José Geraldes
|
Serra da Estrela e regiões deprimidas
Uma novidade do diagnóstico é a revelação
de a dicotomia Interior-Litoral ser falsa. Afinal, há zonas do Litoral
com iguais problemas de "sector deprimido" aos do Interior.
Aí está um novo diagnóstico da situação social
do País. Diagnóstico que é para servir de base à recuperação
das regiões mais desfavorecidas que ainda existem em Portugal.
O Governo encomendou o estudo ao ex-ministro socialista de Guterres, Daniel Bessa,
considerado uma autoridade na matéria.
Assim nasceu o PRASD (Programa de Recuperação de Áreas e
Sectores Deprimidos).
São identificadas seis regiões : Cávado e Ave, no Minho,
Tâmega não longe do Grande Porto, Pinhal Interior Norte e Sul, Trás-os-Montes
e Alto Douro, Beira Interior e Alentejo.
O critério adoptado baseou-se na política de coesão de Bruxelas
que fixa o índice de 75 por cento de compra "per capita" de 2002
como patamar mínimo de desenvolvimento sustentado.
A Beira Interior aparece com o índice de 71,8 por cento, no conjunto. Mas
há concelhos como os da Covilhã, Fundão e Guarda e Castelo
Branco que atingem os 75 por cento, não sendo considerados "sectores
deprimidos". O mesmo não acontece com os restantes concelhos que vão
dos 45 aos 65 por cento.
O eixo Guarda-Covilhã-Fundão-Castelo Branco confirma-se como estruturante
concentrando mais de 50 por cento da população. Ou seja, à
volta de 200 mil habitantes. Uma novidade do diagnóstico é a revelação
de a dicotomia Interior-Litoral ser falsa. Afinal, há zonas do Litoral
com iguais problemas de "sector deprimido" aos do Interior.
O estudo não se confinou, apenas, a uma radiografia de cada uma destas
regiões. Também elenca uma série de soluções.
Em relação à Beira Interior, que teve activa colaboração
da UBI, são avançadas várias estratégias que, nesta
coluna, bastas vezes foram objecto da nossa preocupação e análise.
São elas : promoção da marca Serra da Estrela, estatuto de
localização de novas indústrias com gestão coordenada
dos parques industriais da Guarda, Covilhã, Fundão e Castelo Branco,
o Parkurbis tendo como base a inovação tecnológica, o Regadio
da Cova da Beira e consolidação dos lanifícios sobretudo
para exportação no sentido de a Covilhã retomar em alta a
marca de Manchester Portuguesa.
As soluções apontadas exigem meios. Daniel Bessa sugere medidas
de discriminação positiva : incentivos fiscais, parafiscais, financeiros
e instrumentos de política social. O ministro da Economia prometeu já
a criação de um "fundo de capital de risco PRASD" para
começar de 60 milhões de euros. Mas Durão Barroso na apresentação
foi claro : " O melhor modo é criar condições para que
haja investimento privado." E afasta o modelo assistencialista : " Quem
cria riqueza são as empresas com a sua iniciativa e os trabalhadores com
a sua actividade. Ao Estado cabe criar condições para que assim
aconteça". Dito de outro modo, põem-se de lado os subsídios.
Daniel Bessa também deixa claro que as medidas sugeridas não constituem
uma imposição ao Governo mas situam-se ao nível de recomendações
exigindo "elevado grau de voluntarismo". No entanto, Durão Barroso
aceitou o estudo. E tem uma janela de oportunidade para eliminar os "sectores
deprimidos". Para que não tenhamos um País tão desigual.
Agora só esperamos que o documento não seja arrumado em qualquer
prateleira do Ministério da Economia. E que para a marca Serra da Estrela
dê andamento ao pedido expresso de Daniel Bessa. O Estado deve tomar a seu
cargo o "gigante adormecido".
|