O trabalho de equipa é motivos de união dos jovens
Centro de Educação Especial (CEE) aguarda novas instalações
A oportunidade para as crianças deficientes

Há 28 anos que este centro se dedica ao desenvolvimento da autonomia de crianças com necessidades educativas especiais. Nesta instituição é feito o despiste das tendências vocacionais para que possam ser integradas no mundo do trabalho.


Por Sandra Pinho e Sofia Cação


O Centro de Educação Especial (CEE) é uma das valências da Associação Cristã da Mocidade da Covilhã (ACM). Este centro encontra-se ligado a crianças que necessitam de um ensino especial, a crianças com deficiências.
O ACM é uma instituição fundada após o 25 de Abril, em 1975, por um grupo de pais de crianças deficientes. Esta associação é semiprivada, pois tem parcerias e protocolos com os diversos ministérios. Os subsídios atribuídos às crianças pela Segurança Social revertem a favor da instituição como uma ajuda para a manutenção desta instituição. O Ministério da Educação suporta determinadas despesas como o salário dos professores e o transporte das crianças.
Esta instituição tem várias valências: o CEE, onde se desenvolve a actividade educativa; o Centro de Emprego Protegido (CEP); a comunidade terapêutica para a recuperação de toxicodependentes; o lar da 3ª idade para deficientes e Centro de Actividades Ocupacionais (CAO). O ACM está relacionado com pessoas deficientes à excepção da unidade terapêutica.
O CEE está especificamente ligado ao ensino de crianças deficientes, equivalendo ao ensino básico regular. Admite crianças com a idade escolar dos seis aos dezoito anos de idade, altura em que são encaminhados para outras valências ou para uma vida profissional.
Normalmente, as crianças são admitidas no CEE por sugestão de professores do ensino regular, que ao detectarem dificuldades de aprendizagem, solicitam uma apreciação aos técnicos desta instituição. Caso sejam admitidas, pede-se o deferimento ao Ministério da Tutela, mais especificamente à Direcção Geral de Educação do Centro.
Actualmente esta instituição tem 20 alunos ao encargo de quatro professores e seis auxiliares pedagógicos. O transporte das crianças começa a ser feito por volta das sete da manhã, para que se iniciem as actividades escolares às nove da manhã até às cinco da tarde, de segunda a sexta-feira. As actividades realizadas por esta instituição são variadas, pois para além da parte educacional, há também o desporto, a informática, a parte administrativa e o despiste vocacional. Este ponto é essencial para as crianças encontrarem a sua linha de orientação e poderem ser inseridas no mundo do trabalho.
Para uma melhor integração destes alunos nestas actividades é feita uma divisão em grupos, o mais homogénios possível, para os inserir nos diversos ateliês de trabalhos manuais. Escolhe-se um tema comum para todas as áreas facilitando, assim, a aquisição de conhecimentos.
O calendário escolar no CEE é diferente do do ensino regular. Começam as aulas na primeira semana de Setembro, fazendo apenas interrupção em Agosto e dois dias no Natal e na Páscoa. Segundo José Maria Simão, director pedagógico do Centro, é realizado um despiste da capacidade dos alunos, em cinco ou seis áreas, com o objectivo específico de os integrar no mercado de trabalho: "Pois chega a uma certa altura em que a aquisição de conhecimentos académicos estabiliza, não têm mais capacidade intelectual".
Passam por várias etapas dentro do CEE para adquirirem uma certa autonomia. Depois vão para o Centro de Emprego Protegido onde os "miúdos", termo carinhoso utilizado por José Maria Simão, começam a ter uma formação profissional. "Com as dificuldades que existem na sociedade em admitir estas crianças no mundo do trabalho", como refere o director pedagógico, "criámos dentro da própria instituição um tipo de emprego em que estes alunos se sintam úteis e realizados, como a jardinagem, trabalho de carpintaria, secretaria, etc".
"Devia haver uma quota nas fábricas para a admissão destes miúdos que são trabalhadores como qualquer cidadão que, nesta instituição, cumprem integralmente o seu horário de trabalho e têm o seu vencimento", salienta, ainda, José Maria Simão.
A política portuguesa actual incentiva à inserção de alunos com deficiências nas escolas de ensino regular, chamando-lhe escola inclusiva, para José Simão esta situação apenas cria "alunos excluídos". Estes alunos não têm capacidades para se integrarem no ensino regular e não exploram as suas verdadeiras vocações, sendo arrastados ao longo dos anos escolares até atingirem a maioridade. "Isto é um erro tremendo", diz José Simão em tom de revolta questionando: "O que é que um miúdo com trissomia 21 faz numa escola de ensino regular?" e explica: "Uma escola chamada inclusiva tem de ter certas condições e funcionar segundo certos parâmetros para poder satisfazer as necessidades dos miúdos".
O CEE possibilita a integração de certos alunos que demonstrem, ao longo da instrução primária, capacidades para prosseguirem estudos numa escola de ensino regular."Se não houver mudança política qualquer dia estas instituições fecham as suas portas. Se terminassem por não haver miúdos com deficiências era uma felicidade para todos, agora terminarem por insistirem em ter estes miúdos no ensino regular!" afirma José Simão indignado, "tem que haver consciência que o problema dos deficientes não se resolve com falsas pedagogias". O apoio, não só a nível monetário, a estas instituições tem um carácter urgente visto que o futuro das crianças com deficiências tem de ser assegurado, até mesmo para segurança dos pais. No caso do ACM, os deficientes têm o seu percurso de vida garantido, pois, desde o CEE passando pelo Centro de Emprego, até ao lar da terceira idade, são orientados.




