O Centro de Educação Especial (CEE)
é uma das valências da Associação Cristã da Mocidade
da Covilhã (ACM). Este centro encontra-se ligado a crianças que necessitam
de um ensino especial, a crianças com deficiências.
O ACM é uma instituição fundada após o 25 de Abril,
em 1975, por um grupo de pais de crianças deficientes. Esta associação
é semiprivada, pois tem parcerias e protocolos com os diversos ministérios.
Os subsídios atribuídos às crianças pela Segurança
Social revertem a favor da instituição como uma ajuda para a manutenção
desta instituição. O Ministério da Educação suporta
determinadas despesas como o salário dos professores e o transporte das crianças.
Esta instituição tem várias valências: o CEE, onde se
desenvolve a actividade educativa; o Centro de Emprego Protegido (CEP); a comunidade
terapêutica para a recuperação de toxicodependentes; o lar da
3ª idade para deficientes e Centro de Actividades Ocupacionais (CAO). O ACM
está relacionado com pessoas deficientes à excepção
da unidade terapêutica.
O CEE está especificamente ligado ao ensino de crianças deficientes,
equivalendo ao ensino básico regular. Admite crianças com a idade
escolar dos seis aos dezoito anos de idade, altura em que são encaminhados
para outras valências ou para uma vida profissional.
Normalmente, as crianças são admitidas no CEE por sugestão
de professores do ensino regular, que ao detectarem dificuldades de aprendizagem,
solicitam uma apreciação aos técnicos desta instituição.
Caso sejam admitidas, pede-se o deferimento ao Ministério da Tutela, mais
especificamente à Direcção Geral de Educação
do Centro.
Actualmente esta instituição tem 20 alunos ao encargo de quatro professores
e seis auxiliares pedagógicos. O transporte das crianças começa
a ser feito por volta das sete da manhã, para que se iniciem as actividades
escolares às nove da manhã até às cinco da tarde, de
segunda a sexta-feira. As actividades realizadas por esta instituição
são variadas, pois para além da parte educacional, há também
o desporto, a informática, a parte administrativa e o despiste vocacional.
Este ponto é essencial para as crianças encontrarem a sua linha de
orientação e poderem ser inseridas no mundo do trabalho.
Para uma melhor integração destes alunos nestas actividades é
feita uma divisão em grupos, o mais homogénios possível, para
os inserir nos diversos ateliês de trabalhos manuais. Escolhe-se um tema comum
para todas as áreas facilitando, assim, a aquisição de conhecimentos.
O calendário escolar no CEE é diferente do do ensino regular. Começam
as aulas na primeira semana de Setembro, fazendo apenas interrupção
em Agosto e dois dias no Natal e na Páscoa. Segundo José Maria Simão,
director pedagógico do Centro, é realizado um despiste da capacidade
dos alunos, em cinco ou seis áreas, com o objectivo específico de
os integrar no mercado de trabalho: "Pois chega a uma certa altura em que a
aquisição de conhecimentos académicos estabiliza, não
têm mais capacidade intelectual".
Passam por várias etapas dentro do CEE para adquirirem uma certa autonomia.
Depois vão para o Centro de Emprego Protegido onde os "miúdos",
termo carinhoso utilizado por José Maria Simão, começam a ter
uma formação profissional. "Com as dificuldades que existem na
sociedade em admitir estas crianças no mundo do trabalho", como refere
o director pedagógico, "criámos dentro da própria instituição
um tipo de emprego em que estes alunos se sintam úteis e realizados, como
a jardinagem, trabalho de carpintaria, secretaria, etc".
"Devia haver uma quota nas fábricas para a admissão destes miúdos
que são trabalhadores como qualquer cidadão que, nesta instituição,
cumprem integralmente o seu horário de trabalho e têm o seu vencimento",
salienta, ainda, José Maria Simão.
A política portuguesa actual incentiva à inserção de
alunos com deficiências nas escolas de ensino regular, chamando-lhe escola
inclusiva, para José Simão esta situação apenas cria
"alunos excluídos". Estes alunos não têm capacidades
para se integrarem no ensino regular e não exploram as suas verdadeiras vocações,
sendo arrastados ao longo dos anos escolares até atingirem a maioridade.
"Isto é um erro tremendo", diz José Simão em tom
de revolta questionando: "O que é que um miúdo com trissomia
21 faz numa escola de ensino regular?" e explica: "Uma escola chamada
inclusiva tem de ter certas condições e funcionar segundo certos parâmetros
para poder satisfazer as necessidades dos miúdos".
