Amolador, oleiro, latoeiro, fiandeira, forneira,
camponês, lavrador com charrua e o símbolo máximo da cultura
raiana portuguesa, a adufeira. A lista de peças feitas por Jerónimo
Ventura e dadas a conhecer em terras da Extremadura espanhola não se esgota
nestes exemplos. O artesão mostrou na X Feira Raiana, realizada na Mancomunidad
de Las Hurdes entre os dias 4 e 7, que a memória e tradição
bem podem ser associadas à inovação e tecnologia. Participante
já em três edições do certame, organizado este ano pela
Mancomunidad de Municípios de Las Hurdes, com o apoio da Associação
La Raya/A Raia, da qual faz parte o Centro Municipal de Cultura e Desenvolvimento
de Idanha-a-Nova, Jerómino Moura foi até Espanha pela primeira vez.
Diz que não lhe interessa vender as peças, mas sim mostrar a sua arte.
"Agarrei-me a estas coisinhas para que seja possível ficar cá
recordações relacionadas com o passado da nossa região",
refere o artesão. O interesse comercial que a X Feira Raiana comporta é
posto em segundo plano. Para Jerómino Moura o importante é o "convívio
e a confraternização" entre os dois povos vizinhos. Uma opinião
igualmente partilhada pelo presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova,
Álvaro Rocha. "Ponho a confraternização à frente
do cariz económico que a Feira tem. As pessoas juntam-se e é a partir
deste contacto que podem surgir bons negócios, determinantes para o futuro
destas zonas", considera o autarca. A "junção de dois povos",
"durante muitos anos separados", é vista por Álvaro Rocha
como um dos aspectos mais importantes da Feira Raiana. O edil confessa também
que ficou "muito contente" com a adesão que se fez sentir no dia
de inuguração do certame, na quinta-feira, 4.
Idanha quer feira anual
Artesanato, maquinaria agrícola, gastronomia tradicional, pintura, são,
entre outros, alguns dos produtos expostos nos vários stands, dispersos
pelas localidades de Nuñomoral, Rubbicco, Caminomorisco, Pinofranqueado
e Casar de Palomero. "Apesar das fronteiras, que se tem tentado abolir, partilhamos
uma realidade económica e social muito parecida", afirma Gervasio
Martín Gómez, presidente da Mancomunidad de Las Hurdes, durante
a sessão inaugural. De facto, o desenvolvimento de uma região que
vive as mesmas dificuldades, quer no lado português, quer no lado espanhol,
atravessou os discursos de todas as entidades oficiais. Álvaro Rocha acentua
isso mesmo. "Este tipo de certame serve para aqueles que nos governam terem
a noção de que, ao aproximarem, têm muito a lucrar comercialmente".
Mas, alerta, "é muito importante que este certame se continue a realizar,
porque este é um relacionamento que demora muitos anos a cimentar".
Entretanto, Álvaro Rocha equaciona a hipótese de Idanha-a-Nova vir
a ter uma Feira Raiana todos os anos, ao contrário do que actualmente acontece.
"De dois em dois anos começa a ser pouco", esclarece.
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