A Barragem do Viriato, em onze anos, nunca teve níveis tão baixos como agora
Perigo iminente
Água só até Outubro

Outubro. É este o mês apontado pelos Serviços Municipalizados para que começe a faltar água na Covilhã. A barragem do Viriato não chega para as encomendas e a situação é classificada de "aflitiva". A própria água dos jardins pode vir a ser tratada para integrar a rede pública de consumo.


João Alves
NC / Urbi et Orbi


O aviso já tinha surgido em Abril. O presidente dos Serviços Municipalizados da Covilhã (SMAS), Alçada Rosa, deixava claro: "Num ano excepcional poderíamos ter problemas de água". E esse ano excepcional, com temperaturas altas, pode muito bem ser este. E por isso, a Covilhã arrisca-se a ficar sem água em Outubro.
Segundo Leopoldo Santos, engenheiro dos SMAS, nos últimos 11 anos não há memória de uma situação tão grave e tão má na Barragem do Viriato. As previsões apontam para que chova apenas em Outubro e, tendo em conta o consumo "que é muito elevado, muito diferente dos últimos anos", Leopoldo Santos não tem dúvidas em classificar a situação de "crítica" e "aflitiva". Segundo Santos, o primeiro nível de água da barragem está quase no fim e para retirar a que ainda está num segundo nível, mais abaixo, há dificuldades, pelo que os SMAS ponderam mesmo retirá-la com a ajuda de motores que a puxem por cima. Segundo as suas previsões, "tudo aponta para que na terceira semana de Outubro não tenhamos água". Entretanto, em Setembro, iniciar-se-ão as obras de recuperação da albufeira, mas que no entanto "não irão afectar a água existente".
Leopoldo Santos frisa, porém, que a autarquia tem aproveitado várias nascentes e furos de água, para abastecer a cidade, e frisa mesmo que o que tem contribuído para que a Covilhã não viva já momentos de seca é o aproveitamento de água não tratada para regar os jardins da cidade. Na pior das hipóteses, essa mesma água poderá ser um aliado valioso, pois "se as coisas piorarem, teremos que a tratar e integrá-la da rede de água de consumo". Quanto à hipótese da população ter que racionalizar o consumo de água, Santos afirma que o que se poderá fazer é apelar às pessoas para que só utilizem o precioso líquido para tarefas essenciais, mas que isso não resolverá o problema.

À espera do Governo

Recorde-se que os SMAS apontam para que os níveis da barragem estejam parecidos aos de 1995, ano de muito calor e de vários incêndios. Apesar dos esforços feitos no sentido de reduzir a dependência que o concelho tem da Barragem, os SMAS e a Câmara da Covilhã continuam a responsabilizar o Governo pelo facto da cidade viver esta situação aflitiva. É que, dizem os responsáveis, há projectos feitos para novas barragens nas Penhas, Atalaia do Teixoso e recuperação da do Padre Alfredo, junto à Nave de Santo António, os meios de financiamento não chegam. Relembre-se que em Julho, o autarca Carlos Pinto ameaçava mesmo que, se até 31 de Julho não houvesse respostas do Ministério do Ambiente sobre este assunto, "tomaremos acções públicas de desagrado". E dizia mesmo que "a paciência está a esgotar-se". A verdade é que, embora o autarca esperasse a presença do ministro do Ambiente, Amílcar Theias, este mês na Covilhã, o responsável do Governo ainda não veio à cidade serrana.