O CEE possibilita a integração de certos alunos que demonstrem, ao
longo da instrução primária, capacidades para prosseguirem
estudos numa escola de ensino regular."Se não houver mudança
política qualquer dia estas instituições fecham as suas portas.
Se terminassem por não haver miúdos com deficiências era uma
felicidade para todos, agora terminarem por insistirem em ter estes miúdos
no ensino regular!" afirma José Simão indignado, "tem que
haver consciência que o problema dos deficientes não se resolve com
falsas pedagogias". O apoio, não só a nível monetário,
a estas instituições tem um carácter urgente visto que o futuro
das crianças com deficiências tem de ser assegurado, até mesmo
para segurança dos pais. No caso do ACM, os deficientes têm o seu percurso
de vida garantido, pois, desde o CEE passando pelo Centro de Emprego, até
ao lar da terceira idade, são orientados.
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José Maria Simão
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A autonomia dos alunos com deficiências, passa também por actividades
extra-curriculares. O CEE tem a convicção que o intercâmbio
com o meio circundante constitui um aspecto fundamental para o desenvolvimento
social, psicológico e intelectual das crianças.
A interacção com o meio passa pela realização de várias
actividades com outras escolas do concelho, por exemplo, a celebração
do Magusto, do Carnaval. Participam nas festas da cidade da Covilhã, como
os desfiles carnavalescos, datas e feriados importantes.
Tendo em vista o desenvolvimento da autonomia destas crianças no dia-a-dia,
escrevem cartas e há um apoio para aqueles que não sabem ler nem
escrever, metem as cartas nos envelopes e depois de colocado o selo deslocam-se
até aos Correios onde as depositam. Para facilitar a deslocação
em transportes públicos, é-lhes dado a conhecer todo o processo
que põem em prática, por exemplo, nos comboios e nos autocarros.
Deixam as crianças nas estações de comboios ou nas centrais
de camionagem e depois vão busca-las ao destino.
Estas actividades são realizadas não só a nível local
mas também a nível nacional, deslocando-se a eventos como a Expo
98, visitando o Jardim Zoológico e o Aquário Vasco da Gama.
Como muitos dos pais destas crianças têm dificuldades económicas
e não lhes conseguem proporcionar umas férias num sítio diferente,
o CEE angaria fundos para possibilitar momentos de lazer e convívio na
praia, no campo, na serra. Há duas semanas, estas crianças tiveram
a oportunidade de passar o fim de semana num empreendimento em Seia, onde passaram
momentos inesquecíveis. Andaram a cavalo, nadaram na piscina e fizeram
piqueniques.
Liliana Gaspar
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Campeã nacional de ténis de mesa no CEE
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Conversámos com Liliana Gaspar, durante a sua pausa matinal, onde realizava
uma das tarefas diárias junto dos seus colegas. Esta tarefa solicitada
por uma empresa local consistia na fabricação manual de pulseiras
para um festival de música na Alemanha.
Liliana tem 17 anos e está nesta instituição há dez
anos. Esta jovem levanta-se todos os dias antes das sete da manhã na sua
casa em Tortosendo para esperar que chegue o transporte que a leva para o centro.
Devido a dificuldades na aprendizagem, Liliana, começou a frequentar o
ensino especial do CEE, onde desenvolve capacidades como, escrita, informática
e onde pratica a sua actividade favorita, ténis de mesa. É campeã
nacional nesta modalidade, tem estágios nacionais e internacionais, acompanhada
sempre por um treinador. Brevemente vai para um estágio em Vila Nova de
Gaia para prosseguir com os torneios.
A Liliana está a atingir a maioridade e, por isso, já foi discutida
a sua situação futura. A esperança desta instituição
é de a integrar num emprego numa residencial onde a sua mãe trabalha.
Caso isto não seja possível, vai ter formação profissional
no Centro de Emprego Protegido.
Há sensivelmente três anos houve um incêndio nas instalações
deste centro obrigando-os a instalarem-se no antigo Hospital da Covilhã
onde permaneceram durante dois anos. Actualmente encontram-se no antigo Lar de
S. José onde fizeram algumas adaptações para poderem trabalhar.
Já têm um projecto com a Câmara Municipal da Covilhã
para fazer um novo centro. "O alargamento do espaço torna-se vital
para o desenvolvimento das actividades nos ateliês" conclui José
Maria Simão.
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