António Fidalgo

Uma ponte de esparguete


Pela terceira vez a UBI organizou o concurso de pontes de esparguete. Soa a brincadeira e é certamente também uma brincadeira, mas é uma brincadeira que de uma forma brilhante e simples traduz o espírito da engenharia. A engenharia é, por definição, engenhosa. O seu fim é, aplicando conhecimentos gerais a casos concretos, resolver estes com os meios disponíveis.
A fragilidade do esparguete é uma experiência trivial, comprovada e comprovável por qualquer pessoa hoje em dia. Será sem dúvida o material menos indicado para fazer uma ponte, mas o curioso e interessante é que mesmo assim se pode com ele construir uma ponte de 40 centímetros, com um peso máximo de 350 gramas, e aguentar uma carga até 30,29 quilos (6 garrafões de água!). Requer-se engenho e arte para com material tão frágil chegar a uma carga relativamente significativa. Nesta brincadeira tão simples estão presentes conceitos e procedimentos fundamentais de qualquer obra de engenharia a sério.
Do esparguete à ponte de esparguete está o sonho e a determinação que de modo ímpar António Gedeão verte no poema “Pedra Filosofal”, e que é um hino às engenharias:

passarola voadora
pára-raios, locomotiva
barco de proa festiva
alto-forno, geradora

cisão do átomo, radar
ultra-som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar

A matemática e a física não devem ser, e muito menos precisam de o ser, os papões dos jovens estudantes portugueses, antes devem ser vistos como os instrumentos necessários à concretização dos sonhos, à solução palpável de problemas. O espanto de uma ponte de esparguete é como todos os espantos que desencadeiam as ciências e conduzem às engenharias.
Não é que se advogue um ensino e uma aprendizagem baseados no lado lúdico da actividade humana, sem exigência de estudo e de esforço. De maneira nenhuma. O que se advoga é a urgência de chamar a atenção e de promover a cultura científica entre os mais jovens, mostrando-lhes como as maravilhas da ciência não estão distantes, mas podem estar tão perto como uma ponte de esparguete. Talvez desta maneira se promovam as vocações para engenheiros e se acabe com a míngua de candidatos aos cursos de engenharia em Portugal.