U@O - As próximas eleições
para a Reitoria são em Novembro próximo. Vai-se recandidatar?
Manuel Santos Silva - É bom que haja alternância nestes cargos.
Um indivíduo não se pode perpetuar. É preciso dar lugar a novas
pessoas, com novas ideias e uma nova dinâmica para a Instituição.
Vivemos uma situação difícil no Ensino Superior, a nossa Instituição
ainda não está devidamente estabilizada e vamos atravessar um período
complicado em termos de captação de verbas para os empreendimentos
que temos em curso. Haverá ainda uma grande transformação no
Ensino Superior, pois há que implementar a Declaração de Bolonha,
uma nova Lei de Bases da Educação, uma nova Lei de Autonomia. Há
que produzir novos estatutos para a Universidade, incluindo um novo estatuto da
carreira de docente. Tudo isto terá de se concretizar num curto espaço
de tempo. É evidente que me dizem que numa situação destas
seria melhor para a Universidade ter alguém que conhece bem a instituição,
com conhecimento sobre como conduzir determinado tipo de processos. Perante as minhas
responsabilidades, a situação da Universidade e as manifestações
de apoio que tenho tido, até por parte de todos os que estão em condições
de se candidatar, não me parece que tenha grandes alternativas. Há
que ponderar para bem da instituição. Eu nunca fugi aos problemas.
U@O - O programa a apresentar é de continuidade?
M.S.S.- Será de continuidade em alguns aspectos, mas não noutros.
Não sou capaz de estar quieto. Essa não é a minha maneira
de estar. Tenho novas ideias para a Universidade, mas há projectos já
traçados que têm de continuar.
Este ano embarcámos numa nova aventura, o curso de Arquitectura, com novas
metodologias de aprendizagem. Não podemos esquecer que há um grande
desafio na Declaração de Bolonha. Se a quisermos implementar tal
e qual está definido, será uma mudança radical na instituição.
Tanto para alunos como para professores. Não é um processo fácil.
As universidades são massas com alguma complexidade e que levam o seu tempo
a adaptar-se.
U@O - Como se encontra a UBI a nível de infra-estruturas e que obras
estão planeadas a curto e a longo prazo
M.S.S.- Uma das lacunas desta instituição é a unidade
alimentar no Pólo IV. Tendo uma residência da dimensão da
Pedro Álvares Cabral, que poderá acolher entre 375 e 420 alunos,
é evidente que teremos de construir uma unidade alimentar.
Para colmatar um pouco o problema, este ano alargámos o snack, com receitas
próprias da Universidade e dos Serviços de Acção Social,
tentando dar um mínimo de condições aos alunos daquele Pólo.
O nosso objectivo para uma nova unidade alimentar passa por conseguir um sistema
de cattering interno da universidade. Desta forma poderia-se baixar os custos
de confecção dos alimentos e melhorar a qualidade, uma vez que se
terias um controlo mais eficiente, oferecendo também, maior variedade.
Se tivermos financiamento para aquela unidade alimentar, ela será construída
em moldes ino-vadores, não será só mais uma cantina no sentido
tradicional.
U@O - Mas tem outros investimentos em mente...
M.S.S.- Há ainda outras obras que terão de ser levadas a cabo.
O pólo III é algo que teremos de solucionar com alguma urgência,
porque quando a Faculdade de Medicina entrar em velocidade de cruzeiro, teremos
entre 700 e mil alunos e é claro que nessa altura fará sentido construir
mais uma residência nessa zona. Teremos alguma dificuldade em justificá-la
à Tutela, porque temos uma das melhores taxas de cobertura a nível
nacional. Por isso mesmo estamos a inovar. Vamos tentar construir a residência
em parceria com privados. Porque estamos cientes de que o Orçamento de
Estado não chega para tudo e vamos tentar resolver um problema que deverá
surgir dentro de dois ou três anos, com a transferência da FCS para
o pólo III.
No que diz respeito às condições dos funcionários,
não nos pode-mos esquecer que a reitoria está muito bem instalada
num convento do século XVI, mas as condições de trabalho
de alguns funcionários da reitoria não são as mais adequadas.
É necessário expandir os serviços centrais.
U@O - E quanto às salas de aula?
M.S.S.- A esse respeito, a UBI já está neste momento, praticamente
em ruptura. Temos problemas sérios na elaboração dos horários,
se bem que funciona-mos em dois turnos, porque os anos ímpares têm
aulas de manhã e os pares à tarde. Essa medida foi implementada
fundamentalmente por razões pedagógicas. Mas também nos permite
gerir melhor os espaços da universidade.
