Oportunidade de descoberta do território nacional
Descoberta proto-histórica ajuda a explicar o mito lusitano
Um castro sobranceiro à cidade do Fundão,
no Monte de S.Brás, com mais de três mil anos, foi a descoberta mais
recente de uma equipa de investigadores liderada por Armando Coelho, da Universidade
do Porto.
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Carlos Borges
NC / Urbi et Orbi
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Os técnicos da autarquia localizaram na Serra da Gardunha, mais precisamente
no Monte de São Brás, um Castro proto-histórico que dada
a sua centralidade e localização privilegiada sobre a Cova da Beira
assume grande importância para o conhecimento da sociedade pré-romana
da região. O projecto de investigação foi apresentado na
passada terça-feira, 22, na Biblioteca Municipal, com a presença
de Manuel Frexe, presidente da Câmara do Fundão. Segundo o autarca
trata-se de um povoado chave para se entender o povoamento proto-histórico
da área do concelho do Fundão. Frexe Lembra que "a identidade
cultural portuguesa sempre se nutriu do mundo lusitano como componente da nossa
origem colectiva. Mas o conhecimento colectivo efectivo desse conjunto de povos
indo-europeu é ainda muito escasso". É nesta perspectiva que
a edilidade fundanense inicia a reestruturação do Museu Arqueológico
Municipal que vai albergar ainda o futuro Centro de Estudos Lusitanos (CEL). Uma
unidade de âmbito europeu, com o propósito de "dar a conhecer
melhor esta realidade, que é riquíssima e importantíssima
para o descortinar das origens e da história fundanense", conclui.
O presidente da Câmara adianta ainda que o projecto para o efeito já
se encontra na fase final e que brevemente será lançado a concurso.
Manuel Frexes considera a descoberta de São Brás "um acontecimento
importante que coloca o Fundão na Rota dos estudos sobre a ocupação
lusitana no território nacional". É assim que o autarca faz
notar que se irá dar seguimento ao passo subsequente, com a classificação
do sítio e, simultaneamente com o seu conhecimento aprofundado, iniciando
as escavações arqueológicas. Instado a pronunciar-se sobre
a possibilidade da Câmara constituir uma empresa municipal de turismo e
aproveitar essas riquezas arqueológicas como produto turístico,
Frexes sublinha que "qualquer entidade municipal que ignorasse esta riqueza
estaria a prestar um mau serviço". Por isso a "grande aposta
da autarquia visa a defesa da cultura e, sobretudo do património arqueológico",
salienta. O edil não descarta esta possibilidade, mas deixa clara, que
a haver uma empresa vocacionada para esta área, seria uma fundação
que trabalhasse em estreita sintonia com a Câmara.
Mais-valia para os arqueólogos
A descoberta conta com apoio de uma equipa interdisciplinar
chefiada por Armando Coelho, da Universidade do Porto, que depois de ter sido
contactado pelos técnicos da autarquia para se pronunciar sobre a importância
do povoado, confirmou-a e aceitou colaborar com a Câmara, para levar avante
esta investigação. Para o investigador, um trabalho dessa envergadura
só tem sentido "quando o interrogamos e tentamos lê-lo".
O Castro de São Brás suscitou o interesse dos investigadores não
só pela localização do espaço arqueológico,
como também pela oportunidade para uma leitura do território nacional
sobre a problemática da lusitanidade. "O problema dos lusitanos, que
se têm, por motivos tradicionais, centrado na Serra da Estrela, do ponto
de vista da história clássica não tem essa incidência",
afirma o professor. Coelho argumenta com base em tese clássica que os lusitanos
vão do Tejo ao Mar Cantábrico e aponta as referências linguísticas,
os testemunhos epigráficos, as divindades, o nome de povos e de pessoas
como testemunhas de "uma comunidade que vem sendo chamada desde os anos 60,
de Comunidade Lusitano-galaico". Deste modo Armando Coelho acredita que a
escavação arqueológica de um sítio destes pode contribuir
para uma melhor contextualização da problemática dos povos
lusitanos. Daí que esta questão ultrapassa as fronteiras locais,
porque a lusitaneidade, sobretudo do ponto de vista étnico - linguístico,
"tem de ter um quadro europeu muito mais vasto, ou até indo-europeu".
Relativamente a localização do CEL, o investigador entende que "colocar
um centro destes em Lisboa não faz sentido. É preciso fazer do local
o coração de uma unidade que pretenda valorizar a memória
e comunicação de uma entidade que se considera ter passado por esta
zona". No entendimento do professor o trabalho de São Brás
"pode ser uma pedra essencial para se descobrir o processo das raízes
lusitanas. Pode ser que tenhamos um certo orgulho de sermos portugueses porque
também somos lusitanos", conclui.
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Presença romana no monte de S.Brás
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Na zona da Ribeira de Meimoa, no concelho do Fundão, ao longo
de cerca de 40 quilómetros quadrado foram encontrados 70
sítios romanos. "Isso dá para perceber a densidade
da ocupação romana na região", sublinha
Pedro Carvalho da Universidade de Coimbra, que está a investigar
esses vestígios do povo romano, coadjuvado por um grupo de
estudantes daquela instituição. De igual modo, na
Quinta do Ouro, numa das vertentes do monte de S.Brás, foram
encontrados indícios de povoamento romano: materiais de construção,
elementos de moagem, bordos de cerâmica de armazenamento e
pesos de tear, fazem parte do leque de vestígios. Segundo
os especialistas, o que não se sabe, é se terá
havido alguma relação entre o povoado proto-histórico
e o local.
Uma outra descoberta importante, que terá sido levado por
esta equipa foi um povoado que "tem a particularidade de ficar
entre os limites dos concelhos do Fundão e da Covilhã
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