Tiago Oliveira Rodrigues*
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Reparos à propina de ? 700!
Com serenidade, gostaria de expressar a minha opinião
relativamente ao aumento das propinas. O aumento das propinas não é uma medida
estranha, tendo em conta o flanco que nos governa. A política exclusivamente economicista
levada a cabo por este governo só podia dar nisto. Parece-me que este Governo
vê Portugal como uma exploração agrícola que, custe o que custar, tem que dar
lucro. Dessa forma, os animais comem o que se lhes der. Sem grande esforço de
memória, sou capaz de me lembrar de algumas medidas tomadas por este governo:
subida do IVA, fim do crédito bonificado, congelamento dos salários da função
pública, cobrança de novas portagens, cobrança de impostos especiais por conta,
venda de património público… aumento das propinas… Ora, governar assim não tem
nada que saber. E eu que pensava que os políticos eram pessoas capazes de obter
as melhores soluções para os piores problemas! (Por este andar, qualquer dia ainda
se lembram de dizer que o Pai Natal não existe). Apresentada esta medida, há que
sacudir para cima dos reitores a responsabilidade de estabelecer o valor da propina,
em cada estabelecimento. Com este lance, o Governo liberta-se, de forma genial,
do fardo que esta decisão acarreta. A reacção foi óbvia. Em 9 de Setembro, a opinião
do reitor da UBI, tal como a do CRUP, era a de que "não compete aos reitores propor
o valor da propina". O CRUP acrescentava ainda que a fixação do valor das propinas
"corresponde a um instrumento geral da política social prosseguida no sector do
ensino universitário público (...), pelo que essa fixação deve caber prima face
ao Governo e à Assembleia da República". Dez dias depois, na UBI, era fixada,
em Senado, a propina que os estudantes terão que pagar no corrente ano lectivo.
Com todo o respeito, apetece-me dizer - Srs. Reitores, mais valia estarem calados.
No caso da UBI, segundo o reitor Santos Silva, o montante foi calculado distribuindo
pelo número de alunos da instituição o deficit previsto depois de distribuídas
as verbas do Orçamento de Estado (Digam lá que este não é o maior passo dado,
até hoje, para acabar com o Ensino Superior Público em Portugal). Santos Silva
aproveitou imediatamente para alertar, os preocupados estudantes, que "Sem este
aumento de propinas, estaríamos de certeza absoluta a prejudicar a qualidade do
ensino que ministramos". O problema é que alguém que tem 5 euros no bolso, não
pode comprar uns sapatos de 10 euros, por muito que lhe digam que a diferença
de qualidade compensa. Esta é a realidade. É claro que se compreende que alguém
que vive, nos dias de hoje, tentando manter uma Universidade com as contas equilibradas
considere que 700 euros é uma quantia acertada. Também se compreende que 20 ou
30 senhores, que auferem um salário mensal de várias centenas de contos, reunidos
numa sala para, em duas ou três horas, fixarem o valor de uma propina, considerem
que 700 euros é uma importância sensata e razoável. Também se compreende que os
restantes Professores se remetam ao silêncio, afinal de contas, não é nada com
eles. E até se compreende que grande parte dos alunos passe um pouco ao lado desta
questão porque, para eles, o dinheiro sempre caiu do céu. Por isso vou tentar
consciencializar as pessoas com um exemplo bem real. Um estudante deslocado de
casa cerca de 250Km gasta em média 70 euros em viagens. Se almoçar todos os dias
na cantina gasta 39,6 euros. Para tomar o pequeno-almoço, lanchar e jantar precisa,
pelo menos, de 90 euros. A renda média de um quarto na Covilhã é de cerca de 125
euros. É preciso ainda pagar água, luz e gás. Há ainda determinados bens essenciais,
como produtos de higiene pessoal e outros. Acrescentemos-lhe 30 euros. Há que
pagar também taxas e emolumentos (exames, requerimentos, etc.), material escolar
(fotocópias, livros, etc). Fixemos mais 25 euros. Com despesas básicas temos quase
400 euros mensais garantidos. Sendo a pessoa humana um ser eminentemente social
e cultural é bem possível que uma ida ao café, por dia, seja habitual, um aniversário
ou algo semelhante possa muito bem ocorrer, e ainda ler um jornal ou uma revista
por semana, uma ida ao cinema ou ao teatro e a compra de um livro parecem-me gestos
perfeitamente naturais (e até aconselháveis). Com isto, temos que um estudante
gasta "à vontadinha" 450 euros mensais. Neste momento, há a acrescentar 175 euros
a quatro dos dez meses e meio correspondentes a um ano lectivo, o que dá qualquer
coisa como 625 euros de despesas reais num só mês. Considerando que o ordenado
mínimo nacional ronda os 370 euros, temos que admitir que alguma coisa está mal.
Neste momento, todos devemos parar e pensar um pouco. Será que temos solução para
o problema? Quem se atreve a lançar a primeira ideia?
*aluno da UBI
a11403@alunos.ubi.pt
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