É urgente que se dê início ao Complexo Pedagógico das
Ciências do Desporto, onde os alunos estão a ter aulas em condições
que não são minimamente admissíveis. Há também
que ampliar as áreas de ensino das Ciências Sociais e Humanas e das
Letras. Há que recuperar um edifício contíguo, que a UBI
já adquiriu com receitas próprias, onde já se insere o Cybercentro.
U@O - A residência Pedro Álvares Cabral, precisamente junto ao
Pólo IV, já devia estar pronta para começar a funcionar no
início do ano lectivo, o que não aconteceu....
M.S.S.- O responsável pela empresa já garantiu que entregaria
a obra no final de Outubro. Depois ainda precisamos de algum tempo para a equipar
e mobilar. Não é admissível que uma empresa não tenha
terminado a obra o ano passado, conforme se comprometeu, para que entrasse em
funcionamento neste ano lectivo. É uma residência que nos vai permitir
praticamente duplicar a capacidade de alojamento, se bem que a UBI já tem,
neste momento a melhor cobertura de camas por aluno a nível nacional. Espero
que ainda durante este ano lectivo se possa ocupar pelo menos parte desta residência
e resolver um dos grandes problemas dos alunos da UBI, uma vez que temos uma percentagem
extremamente elevada de alunos deslocados. Nesta nova residência vamos inovar.
Por exemplo, a nível informático está toda equipada com sistemas
wireless. Um aluno, em qualquer ponto da residência, poderá estar
ligado à rede da universidade com o seu computador portátil.
"Ou nos afirmamos pela qualidade e pela
diferença, ou morremos"
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U@O - Medicina na UBI foi um dos cursos mais procurados a nível nacional,
com uma das causas apontadas para a metodologia inovadora de ensino. Essa metodologia
será alargada a outras licenciaturas?
M.S.S.- A Universidade tem de mudar, até porque, cada vez mais o que
conta é a aprendizagem feita pelos alunos e não o que os professores
ensinam. Há uma grande percentagem de alunos que não frequenta as
aulas e isso é inconcebível. Temos de arranjar uma nova metodologia.
Os tempos mudaram. Quando passei pelos bancos da universidade, a minha principal
fonte de informação era o professor. Hoje em dia a informação
entra por todo o lado e de variadas formas. Não temos só o suporte
de papel, mas todas as novas tecnologias da comunicação e informação.
Hoje o professor tem de ser mais um encaminhador, traçar os objectivos
do aluno. É por isso, num esforço de adaptação, que
a nossa universidade tem dos maiores índices de computadores por aluno
das universidades europeias. Não é por acaso que a nova Biblioteca
Central não é uma biblioteca tradicional. É uma estrutura
dinâmica em que qualquer utente tem acesso à informação
através do suporte de papel, mas também através das novas
tecnologias. Tudo isto está a ser desenvolvido porque na UBI pensamos que
o que conta é o que o aluno aprende. Julgo que o caminho que seguimos em
Medicina é o que as universidades têm de tomar.
U@O - Cinema e Arquitectura, que mais valias trarão?
M.S.S.- A UBI foi desenvolvendo, ao longo do tempo, competências na
área da imagem, de uma forma geral e da produção de conteúdos.
Há uma necessidade absoluta de formar profissionais nesta área.
para além das Ciências da Comunicação e do Design Multimédia,
desenvolvemos uma estrutura ao longo do tempo, como o CREA ou o Cybercentro, onde
existem estúdios, capacidade de produção.
Na área de arquitectura fomos também adquirindo experiência
e "know how" ao longo do tempo. Temos no Departamento de Engenharia
Civil um ramo de Planeamento e Urbanismo, onde há um conjunto de arquitectos
que ao longo do tempo tem desenvolvido actividades relacionadas com a arquitectura.
Não queremos um curso de massas, temos 40 alunos e propusemos, no máximo,
50, para podermos implementar um novo processo de aprendizagem, pôr os alunos
a trabalhar e segui-los convenientemente.
U@O - O orçamento de funcionamento foi reduzido em cerca de 400 mil
euros em relação ao ano passado. Como vê essa redução?
M.S.S.- Penso que esta redução foi demasiado drástica.
Se nós já estávamos numa situação complexa,
tivemos de aumentar as propinas para tentar um equilíbrio mínimo
da instituição em termos financeiros e para continuarmos a ter a
qualidade que desejamos para a universidade. Se não tivermos esses valores
o ensino praticado irá degradar-se em termos de qualidade. As propinas
servem, no fundo, para suportar a qualidade do ensino.
U@O - O valor das propinas fixado em 700 euros será suficiente para
equilibrar as contas da instituição?
U@O - O valor que fixámos foi tendo como base o plafond do ano passado,
este ano reduzido em 400 mil euros. Quer isto dizer que teremos de procurar outras
receitas que irão contribuir para o equilíbrio financeiro. A propina
que estabelecemos em reunião do Senado foi conseguida de uma forma simples.
