José Geraldes
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O perdão não morreu
O inimigo do perdão é o ódio. Quem
deseja mal ao outro e persiste nesta atitude, tem dificuldades em aceitá-lo
Antonio Tabucchi, escritor italiano que também escreve em português,
publicou um artigo no Diário de Notícias, com o título
de O perdão morreu. A justificação do título
deve-se ao facto, como largamente o autor procura explicar, da negação
do perdão presidencial ao activista Adriano Sofri condenado por assassínio
na sequência dos acontecimentos de 1968.
Pelo que se infere dos dados referidos por Antonio Tabucchi a questão assumiu
contornos polémicos. Embora -sublinha o autor- exista a figura do perdão
jurídico- até agora as autoridades italianas neste caso não
a utilizaram. Por isso, Antonio Tabucchi põe em causa o próprio
Presidente da República Ciampi. E conclui que o perdão morreu.
Utilizada assim de forma tão convicta, a expressão pode levar-nos
à ideia errada de que, entre os homens, o perdão acabou. Antes do
cristianismo, efectivamente vingava a lei de Talião : olho por olho, dente
por dente. Ou seja, a vingança total. Sem posssibilidade de reconciliação.
Claro que, em matéria criminal, o criminoso deve reparar os males que praticou.
Ora Jesus Cristo instaurou uma nova era nas relações humanas. E
quebrou a lei de Talião. No coração da sua mensagem, reside
o amor que leva ao perdão. Aliás, a vida em sociedade sem perdão
transforma-se num inferno, dando razão a Sartre quando diz que "o
inferno são os outros."
Para quem optou por ser cristão, sabe que os outros reflectem a imagem
de Deus.
A parábola do bom samaritano ilustra esta verdade. Nos tempos modernos,
Madre Teresa de Calcutá deu um testemunho que impressiona crentes e não-crentes.
O actual Papa João Paulo II perdoou ao criminoso que tentou assassiná-lo,
na Praça de S. Pedro. O grito histórico de Cristo na hora da sua
morte na cruz - "Pai, perdoai-lhes "- ficou como norma de comportamento
humano.
Mas não é preciso ser cristão para na vida ter o perdão
como lema. Muitos homens e mulheres sem terem prática religiosa deram também
lições a este respeito. E contribuem com a sua tolerância
e forma de estar no mundo para que o perdão esteja na base do entendimento
mútuo. E se possa viver mais em paz.
O inimigo do perdão é o ódio. Quem deseja mal ao outro e
persiste nesta atitude, tem dificuldades em aceitá-lo e pautar a sua vida
por uma lógica diferente na relação pessoal.
Portanto, o eliminar as causas do ódio é a primeira etapa no caminho
do perdão. Historicamente, há exemplos comprovam este facto.
Os dicionários esclarecem ao definir a palavra perdão que se trata
de "deixar de querer mal a alguém" e "não guardar
ressentimento em relação a um agravo." Na origem etimológica,
perdoar é dar. Dar de novo a amizade e garantir a certeza do esquecimento
para se abrir um novo capítulo na vida.
Quantos homens e mulheres não seguiram este caminho ? O perdão é
difícil mas possível. O coração humano dispõe
de potencialidades capazes de operar transformações radicais.
As Brigadas Vermelhas assassinaram na mesma Itália Aldo Moro, primeiro-ministro.
Os autores deste crime foram julgados e condenados a penas pesadas. Volvidos anos,
a filha de Aldo Moro foi visitar os carrascos do seu pai para lhes comunicar que
llhes perdoava.
Afinal, o perdão não morreu.
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