Interacção com o meio

José Maria Simão

 

A autonomia dos alunos com deficiências, passa também por actividades extra-curriculares. O CEE tem a convicção que o intercâmbio com o meio circundante constitui um aspecto fundamental para o desenvolvimento social, psicológico e intelectual das crianças.
A interacção com o meio passa pela realização de várias actividades com outras escolas do concelho, por exemplo, a celebração do Magusto, do Carnaval. Participam nas festas da cidade da Covilhã, como os desfiles carnavalescos, datas e feriados importantes.
Tendo em vista o desenvolvimento da autonomia destas crianças no dia-a-dia, escrevem cartas e há um apoio para aqueles que não sabem ler nem escrever, metem as cartas nos envelopes e depois de colocado o selo deslocam-se até aos Correios onde as depositam. Para facilitar a deslocação em transportes públicos, é-lhes dado a conhecer todo o processo que põem em prática, por exemplo, nos comboios e nos autocarros. Deixam as crianças nas estações de comboios ou nas centrais de camionagem e depois vão busca-las ao destino.
Estas actividades são realizadas não só a nível local mas também a nível nacional, deslocando-se a eventos como a Expo 98, visitando o Jardim Zoológico e o Aquário Vasco da Gama.
Como muitos dos pais destas crianças têm dificuldades económicas e não lhes conseguem proporcionar umas férias num sítio diferente, o CEE angaria fundos para possibilitar momentos de lazer e convívio na praia, no campo, na serra. Há duas semanas, estas crianças tiveram a oportunidade de passar o fim de semana num empreendimento em Seia, onde passaram momentos inesquecíveis. Andaram a cavalo, nadaram na piscina e fizeram piqueniques.




Campeã nacional de ténis de mesa no CEE


Conversámos com Liliana Gaspar, durante a sua pausa matinal, onde realizava uma das tarefas diárias junto dos seus colegas. Esta tarefa solicitada por uma empresa local consistia na fabricação manual de pulseiras para um festival de música na Alemanha.
Liliana tem 17 anos e está nesta instituição há dez anos. Esta jovem levanta-se todos os dias antes das sete da manhã na sua casa em Tortosendo para esperar que chegue o transporte que a leva para o centro. Devido a dificuldades na aprendizagem, Liliana, começou a frequentar o ensino especial do CEE, onde desenvolve capacidades como, escrita, informática e onde pratica a sua actividade favorita, ténis de mesa. É campeã nacional nesta modalidade, tem estágios nacionais e internacionais, acompanhada sempre por um treinador. Brevemente vai para um estágio em Vila Nova de Gaia para prosseguir com os torneios.
A Liliana está a atingir a maioridade e, por isso, já foi discutida a sua situação futura. A esperança desta instituição é de a integrar num emprego numa residencial onde a sua mãe trabalha. Caso isto não seja possível, vai ter formação profissional no Centro de Emprego Protegido.


Futuro do CEE

Há sensivelmente três anos houve um incêndio nas instalações deste centro obrigando-os a instalarem-se no antigo Hospital da Covilhã onde permaneceram durante dois anos. Actualmente encontram-se no antigo Lar de S. José onde fizeram algumas adaptações para poderem trabalhar.
Já têm um projecto com a Câmara Municipal da Covilhã para fazer um novo centro. "O alargamento do espaço torna-se vital para o desenvolvimento das actividades nos ateliês" conclui José Maria Simão.