Andreia Reis
NC / Urbi et Orbi


A Beira Interior continua a ter uma das mais altas taxas de analfabetismo do País

"O principal fundamento do Ensino Recorrente é o combate ao analfabetismo". É desta forma que Anabela Ribeiro, coordenadora do Ensino Recorrente nos concelhos da Covilhã e de Belmonte, realça a razão da existência deste ensino.
Para a coordenadora, o analfabeto não é só aquele que não sabe ler ou escrever, mas também aquele que não sabe adaptar-se à sociedade e às novas tecnologias. "Há uma alfabetização lateral porque há pessoas que não sabem como estar na nossa sociedade, não sabem como agir perante determinadas situações ou simplesmente ir a um multibanco", explica Anabela.
O Ensino Recorrente é, actualmente, aquele que permite, a todos aqueles que não tiveram a chance de aprender ou de estudar na idade própria, uma segunda oportunidade de o poderem fazer agora. No entanto, ainda há muita gente que se sente embaraçada por voltar à escola. "Ainda existe o factor vergonha de chegar a adulto e de não saber ler nem escrever e de o mostrar perante os vizinhos e amigos", revela. Também o comodismo é outro factor que leva as pessoas a não aderir tão facilmente ao Ensino Recorrente. "Numa sociedade onde há tanta informação e publicidade, é muito melhor ficar em casa sentado no sofá do que ir para a escola aprender e isto acomoda muito as pessoas", sublinha.

Contacto porta a porta

As campanhas são feitas através das Juntas de Freguesia, de panfletos e meios de comunicação. Contudo, o efeito que têm para levar alunos ao Ensino nem sempre surte bons resultados. Para ter, então, uma maior número de pessoas, este ano, a campanha foi feita de maneira diferente. "Fizemos um contacto porta a porta e o resultado foi bastante positivo, até porque já temos 18 pessoas para o Ferro com a possibilidadede aumentar", revela a responsável. Também no Tortosendo há uma turma com 20 pessoas. No caso da Covilhã há quatro cursos com 20 alunos cada, a começar já no próximo dia 15. Este ano o horário vai ser diurno com duas turmas e pós-laboral com outras duas. O papel do formador aqui é "dinamizar a própria localidade, tenta inserir os alunos na comunidade onde estão de forma a intervirem nela", diz Anabela. E também "alfabetizar e sensibilizar a pessoa a não desistir e continuar a estudar para evoluir", continua.
Para além dos 1º e 2º Ciclos, este tipo de ensino também proporciona cursos nas vertentes extra-escolares e do PRODEP. "No concelho da Covilhã tivemos 39", afirma a coordenadora, que acrescenta que estes "são cursos que se dirigem à comunidade em geral".
Segundo Anabela Ribeiro, "no concelho de Belmonte é muito mais difícil de sensibilizar as pessoas, talvez porque seja um município mais fechado", refere. No caso da Covilhã, "há sempre um número suficiente para arrancar com outro curso". Só no ano passado, Anabela diz terem trabalhado com mais de mil pessoas. Na verdade, "o que custa é dar o primeiro passo, porque depois de cá estarem, as pessoas ganham amor pela escola e não querem desistir", refere a coordenadora.
Noutras freguesias mais isoladas também há o Ensino Recorrente, mas "nem sempre há alunos suficientes para criar uma turma", salienta.





Taxa de analfabetismo decresce na Cova da Beira



Apesar dos concelhos da Beira Interior apresentarem uma taxa de analfabetismo superior em 8,9 por cento à média registada em Portugal Continental. Este índice baixou consideravelmente em algumas zonas da região entre 1991 e 2001. Na Covilhã, numa população total de 54 mil e 505 pessoas, a taxa de analfabetismo era de 15,6 por cento segundo os Censos de 1991. Dez anos depois, o recenseamento revela uma taxa de 11,9 por cento. Numa população de dez ou mais anos de idade, segundo os Censos de 2001, há um total de 5 mil e 927 pessoas por alfabetizar, dos quais mil 850 são homens, o que significa que no concelho da "cidade neve" e em todos os outros, a maioria dos analfabetos são as mulheres. "Grande parte deste público são de uma faxa etária entre os 40 e os 60 anos de idade".
No caso de Belmonte, a população total é de sete mil e 592 pessoas. Num total de mil e 77 pessoas por alfabetizar, dos quais 423 são homens, havia uma taxa de 20,8 por cento em 91 e em 2001, a taxa desceu para 15,7 por cento.
No Fundão, os analfabetos com dez ou mais anos de idade, em 1991 num universo de quatro mil e 981 pessoas, dos quais mil 718 eram homens, a taxa era de 23,7 por cento. Já segundo os Censos de 2001, este índice decresceu para 17,3 por cento.
O total dos três concelhos, com dez ou mais anos de idade, são de 11 mil e 985 pessoas, dos quais três mil e 991 são homens. Em 1991, a taxa era de 18,8 por cento. Em 2001 desceu para 14 por cento.