Depois dos fogos que destruíram cerca de
400 mil hectares em todo o País, pode seguir-se a época das inundações.
O alerta é dado pelo professor catedrático e antigo presidente da
Liga para a Protecção da Natureza (LPN), Eugénio Sequeira,
que em declarações ao JN diz mesmo que este poderá ser um ano
dramático para Portugal se o Inverno for muito rigoroso e se não forem
tomadas as medidas necessárias. E tudo isto porque em Portugal ardeu muito
mato e floresta, o que contribuiu para que os solos se tornassem mais impermeáveis,
ou seja, não retenham a água. Segundo a Quercus, durante o próximo
ano, mais de 12,5 milhões de toneladas de solo vão entrar em erosão,
e com as primeiras chuvas, existe o risco desse solo ser arrastado para rios, mares
e outras linhas de água.
Segundo este especialista, houve zonas que ficaram completamente destruídas,
sendo que sem árvores e folhado (folhas, caruma, ervas e arbustos), deixa
de haver um sistema natural de retenção de água da chuva, "o
que significa que irá escoar a uma velocidade muito maior". Neste locais,
diz Eugénio Sequeira, o risco de inundação e contaminação
da água utilizada para abastecer as populações é enorme.
Entre as zonas de maior risco identificadas pelo especialista estão o Pinhal
Interior e a Serra da Estrela, entre outras. No que toca à Serra, o risco
aumenta devido ao declive, já que se trata de uma zona montanhosa. Neste
momento, é o Instituto da Água (INAG) que está a fazer o levantamento
das zonas de risco, e, segundo o ministro do Ambiente e Ordenamento do Território,
Amílcar Theias, que esteve no Fundão na passada semana, já
foi apresentado em Conselho de Ministros um programa de emergência que será
distribuído às autarquias, "com um conjunto de medidas com aplicação
a curto, médio e longo prazo, para evitar que os efeitos dos incêndios,
da erosão e da àrea ardida, não tenha efeitos e perigo para
as populações".
Fundão, Vila de Rei e Oleiros já sentiram os estragos
Na passada semana, com as primeiras chuvas de Outono, foram várias as notícias
que davam conta de inundações e cheias em vários pontos do
País. A Beira Interior não foi excepção.
No Fundão, as chuvas da passada quarta-feira de madrugada provocaram deslizamento
de terras em Vale Prazeres, na nacional 118. Já na véspera, garagens
e casas tinham sido inundadas nas zonas baixas da cidade do Fundão. Covilhã,
Proença-a-Nova e Castelo Branco foram zonas onde a chuva se fez sentir,
tendo caído, segundo o Centro Nacional de Operações de Socorro,
49 milímetros de água por metro quadrado na cidade serrana. Já
em Vila de Rei, a autarca local, Irene Barata, mostra-se preocupada com o arrastamento
de cinzas para as linhas de água. Segundo ela "é impossível
construir vales ou aceiros em 17 mil hectares de terreno que ardeu este Verão",
pois o município "não tem meios financeiros". Em Oleiros
já houve altos danos, com a autarquia a contabilizar milhares de contos
de prejuízos. Algumas estradas foram mesmo cortadas e a Câmara diz
que não há meios para contrariar a força das águas.
O ministro do Ambiente, Amílcar Theias, no entanto, no caso de Oleiros,
garante que se for necessário, "o INAG porá à disposição
técnicos para apoiar os proprietários, pois há medidas que
eles terão que tomar. Não é uma questão de meios,
pois se calhar os custos até nem são muito elevados. É preciso
é tomar as medidas certas no momento certo" explica. Entre as várias
soluções para evitar cheias, Theias salienta a colocação
de travejamentos junto às cabeceiras dos rios, de modo a evitar o arrastar
os objectos dos incêndios. E salienta que o INAG "tem medidas práticas
para serem aplicadas no imediato, para garantir que os cursos de água e
albufeiras estejam estabilizados."
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