Fizemos as contas e tínhamos um défice de cerca de três milhões
e meio de euros, grosso modo. Temos cinco mil alunos. Para equilibrarmos financeiramente,
precisamos de 700 euros por aluno. Perguntei ao Senado se queríamos entrar
em ruptura financeira, degradar a qualidade de ensino, ou manter uma qualidade
mínima. Não temos alternativa. Estamos no Interior, ou nos afirmamos
pela qualidade e pela diferença, e os números que temos no acesso
deste ano, mais uma vez demonstram, os alunos escolhem esta universidade, ou então
morremos. Se o Estado se desresponsabiliza, temos de ir buscá-lo a outra
fonte, que são as famílias, ou os estudantes. Não há
outra situação possível.
U@O - Será possível manter o mesmo número de bolseiros
quando o orçamento para a acção social subiu menos de 400
mil euros?
M.S.S.- Para mantermos o nível de bolsas que tínhamos no ano
passado, por exemplo, teremos que ter um reforço orçamental. Neste
momento o valor que nos atribuíram é insuficiente, e estamos a alertar
o Governo para esse aspecto. O Governo garantiu que nenhum estudante ficaria de
fora por razões financeiras. Espero que cumpra.
O reitor tem paixão
pela agricultura
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Manuel José dos Santos Silva nasceu e cresceu numa quinta
junto a Vale Formoso. Foi nessa freguesia e depois em Orjais que
frequentou a escola primária. Concluído o ensino primário
fez o primeiro e o segundo ano no colégio de Belmonte seguindo
para o liceu da Guarda onde concluiu o sétimo ano. Nesse
verão, como em todos os outros durante o tempo de estudante,
ficou a ajudar os pais na quinta. "As minhas férias
forem sempre passadas agarrado a um tractor ou em outras actividades
agrícolas". Mas, nessa altura, nasceu uma dúvida
quanto ao que queria estudar. "Tinha feito o sétimo
ano com uma média bastante elevada, que me dispensava das
provas de aptidão. Como fiquei dispensado porque tinha média
superior a 16, tinha uma grande dúvida entre ir para o Técnico
ou para medicina. Na altura tinha uma vocação grande
para a parte tecnológica, mecânica. Por isso escolhi
a Engenharia Mecânica, mas também poderia ter ido para
medicina. Provavelmente, como, sempre tive muita aptidão
para inventar coisas novas, para mexer, para idealizar esquemas
e sistemas teria seguido cirurgia..."
Ainda antes de se ter licenciado em Engenharia Mecânica no
Instituto Superior Técnico, em Lisboa, começou a dar
aulas de física no liceu Camões.
Em 1975, ano em que terminou a licenciatura, ingressou no então
Instituto Politécnico da Covilhã. Foi aqui, neste
instituto que depois se transformou em Universidade da Beira Interior,
que decorreu todo o seu percurso académico. À excepção
da pós -graduação em engenharia Têxtil
que concluiu na Universidade da Alta Alsacia para onde foi, a convite
e com uma bolsa do governo francês. A partir daí iniciou
a investigação na área do têxtil.
Manuel Santos Silva foi o primeiro doutorado pela instituição.
"Por isso me considero também ex-aluno da UBI. Poderia
ter apresentado a tese alguns anos antes, porque o trabalho estava
concluído, mas fiz questão que os doutoramentos fossem
criados nesta instituição, e de me doutorar aqui".
Acompanhando o instituto politécnico desde o início,
trabalhou de perto com o primeiro presidente da Comissão
Instaladora do Instituto, Duarte Simões, "nomeadamente
na questão das obras que era o essencial na altura, a expansão
física", refere. Em 1990, o então Reitor Passos
Morgado convidou-o para vice-reitor. "Quando aconteceram as
primeiras eleições na instituição para
Reitor, e como de acordo com a lei da autonomia e com os nossos
estatutos, só pode ser eleito um professor catedrático,
o único professor catedrático com nomeação
efectiva que existia na Universidade da Beira Interior era eu",
explica, e continua, "É evidente que no momento não
foi uma decisão fácil, mas não podia abandonar
a instituição, e é claro que me candidatei
para Reitor nessa altura". Já lá vão quase
(oito anos).
Nos tempos livres, o reitor da UBI foge para a quinta.
"Tenho um hobbie que provavelmente me está nos genes.
Sendo filho de agricultores, nasci no campo e gosto de fazer agricultura.
Quando tenho um bocadinho, fujo para a quinta. Como tenho o bicho
da investigação, também a minha quinta é
um campo de investigação. Vou sempre introduzindo
variedades, fazendo cruzamentos, ensaiando novos sistemas de rega.
Digamos que tenho uma propriedade que é o meu hobbie, onde
passo os bocadinhos que tenho e tentando sempre inovar".
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