José Geraldes
|
Papa: 25 anos
Ao celebrar 25 anos de pontificado, em condições
físicas tão débeis, João Paulo II dá uma lição
ao mundo quando a moda quer impor o culto do corpo como ideal de única
beleza.
João Paulo II é um gigante da história da Humanidade. O ex-bispo
de Setúbal, D. Manuel Martins, em depoimento recente, considerou-o como
"do tamanho do mundo".
Sem estabelecermos comparações que pecam sempre por serem redutoras,
pode afirmar-se a seu respeito que resume as personalidades dos últimos
quatro papas que o antecederam: Pio XII, João XXIII, Paulo VI e João
Paulo I.
Embora cada um tenha exercido o papado a seu modo, João Paulo II mantém
a atenção e o diálogo com a cultura moderna e a diplomacia
de Pio XII e Paulo VI, o espírito impulsionador do Concílio de João
XXIII e o desejo de melhorar o mais possível o mundo de João Paulo
I. Se Paulo VI realizou o Vaticano II, João Paulo II procurou concretizá-lo
no sentido da Igreja ser a grande esperança dos homens.
A sua eleição foi uma surpresa. Primeiro por vir de um país
-a Polónia- dominado pelo comunismo. Depois por ter quebrado a tradição
de séculos dos papas serem italianos. E ainda de não ter passado
pela Cúria Romana.
Conservamos na memória a notícia da sua eleição quando,
em Paris, vimos o pivô da TF1 ter sérias dificuldades em pronunciar
o seu nome próprio em polaco: Karol Wojtyla. O Espírito Santo mais
uma vez havia defraudado as expectativas de quantos já ofereciam certezas
de nomes ditos "papáveis".
Ao celebrar 25 anos de pontificado, em condições físicas
tão débeis, João Paulo II dá uma lição
ao mundo quando a moda quer impor o culto do corpo como ideal de única
beleza. E é a dignidade da condição humana que sobressai
na sua forma de estar e continuar a exercer, com sofrimento visível, a
sua missão.
As primeiras palavras que pronunciou em público, após a sua eleição
- "Não tenhais medo"- constituíram a trave-mestra destes
25 anos sempre guiados pela esperança. No documento sobre a passagem do
milénio, elas ressurgem em forma de grito para que não só
os católicos mas também os homens de boa vontade se empenhem em
construir um mundo novo marcado pela justiça e pelos direitos de Deus.
As 129 viagens que realizou, marcadas pelo espírito da nova evangelização
que quis imprimir ao seu pontificado, puseram-no em contacto com todas as culturas
e regimes políticos. E foi sempre sem medo que disse as verdades no momento
oportuno. A queda do Muro de Berlim foi consequência das suas intervenções
contra uma ideologia onde a liberdade é apenas formal.
Não houve problema humano ou social que não abordasse, inclusive
no domínio da arte ou das letras que também cultivou. Até
um CD de sua autoria invadiu o mercado da música com êxito.
Promoveu o diálogo inter-religioso. A este respeito, os encontros de Assis
abriram um caminho histórico para a unidade das Igrejas e do seu empenho
pela paz.
A posição corajosa contra a guerra do Iraque e a sua solução
por meios pacíficos mostrou um papa que, apesar de fragilidades físicas,
mantém uma lucidez ímpar na análise dos problemas mundiais.
E nunca deu tréguas à cultura da morte que se queria instalar na
sociedade, defendendo sempre o valor da vida contra ventos e marés.
Quanto à globalização, fez as necessárias distinções
para que a justiça social ocupasse o seu devido lugar. Aos que o classificam
conservador em matéria sexual, que outra doutrina podia ensinar João
Paulo II senão a mensagem de Jesus Cristo?
E é este Papa aclamado por milhares de jovens nas suas viagens e, sobretudo,
nas Jornadas Mundiais da Juventude. Um Papa vindo do Leste que, passando para
o Terceiro Milénio, marcou, com atitudes proféticas, não
só o Ocidente mas também o novo Mundo.
|