António Fidalgo
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Negócios e drama na Nova Penteação
Dia 28 de Agosto teve lugar mais uma sessão dos credores da Nova Penteação
e como as outras sessões anteriores foi adiada. Era a quinta. Em cima da
mesa estavam as propostas de compra de Paulo de Oliveira e de Aníbal Ramos,
mas os credores não as votaram, preferindo voltar a adiar uma decisão,
que desta vez ficou para 11 de Setembro. Entretanto, Paulo de Oliveira retirou
a proposta de compra que apresentara antes em 30 de Julho, que melhorou na reunião
de 28 de Agosto, porque era condição que os credores a votassem
de imediato, o que não aconteceu. Tentemos perceber o que se passa.
Em carta circunstanciada enviada à comunicação social da
região e publicada no Notícias da Covilhã de 22 de Agosto,
Paulo de Oliveira manifesta o seu interesse e justifica a sua proposta de compra
no valor de apenas 3 milhões de euros (600 mil contos). É que a
esse montante haveria que acrescentar mais 22 milhões e meio de euros,
em investimentos, fundo de maneio e perdas nos dois primeiros anos da recuperação.
Ao todo 25 milhões e meio de euros. Por outro lado, a Nova Penteação
é uma empresa que neste momento se encontra sem encomendas e sem mercado.
A razão da compra é explicada "pelas economias de escala que
daí adviriam e que tornariam a Paulo de Oliveira SA num dos maiores grupos
têxteis europeus neste sector" e "ainda evitar a decisão
de prováveis investimentos nos Países de Leste". Argumenta
ainda Paulo de Oliveira que deixar falir a Nova será algo que sairá
muito caro aos cofres da Segurança Social: além da perda de uma
garantia hipotecária de 1,9 milhões de euros, provavelmente 7,5
milhões de euros em indemnizações e fundo de desemprego aos
trabalhadores.
Paulo de Oliveira é um empresário de enorme sucesso, o que aliás
faz valer na missiva ao referir que são "há vários anos
o mais rentável grupo têxtil português, pagando sozinhos mais
IRC que todo o restante sub-sector laneiro e quase tanto como as principais empresas
têxteis dos sub-sectores algodoeiro e fibras, malhas e têxteis lar,
todas juntas". O Estado teria então a ganhar com a venda da Nova à
Paulo de Oliveira na medida em que isso significaria a recepção
de mais impostos no futuro. Mas a compra da Nova seria também um bom negócio
para o empresário de sucesso, que nos últimos anos comprou a Penteadora
de Unhais e comprou o trespasse da Moura & Matos e da Laniber do Tortosendo.
Porque não vendem ainda os credores? Será que preferem a falência
da empresa? É claro que o seu objectivo é fazerem o melhor negócio
possível e para eles o caso não é mesmo nada simples. O seu
crédito será na ordem de algumas dezenas de milhões de euros
e os 3 milhões oferecidos serão cerca de 10% do que lhes é
devido. O imobiliário da Nova, as instalações no parque industrial,
as instalações da velha fábrica no tecido urbano da cidade,
certamente que valem muito mais do que os 600 mil contos oferecidos, a que haverá
que juntar o valor das máquinas e mais recheio da empresa. Por outro lado,
é sabido que muito desse dinheiro é devido à banca. Os créditos
que os bancos têm sobre a Nova ainda contam nos seus balancetes como activos.
Mas, no preciso momento em que venderem, terão que levar o diferencial
de 90% entre o que têm a haver e o que efectivamente recebem à conta
de prejuízos. Atravessando os bancos actualmente uma situação
muito difícil, aquilo de que menos precisam é de provisionar mais
perdas. Na perspectiva de dilatar o mal no tempo, terão interesse em postergar
para melhores tempos de crescimento económico, futuros, a inevitável
contabilização desses prejuízos. Face aos prejuízos
o ganho agora na venda seriam peanuts.
Certamente que há um braço de ferro entre credores e Paulo de Oliveira,
cada lado tentando fazer um negócio onde ganhem o mais possível
ou percam o menos possível. É essa a natureza dos negócios.
Mas para lá dos negócios, legítimos sem dúvida, há
o drama de mais uma empresa que corre sérios riscos de ir à falência,
dos trabalhadores que são a parte mais frágil de todo o processo,
da região que fica mais pobre.
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