale mais a pena defende-los pois os incentivos não se apresentam compensadores.
Tiago Sequeira, no seu artigo de opinião do último número do Urbi, fala de incentivos que a Universidade deveria introduzir para se afirmar no panorama nacional e internacional da competitividade, centrando-se na produção científica como o principal critério. E posso concordar parcialmente com esta ideia, mas discordo em absoluto que, não estando reunidas outras condições possamos fazer mais do que se tem feito (e muito fez, como é possível observar pelo número crescente de doutorados nos últimos anos na UBI e revelados na candidatura de Santos Silva).
Que outras condições?
Serviços administrativos mais eficientes que libertem os professores de inúmeras rotinas para as quais não se estiveram a especializar; centros de investigação dotados de pessoal qualificado e de meios para gerir sistemas de informação modernos e capazes; cargas horárias médias calculadas por outros critérios que não os restritivos ETIs calculados numa base matricial desajustada; intercâmbio científico intenso que premeie aqueles que se esforçam e estabelecem redes de pesquisa nacional e internacional; flexibilidade na distribuição de serviço que possibilite estágios e bolsas de curta/média duração no exterior; convite a especialistas externos; para virem treinar os nossos quadros, etc.
Mas mais ainda, falta a promoção de uma prática de reuniões eficientes, onde os temas sejam previamente estudados, discutidos e os argumentos esgrimidos de forma a que as decisões sejam aceites como grandes orientações para todos e permita afectar o conjunto da Academia.
Será este o grau de maturidade académica que se exige para futuro, mais do que incentivos monetários, que permitirá chegarmos a um patamar de excelência na formação e investigação. Será ainda o estímulo à participação de todos os doutorados, sem exclusão, atribuindo-lhes responsabilidades concretas nos campos e áreas administrativas para as quais sejam mais dotados, que tornarão a academia mais rica, participada e eficiente. Estou certo que será este o grande desafio do nosso novo reitor, o de conseguir finalmente que todos se sintam nesta casa bem de forma a poderem participar com aquilo que têm. E faço votos para que o consiga. Se for essa a orientação, pode contar comigo naquilo que me diga respeito.



*Docente do DGE