José Geraldes
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Cova da Beira e fundos comunitários
Os governos não podem continuar a dizer que olham
para o Interior e não lhe dão os fundos necessários ao desenvolvimento.
Haja acção, porque de palavras já estamos fartos.
Os fundos da União Europeia desenvolveram o País a várias
velocidades. E o Litoral ficou a ganhar em prejuízo das zonas do Interior.
Em lugar de destaque, surgem as Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto.
Esta é a conclusão de um estudo de Paulo Reis Morão, docente
da Universidade do Minho.
Os índices em que se baseiam as análises, são os utilizados
pela ONU na classificação dos países pobres e ricos. Por
estes índices, verifica-se que o Interior deu alguns passos no seu desenvolvimento,
mas ficou a uma longa distância do Litoral. A análise vai até
1999 mas a tendência do desenvolvimento manteve-se até hoje. Aliás,
segundo o diário Público que resume o estudo, todo o País
cresceu mas com desigualdades.
O Público compara dois exemplos desiguais de desenvolvimento: o do Grande
Porto e o da Cova da Beira, segundo os índices da educação,
longevidade, conforto, paridade do poder de compra e rendimento ajustado. O Grande
Porto está em segundo lugar, depois de Lisboa. A Cova da Beira aparece
em último, entre as restantes regiões do País.
Para melhor compreensão da desigualdade e com base no índice da
ONU, neste caso o IDS (Índice de Desenvolvimento Social), Portugal Continental
tinha em 1999 o índice de 90,9 por cento e a Cova da Beira 87,6 por cento.
O valor máximo pertencia à Grande Lisboa com 93,4 por cento, seguindo-se
o Grande Porto com 92,6 por cento.
O fosso de separação da Cova da Beira em relação à
Grande Lisboa e ao Grande Porto salta à vista. A comparação
com o Grande Porto realça o dinamismo que envolve a capital do Norte e
o marcar passo que atinge a Cova da Beira. Para ultrapassar este fosso, há
um longo caminho a percorrer. E não se pode perder tempo em lutas estéreis
que não levam a nada e só atrasam o desenvolvimento por que ansiamos.
O autor do estudo aponta exactamente este caminho. Em entrevista ao mesmo diário,
Paulo Reis Morão diz: "Urge, hoje, creio, reencontrarmos redes de
solidariedade regional que passam por uma maior participação de
agentes locais (públicos e privados), esvaziamento de rivalidades pseudo-bairristas
substituídas por áreas de integração diversificada
(potencial económico, gestão de desafios sociais, concertação
de recursos comuns com rios e acessibilidades) e substituir a palavra pela acção".
As declarações do jovem académico contêm um programa
para aplicar. E que não é desconhecido por cá.
Temos o diagnóstico feito há muito tempo. Folheando o NC, pelos
menos desde os anos 20 do século passado que se fala do problema que é
a mono-indústria e do ex-libris do turismo que se chama Serra da Estrela.
Da necessidade da modernização dos lanifícios e das potencialidades
da Cova da Beira. Quem prestou atenção a estas potencialidades?
Que decisões políticas foram tomadas para que o Interior progredisse?
Que mudança de mentalidade fizeram os empresários para aumentar
a qualidade do tecido económico?
Quase 20 anos volvidos depois da nossa entrada na União Europeia, a Cova
da Beira tinha direito a um desenvolvimento mais sustentado. O que significa que,
em termos de justiça, é fundamental uma fatia maior na atribuição
dos fundos comunitários.
Já temos uma Universidade com uma Faculdade de Medicina e uma Faculdade
de Arquitectura. Conseguimos uma auto-estrada sem portagens que nos coloca em
Lisboa em pouco mais de duas horas. Mas a interioridade cola-se à Cova
da Beira como um destino.
Para contrariar esta tendência, a solução passa pela distribuição
dos fundos comunitários em plano de igualdade pelo Litoral e pelo Interior.
A decisão é política. Compete-nos exigi-la a quem de direito.
Os governos não podem continuar a dizer que olham pelo Interior e não
lhe dão os fundos necessários ao desenvolvimento. Haja acção
porque de palavras já estamos fartos.
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