Tiago Oliveira Rodrigues*
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Ainda a propósito das propinas
Acreditando que a discussão nunca será
em vão, dou continuidade ao artigo anterior, publicado há 15 dias
atrás. Prosseguindo com a questão das propinas, tentemos analisar
algumas questões importantes, de carácter mais abrangente. Sempre
que se discute as propinas, a primeira que me vem à cabeça é
esta: Deverá, o Ensino Superior, ser gratuito? Há duas perspectivas.
Uma delas é a de que o aluno, enquanto cidadão, investe na sua formação
e, como tal, deve pagar a oportunidade que lhe é dada. A outra é
a do direito à formação superior gratuita. É claro
que, em abstracto, as duas perspectivas são perfeitamente compatíveis,
isto é, não se opõem uma à outra, porque existe uma
coisa chamada Acção Social Escolar que serve para fazer a ponte
entre as duas. Mas na prática elas têm implicações
bastante diferentes. Extremando um pouco as duas, podemos dizer que, no primeiro
caso, o Estado dá aos cidadãos a possibilidade de comprarem a frequência
num curso superior. No segundo, o cidadão tem, como direito adquirido,
a possibilidade de frequentar, gratuitamente, o Ensino Superior. Na realidade,
não acontece nem uma coisa, nem outra. O estudante do Ensino Superior paga
uma propina fixada até há bem pouco tempo pelo Governo Central.
Sendo uma propina única, pagam todos por igual. O que será mais
correcto: uma propina única ou uma propina variável segundo os rendimentos
de cada um? Aqui está uma questão que ninguém se atreverá
a responder. Pela simples razão de que a resposta a esta questão
está condicionada por um factor determinante: estamos corrompidos até
ao osso, no que toca a matéria de impostos. Como tal, falar de Acção
Social é o mesmo que contar histórias da carochinha. Assim sendo,
põe-se a pergunta: qual o caminho a seguir? Recomenda-se aqui uma passagem
pelo capítulo "PRINCÍPIOS E ORIENTAÇÕES FUNDAMENTAIS"
(de cada um, entenda-se). O meu diz-me que Saúde, Justiça e Educação
são três domínios vitais de qualquer sociedade minimamente
humanizada. Não passa pela cabeça de ninguém escolher entre
um tratamento melhor ou pior. Nem passa pela cabeça de ninguém discutir
se um Juiz deve ser mais ou menos justo. Também não passa pela cabeça
de ninguém pensar se quer uma sociedade mais ou menos letrada (ou educada,
para sermos mais correctos). Portanto, segundo as minhas orientações,
parece-me que a Educação não é uma despesa (onde é
que eu já ouvi isto?). Será um investimento? Será que o Estado,
ao investir na formação pessoal de cada cidadão, estará
a desenvolver o país, a investir numa sociedade mais evoluída e
mais competitiva, mais consciente e mais capaz, mais intelectual e mais solidária?
Será?... Não tendo um país preparado para resolver estas
questões de uma forma sistémica e profunda, como seria naturalmente
exigido, temos de pensar em minimizar os estragos. Neste sentido, sou totalmente
contra um agravamento tão repentino das propinas. Um aumento gradual, devidamente
acompanhado por uma actualização consonante da Acção
Social Escolar (por muito má que ela esteja) poderia ser um processo muito
menos distante do panorama económico que se vive no país e, portanto,
aceitável.
Para finalizar, gostaria de deixar no ar uma ideia, mais virada para um futuro
não tão imediato. Um estudante do ensino superior entra no mercado
de trabalho, normalmente, por volta dos 25 anos. Na minha opinião, o contacto
com essa realidade deveria ser muito anterior, aí por volta dos 20 anos.
Não só por razões monetárias mas principalmente, por
razões formativas. Em tempo de estágios é comum ouvir frases
do género: "aprendi mais nestes três meses do que em quatro
ou cinco anos", "agora é que eu percebi que não aprendi
o mais importante", "agora estou muito mais motivado para trabalhar
do que anteriormente". É importantíssimo, não só
do ponto de vista técnico e científico, mas também social
e cultural, ligar verdadeiramente a teoria com a prática, que é
como quem diz, a Universidade com o Resto da Paisagem. Acresce a isto uma dupla
razão monetária: o desmesurado esforço requerido aos pais,
sobretudo àqueles que têm mais do que um filho para manter, e a não
obtenção de qualquer tipo de rendimento por parte do estudante,
até uma idade bastante tardia. Afigura-se assim necessária, na minha
opinião, uma redefinição da organização e funcionamento
das Universidades e, simultaneamente, do conceito de Estudante do Ensino Superior.
Penso que o estudante, enquanto puro estudante, deveria dar lugar a um novo conceito
que sobrepusesse os conceitos de estudante e de trabalhador. Isto poderia levar,
por exemplo, a uma redução brutal das despesas das Universidades,
a um alívio da malfadada estrutura de Acção Social Escolar,
a uma excelência educativa e a um desenvolvimento exponencial da tecnologia
e da investigação científica em Portugal. Mas como isto é
capaz de dar um bocado de trabalho, se calhar é melhor ficarmos como estamos,
digo eu!!!!
*aluno da UBI
a11403@alunos.ubi.pt
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