"A mina está morta". É
esta a resposta de Xico Moleiro, alcunha de Francisco Narciso Camba, quando questionado
sobre o futuro das Minas da Panasqueira. Grande conhecedor da vida mineira, desde
1987 que está reformado, mas o volfrâmio corre-lhe nas veias, tal como
o cheiro dos vapores, as recordações das lutas por melhores condições
de trabalho, os 20 escudos que ganhava por dia. As mazelas também ficaram
e Xico Moleiro atribui a sua surdez ao trabalho que durante 20 anos o manteve debaixo
da terra.
A desilusão estampada no rosto do Xico Moleiro reflecte a situação
actual das Minas da Panasqueira. Apesar de a lamentarem, o conformismo pela "morte
anunciada" da exploração é visível na maioria dos
presentes no debate sobre "A actividade mineira de hoje e o seu futuro".
O painel faz parte do 1º Encontro das Minas "A Mina é nossa",
que teve lugar nos dias 11, 12 e 13 em São Jorge da Beira. Para António
Matias, do Sindicato Mineiro, "a mina não tem futuro". O sindicalista
apresenta inclusivamente uma data para o encerramento: Março do ano que vem.
Isto porque, explica o também mineiro, "há uma outra empresa
que agora detém 51 por cento e que quer implementar um projecto. Mas tem
que o fazer o mais depressa possível, de preferência o mais tardar
depois do Verão".
Com uma concorrência chinesa cada vez mais feroz, a exploração
de volfrâmio nas Minas da Panasqueira parece ter o destino traçado.
As vozes contra o facto da União Europeia preferir comprar o minério
à China levantam-se. Mas os reflexos na empresa que tem a mina arrendada
desde 1940, a Beralt Tin, já são mais que muitos. As dificuldades
devido à baixa cotação do volfrâmio nos mercados internacionais
têm feito vítimas, os trabalhadores. Que dos milhares que a Mina já
teve, neste momento não ultrapassam os 200. Mas a silicose, os acidentes
de trabalho, a falta de segurança e os baixos salários fazem igualmente
parte da lista de razões para a continuada diminuição de mineiros
e potenciais interessados na profissão. O Couto Mineiro também perde.
E não é pouco. A procura de melhores condições de vida
tem levado à partida de muitos. E à perda de outros tantos. Quem hoje
fica em muitas famílias mineiras são as viúvas, infelizes e
rancorosas com a mina, cuja vida os maridos lhe dedicaram e depois "roubada"
por ela.
Memorial em honra dos mineiros
A desilusão não afecta somente aqueles que vêm agora o futuro
da mina comprometido. Ela também marca Daniel Matias, o organizador do
1º Encontro das Minas. Com o objectivo de juntar habitantes, mineiros, entidades
locais e responsáveis da Beralt Tin a debater o passado, presente e especialmente
o futuro das Minas, a iniciativa acabou por não corresponder às
expectativas. "Tenho que ser franco, a adesão foi muito fraca",
confessa o jovem de ascendência portuguesa, mas radicado em França.
No entanto, Daniel Matias deposita esperanças nos poucos presentes, por
forma a que possam "fazer alguma coisa e avançarem para uma luta para
defenderem a sua terra".
Daniel Matias revela que o que o levou a organizar este 1º Encontro se prende
com o facto de "não haver pressão nenhuma quanto ao futuro
da mina". "Pensei que ainda houvesse cinco, seis anos de exploração,
mas pelo que foi aqui dito, quase nem um ano . Por isso, acho que foi o momento
certo para realizar este evento, já que para o ano a mina pode estar encerrada",
esclarece. Uma situação que pode ser contrariada tomando o exemplo
de um grupo de mineiros ingleses. É que, em 1994, o governo inglês
decretou o fecho de uma exploração de carvão no País
de Gales. Com o dinheiro das indemnizações, os trabalhadores compraram
a mina, actualmente uma das mais rentáveis de Inglaterra. Porém,
a ideia parece não ter grande acolhimento. "Era capaz de ter resultado,
mas teria que haver uma grande mudança de mentalidade", refere António
Matias, do Sindicato Mineiro.
Apesar do objectivo ter fracassado, Daniel Matias não desarma. Para breve
está previsto a subscrição pública de todo o tipo
de apoios por forma a construir-se um memorial em honra daqueles que deram a vida
pela mina. A tarefa, que poderá estar concluída daqui a dois, três
anos, reconhece Daniel, não vai ser fácil, porque foram milhares
aqueles que morreram. "Há monumentos de guerra, memoriais em quase
todo o lado, mas não existe nenhum na mina. Uma cruz no cemitério
não basta", advoga.
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