A fala do índio
De Teri C. McLuhan
"As
vastas e abertas planícies, as belas colinas e as águas que em meandros
complicados serpenteiam, não eram, aos nossosolhos, "selvagens".
Só o homem branco via a natureza "selvagem", e só para ele
estava a terra "infestada" de animais "selvagens" e de gentes
"selvagens".
Para nós ela era mansa. A terra era caritativa, e sentíamo-nos rodeados
pelas bênçãos do Grande Mistério. Só se tornou para
nós hostil com a chegada do homem peludo vindo do Leste, que nos oprime, a
nós e às nossas famílias que tanto amamos, com injustiças
insanas e brutais.
Foi quando os animais da floresta se puseram em fuga, à medida que ele se aproximava,
que para nós começou o "Oeste selvagem".
Chefe Luther Standing Bear, do clã oglala dos Sioux
Por Ana Maria Fonseca
Chegado o Verão, a destruição começa. De norte a sul do
País lavram incêndios que destroem a pouco e pouco um património
indispensável à nossa sobrevivência, a floresta. A cada ano, milhares
de hectares são destruídos, a grande maioria por mão criminosa.
Com a floresta, também a fauna vai desaparecendo.
No íntimo, assistimos impávidos à destruição da
natureza pela mão criminosa do Homem, que não olha a meios para consolidar
a sua ganância.
Ao mesmo tipo de destruição assistimos há anos, mas, neste caso,
de homem contra homem. Do "homem civilizado" contra o índio.
"A fala do índio" mostra uma só uma versão da história,
a versão dos índios. Mas o outro lado conhecemos nós bem, faz
parte da história. Sobre a destruição das suas tribos e património
e sobre a estranheza que os hábitos do homem civilizado lhes trazem.
É, por isso, um testemunho belíssimo, por vezes emocionado e, por isso,
comovente, que nos ajuda a abrir os olhos para uma realidade que não cessa,
em todas as partes do mundo. Como se o Homem, para seu conforto, seja impulsionado
a destruir tudo o que à sua volta é belo, puro e harmonioso.
A par, esta obra traz testemunhos seleccionados de índios norte-americanos,
constituindo uma resenha histórica sobre a sua cultura e valores, fazendo parte
do património oral e escrito desta população.
Aqui podemos ver quão fácil é anular a identidade de um povo,
pela força. Felizmente, restam livros assim para recordarmos que uma forma
de viver em harmonia com a natureza (foi?) é possível.
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