As instalações da Universidade da
Beira Interior (UBI) foram encerradas a cadeado às 5h e 30m de quarta feira,
1 de Outubro, pela Associação Académica da Universidade da
Beira Interior (AAUBI). A manifestação, na Rua Marquês D'Ávila
e Bolama, reuniu cerca de mil estudantes e teve o seu momento alto na marcha lenta
até à Reitoria.
"Bolsas, sim, propinas, não, o que queremos é uma boa educação"
foi uma das frases de ordem mais ouvida durante a manifestação em
protesto contra a propina de 700 euros fixada na UBI.
João Meirim, aluno de Medicina, considera o valor a propina "um absurdo",
porque "nem todos o podem suportar". O estudante participou na manifestação
com o intuito de "mostrar ao Governo que a forma como o Ensino Superior está
a ser tratado é inadmissível". "A manifestação
é a forma dos estudantes mostrarem a sua opinião, já que o
poder político não atende às nossas reivindicações",
conclui.
Outro estudante que se juntou à manifestação, Sérgio
Vieira, defende que "o Governo está a tentar matar o ensino público".
Na UBI há três anos, Sérgio Vieira não compreende "como
é possível se cobrar uma propina tão elevada numa universidade
do interior". Uma lamentação do aluno de Engenharia Mecânica
foi o facto de "não ter aparecido toda a gente". "Os estudantes
estão descontentes, mas também não se dignam a aparecer",
desabafa.
O dia de protestos coincidiu o com o primeiro dia de aulas dos alunos do 1º
ano. Alguns juntaram-se à manifestação. Para Gonçalo
Araújo, "caloiro" da licenciatura em Filosofia, fazer-se justiça
seria "manter o valor anteriormente estabelecido do salário mínimo".
O recém-chegado à UBI acredita na importância da manifestação,
"para ver se se baixa o valor das propinas, que é muito elevado".
Hélder Prior, "caloiro" da licenciatura em Ciências da Comunicação,
aderiu à manifestação, porque lhe pareceu "uma causa justa".
O estudante gostou do que viu. "O movimento estudantil está organizado
e mostra que os alunos também têm uma palavra a dizer em todo este
processo".
|
Santos Silva ouviu os protestos dos alunos
|
A marcha lenta dos estudantes rumo à Reitoria deu-se ao final da manhã,
entre cânticos. Os estudantes empunham uma faixa com uma mensagem premonitória:
"Vamos extinguir [as ideias d]este Lynce". Chegados à Reitoria,
clamaram por Santos Silva, reitor da UBI.
Santos Silva ouviu os protestos dos estudantes que se deslocaram à Reitoria,
lembrando que, a título pessoal, não concordava com a nova lei de
financiamento do Ensino Superior, mas que "as leis existem para serem cumpridas"
e o equilíbrio financeiro da instituição com a propina de
700 euros "uma decisão de gestão necessária". "É
imperativo que a UBI se distinga pela qualidade e pela diferença, já
que, pela sua localização geográfica pode estar condenada
à morte, e, para isso, é preciso dinheiro", justifica-se.
"Há uma desresponsabilização do orçamento por
parte do Estado e as instituições têm de sobreviver",
advoga.
O presidente da AAUBI, Luís Franco, disse a Santos Silva que "os estudantes
quiseram mostrar à Reitoria a sua posição em relação
ao valor da propina estabelecido na reunião de Senado". O dirigente
estudantil reconhece que "a culpa do problema não são os reitores,
mas sim a política do Governo para o Ensino Superior". No entanto,
reclama "uma tomada de posição clara por parte da Reitoria",
uma vez que, para Franco, "o momento é de unir esforços".
O reitor, Santos Silva, avança que "se no momento actual fosse estudantes
e bolseiro também estava apreensivo". Santos Silva espera que "o
Governo cumpra o que apregoa em anúncios televisivos, onde se publicita
que nenhum estudante vai ficar fora do Ensino Superior devido a problemas financeiros".
A ocasião foi aproveitada pelo presidente da AAUBI para destacar "diversos
problemas na UBI que ainda estão por resolver". "Por vezes, tenta-se
poupar dinheiro tirando-se coisas aos estudantes, como a manutenção
de certas infra-estruturas e cortes no aquecimento", exemplifica.
O protesto teve início na noite anterior, terça feira, 30 de Setembro,
a partir das 23h, frente aos Serviços Académicos da instituição,
onde estiveram presentes mais de quatrocentos estudantes.
Durante a tarde de quarta feira, houve ainda a realização de um
peditório simbólico realizado nas ruas da cidade da Covilhã.
"O protesto não vai terminar enquanto não forem mudadas as
políticas de gestão das universidades, tanto a nível local
como a nível nacional", garante, Luís Franco.
|